domingo, 11 de março de 2012

Rio de Janeiro, 10 de março de 2012.


Ontem fui a um show, e chorei-rindo por quase 2 horas, acho...
Dormi feliz.
Cansada, mas feliz.
Pouco, mas feliz.

Sonhei com um vestido que se desmanchava sozinho... Como um tricô sem o último ponto. Eram dois vestidos. Lindos, mas lindos de doer. Eu apenas pensei, mas era como se eu perguntasse para alguém: - posso vestir?
A resposta, que não era falada, era uma aceitação, uma concordância, uma anuência, veio por todos os poros. Peguei um dos vestidos. Liiiindo! Ele estava inteiro, mas quando eu o vesti a trama começou a se soltar, e aquele fio grosso escorrendo pelas minhas pernas virava um emaranhado sobre o chão, resumidamente... Emocionante!

Poucas vezes lembro o que sonhei tendo dormido pouco...

Acordei achando que ainda era sonho... Meio que acordei, meio que queria continuar dormindo. Parecia continuar sonhando, mas o sonho era outro, e me agarrei!!! Mal sabendo em que.

Acordei com uma sensação de ressaca estranha...
Não era uma ressaca de bebida, não era uma ressaca familiar ou conhecida. Não era uma ressaca como se espera que ela seja.
Senti-me esquisita. Senti-me errada e errônea. Senti-me como há tempos não me sentia, e isso não estava de todo confortável....
Incomodou. Senti-me como se incomodasse os outros. Senti-me esquisita sim e, ao mesmo tempo, pela metade. Não me entreguei (de novo!) como o faço... Não me entreguei como gostaria de fazê-lo (mas não vou admitir nunca...), não me entreguei com tudo que tenho e posso e faço (e quero... mas isso também não vou admitir nuuuunca...) ...
Ao mesmo tempo, também me senti feliz.
Um misto de estranhamento com satisfação. Uma ressaca de um choro, talvez. Uma ressaca de uma realização e satisfação, talvez. Um susto e uma sensação de ser pega de surpresa que só confundem mais as coisas....

Acordei de um choro.
Acordei de um sonho.
Acordei em um susto.

Andei. Zanzei. Andei para lá e para cá... Enfiei a cara na água, como se fosse uma pequena bica em algum riacho no meio do mato.
Já estava clareando e a lua continuava enooorme, brilhando como um holofote. Iluminava a casa como se fosse o sol a raiar. E eu ainda tentando entender tanta coisa...
Busquei trazer um pingo de razão e coerência.
Busquei entender o que estava acontecendo.

Zonza, desnorteada, confusa...

O show, que tanto me fez chorar, também fez mexer em arquivos de backup de todos os arquivos passados, de tantos fatos, de tantas emoções, de tantas histórias.
O sonho, que eu ainda me esforçava em lembrar, parecia tão real, e tão revelador e, ao mesmo tempo, tão confuso.
O susto... Aaaah, o susto! Apesar de eu adorar surpresas, e adorar ser pega de surpresa, e adorar a imprevisibilidade das coisas, assustou mais do que deveria. Um momento que eu chamo aqui de “surra em cachorro morto”... Quando você não consegue nem ter reação, não consegue nem entender bem o que está acontecendo e nem ter nenhum tipo de atitude consciente, sabe? Assustou e chocou. Assustou e (me) travou.... um bloqueio incômodo, um embaraço. Um peso que eu não queria carregar.

Acendi a luz. Acendi um cigarro. Liguei o rádio.

E quando eu falo que “o cosmos se comunica e se manifesta na ordem randômica das músicas” parece uma piada... (uma piada de gosto duvidoso e de uma ironia divina tão sagaz quanto safada). Parece uma mentira esdrúxula com cheiro de laquê, uma trilha demodê de novela dos anos 80...

Por lá estava ele, Rod Stewart e “Da Ya Think I'm Sexy”...

Fazer o quê?

Continuar com um gosto seco na alma e um peito apertado no meio desta e da vida em si no dia que começava? E a mente inquieta tentando acondicionar idéias coerentemente? Continuar “tentando entender”, “tentando entender” e “tentando entender” tantas coisas que não fazem o menor sentido?

Eu estava brava (muito brava) comigo mesma.
Ao mesmo eu também queria me abraçar.
Eu estava na ressaca com gosto de lágrimas e risos.
E também estava feliz, e eu também estava adversa...
Eu queria estar ali e ao mesmo eu queria evitar que o estivesse.

Eu, que nem de relance, sentia-me sexy, ia fazer o quê?
Fazer o que mesmo?
Fiz diferente, sem nem perceber ou atinar no momento. E de repente me vi no meio da casa, com os bracinhos para cima e os quadris de um lado para o outro, e dançava e dançava e dançava com aquele “tarãrã-rãrã, tarãrã-rãrã” de tecladinho-disco-da-calça pantalona...

E tanta alegria desse momento-desapego se confundia mais e mais com tanta aflição e agonia concentradas.

E assim começou o sábado por aqui.




... nessa casa se ouve John Dee Holeman


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