sábado, 29 de novembro de 2008

imagens

Inaugura-se já a primeira edição da “imagem da semana” (...). hunnnmm, será que vai funcionar?
Acho que sim, talvez não “toda semana”... Enfim, resolvi mesmo ilustrar visualmente o blógue.

Recebi a doce sugestão do tema de mr. Hermida-de-Cooperfield, também já ouvira a doce Ticianne falando “bota essas imagens no blog” em algum outro contexto ou momento, e ontem ainda ouvi algo do tipo “muito texto, faltam imagens”...

É mesmo... logo eu, que sou “tão visual”, fico aqui só de letras e palavras...

Há algum tempo tenho críticas estéticas a essa casinha... acho o layout do blógue meio chinfrim..., mas não sei fazer melhor agora, nem me disponho a tomar algum tempo para aprender de imediato. Sinto falta também do “visual”, mas sei que sou mesmo contida em “expor o que é meu”.

Já pensei em botar boas imagens do (farto) “acervo DR”, que é mesmo um banco de boas coisas por aí... Mas... sempre tão displicente... tenho centenas de boas imagens quase sempre sem um pingo de ‘cuidado autoral’, não sei mais de onde salvei, não tem créditos de onde vêm, links ou menções precisas.

Elas simplesmente moram em “meus arquivos”, sob denominações ou critérios que eu organizo (pelo menos isso eu sei...), em diretórios com nomes esdrúxulos do tipo “para tatuagem”, “paredes”, “coisas interessantes”... Esse banquinho é mesmo rico visualmente, atualizado, com mil referências e fontes de inspiração, e tem mesmo “minha cara”, e nem é o único; divide espaço com os acervos temáticos de boas coisas que se vê por aí... “móveis”, “espaços”, “costuras”, e por aí vai... Fora esses ainda tem a quantidade absurda de papéis que brota diariamente nessa casa... desenhos, rabiscos, fotos. Recentemente até a “mulher-prancheta”, famosa personagem de histórias em quadrinhos que só eu conheço, ressuscitou. E tem ilustrado as paredes e pastas desta casa em novas aventuras e peripécias. Tenho andado com a câmera em punho, feito novas fotos a cada dia, enfim é mesmo um mundo de imagens...

Sempre penso na máxima “a vida é feita de sons e fúria”, mas... minha vida é mesmo feita de sons, alguma fúria e muuuuitas imagens...

Aqui em casa tenho um varal, por onde passam e revezam-se as “imagens da semana”... hoje olho para ele e estão lá: 2 postais com xícaras de café, um com uma mancha de tinta que ficou linda, um bilhete de meu pai (que veio junto a uma garrafa de vinho), um galho de louro de cabeça para baixo, um flyer do multiplicidade, Keith Richards todo enrugadinho ao lado de um Pablo Picasso noviiinho, com um olhar 43 que parece estar me vigiando, algumas estrelinhas de arame e uns pregadores ainda sem nada pendurado... bem ao lado tem um encarte do museu vitra, que eu vou folheando e mudando as páginas expostas a cada vez. Isso tudo só no mesmo canto... fora o que está colado por aí...

É... a casa de cá é bem ilustradinha...

E essa casa virtual não a reflete assim tão bem...
Então...

Imagem da semana (número 1)...

Ai, ai... os padrões... Já quebrei.... A “imagem da semana” da vez na verdade serão duas.
Como hoje é meu aniversário, e apesar de eu não dar muito crédito ou mesmo acreditar em calendários, marca alguns anos de minha presença neste planeta.
Busco comemorar isso todos os dias, mas a foto é da primeira vez que eu o fiz “oficialmente” – aniversário de 1 ano.
 Imagem da semana (número 2)...
É meu “descanso de tela” já há algum tempo... é tão boa, tão boa, que tenho dificuldades em trocá-la... acho que sou capaz de listar 237 motivos e razões para ter curtido tanto. Essa é mesmo da série “é a minha cara”...Para tentar me redimir das “citações sem autoria”, essa pelo menos eu sei dar os devidos créditos.. é de Vincent Dixon, autor de boas campanhas e anúncios que tem por aí, pai de 4 filhos, mora em Nova Iorque. Arrasou, hein cara!... nessa casa se ouve Nirvana.




PS. Sobre a foto do primeiro aniversário...

Eu me perguntava (há anos....) "quem será que bateu essa foto?"

"que olhar concentrado, meio curioso... quase falando... será que eu olhava para a câmera ou para o fotógrafo?"

"mas o que será que eu estava pensando que acontecia ali?"

Descobri hoje quem fez a foto!!!!

Dando os créditos ao fotógrafo: fotografia Otávio Rodrigues.

Que disse ainda ter feito umas 10 fotos da prezada senhorita na ocasião. Que era o único a registrar tamanha emoção das festividades. Algumas fotos eu andava no carrinho (não no belo fusquinha ali de fundo, mas sentadinha no carrinho de transportar bebês), outras eu estava no chão, por aí... como essa que se apresenta.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

greenaway

Semana passada vi a apresentação do Peter Greenaway e me emocionei para chuchu...
Talvez eu esteja sensível demais esses dias... Talvez eu filosofe demais e determinadas coisas no mundo me emocionam... Talvez nem nada disso, mas sei que eu até chorei...
Acho que fui uma das poucas pessoas que realmente gostou do que viu....

Enfim, essa mentezinha inquieta aqui, como é de costume, fez 1 milhão 902 associações diferentes e pensou outro tanto milhão de coisas e ficou toda eufórica com aquele senhorzinho ali...

É que eu ando (...), ou melhor... acho que eu sou, mas ando cada vez mais curiosa e instigada com o tempo... aahhhh, o tempo....

Será que é porque a gente vai vendo e vivendo o tempo passar e passa a se questionar mais e mais sobre ele?

Mas o tempo... essa unidade arbitrária que eu realmente não sou capaz de definir, muito menos de entender... mas que tanto cutuca, inquieta, instiga.

Pois bem, mr. Greenaway me deu uma pequena lição sobre o tema. Em mil variações, aplicações e naturezas distintas.

Uma das coisas que mais me fascina no cinema é a capacidade “de romper com limites do tempo”... a maestria das linguagens e narrativas de seqüências temporais quebradas, invertidas, subentendidas... (e tudo isso então, quando (bem) amarrado a um bom e cativante enredo, a um visual realmente artístico e caprichado, uma boa trilha sonora entre algumas outras qualidades, dá um programão! Desses de dar gosto de assistir, de querer projetar na parede de casa de forma ininterrupta...). Bom, eu realmente gosto de filmes, apesar de ter assistido muito pouco recentemente. Estou sem TV desde março (e sim! a gente sobrevive!), então já faz um tempo que não me “deslumbro assistindo uma tela eletrônica”...

Mas voltando ao “quesito rupturas temporais” que o cinema magicamente me comove... E ao bom velhinho que me fez chorar... a apresentação do tiozinho também foi um programão!

O visual, artístico e caprichado? As imagens eram mesmos fantásticas! Fotografia impecável, lindo, lindo! Algumas tão bonitas que dava vontade de ‘congelar’ e olhar por dias, com a certeza de que a cada momento sairiam novas informações e interpretações dali...
A trilha sonora? Apesar do DJ de plantão, confesso que achei bem mais ou menos, mais para menos.

Agora, o enredo...

Uhhhhh (e eu achava que eu era louca...)... O senhor de cabelos brancos brinca com o tempo como bolinhas de malabares flutuantes de mão à mão.

Seqüência? Coerência? Prudência?
Para quê?

Ele vai além, vai sobre. Faz jogos de ordenamentos, justaposições, montagens inquietas e tão vibrantes como o tempo breve de quem ali assiste...

Bom, alguns não acharam assim ‘tão breve’... ouvi queixas sobre a demora, a redundância, sobre ter sido uma apresentação ‘cansativa’...

Mas... Será que isso foi o que mais ‘tocou’ os que ali estavam? O tempo que permaneceram sentadinhos no teatro?

Será que todos os tempos que o jovem senhor nos mostrou não foram muito mais além, não falaram de forma mais simbólica sobre mil relações do mundo, inclusive as do tempo? Tempo este que nos deixou ali sentadinhos por “tanto” tempo?
Brincar com uma seqüência repetitiva de determinada coisa...
Como fazemos isso cotidianamente? Como fazemos isso contemporaneamente?

Fazer cenas e seqüências tão inconstantes como a própria percepção (que temos) do tempo...
Maestro. De tempos e imagens.
Que tempo?
Seqüência causal? Ordenamento? Começo, meio e fim?
Para quem e de quem? Só o ‘por quem’ estava ali de alguma forma...

Tempo onde? No relógio? Em que fuso-horário? Estamos em um ‘tempo’ em que tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares... barreiras já foram transpostas nesse sentido.

E as imagens... tão cambaleantes quanto saltitantes. Uma profusão de informações tão confusa quanto estimulante. Delícia!

Alguém esperava pelo fim da história?
Que história? Se a cada informação que recebemos atribuímos nossas próprias interpretações pessoais, tão subjetivas e individuais? Ahhh, história mastigada, tempos e espaços pré-definidos. Precisa? Ou somos cada qual capazes naturalmente de “dar nosso sentido” àquilo que vemos e recebemos?

Seqüências alteradas são mesmo mágicas nesse sentido... a mente projeta!!! Cada um “vê” e/ ou “entende” independente de ter sido ou não “mostrado”.
Não é fantástico? Delicioso e emocionante?

Mr. Greenaway, críticas quaisquer á parte, fez mesmo um show!
Mas... fez um filme que não é inteligível...
Não? Ou cada um, cansado ou não pelo tempo ali sentado, não compreendeu alguma coisa de alguma forma?

E fez ao vivo!!! (mais um ponto que me emociona realmente... )

Ok. Ele não inventou roda nenhuma... diz a lenda que (há “algum tempo” atrás...) os montadores de Eisenstein já haviam descoberto a assombrosa propriedade de combinar pedaços de filmes distintos em “outras” seqüências transformando a história em outro conceito ou enredo. Isso do (muito) pouco que sei, fora outras inúmeras criações, invenções e devaneios que devem ter havido por aí...
Mas... ele fez para a gente ver, na hora, aparentemente sem cortes prévios e maiores precedentes ensaiados, sujeito a qualquer tipo de fator inesperado ou imprevisto.

E mais... emoção número 3... a cabecinha alva e iluminada (que já deve estar beirando seus 70 anos... ou até seus 70 filmes...), clareava a todos falando do “cinema do futuro”... Aos 70 falando do futuro? Fazendo o futuro?

Ahhh, o tempo.... que tanto açoita quanto emociona...

Eu, que às vezes me sinto velha, aprendendo mais uma.

Eu, que às vezes me sinto desatualizada, tecnologicamente desinformada, aprendendo mais duas.

Eu, que naquela noite fui dormir emocionada, sonhei com Tulse Luper!!!! (que, para mim, na verdade era aquela mocinha de vestido branco....). E uma voz grave e ríspida falando como se me sacudisse, como se tentasse me despertar para um óbvio que só eu não via... “Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo”...
Acordei. Levantei. Zanzei pela casa três vezes, às três da manhã...

Eu, que às vezes durmo como se o mundo pudesse derreter e eu continuaria dormindo, acordei aflita com a “revelação”...

Mr. Greenaway, foi você assoprando e assombrando meu ouvidinho? Anyway, obrigada por encher meu mundo e minha alma com tantas emoções. A você e a todos que de alguma forma contribuiram com essa experiência única e transformadora, colaborando nas minhas formas de representar o mundo...

Eu, aprendendo mais 1000.

... nessa casa se ouve Pixies

domingo, 23 de novembro de 2008

Dani através do espelho...

Tenho a impressão que espantei meus fiéis leitores... tinha a sensação de que é tudo tão mais ou menos que nem minha mãe seria leitora desse universo particular... Bom, descobri que pelo menos ela lê (ou já leu alguma vez..) as aventuras do estranho mundo de dani...

Sei que eu andei aí com esses ‘poeminhas de merda’ que eu entendo perfeitamente que tenha esvaziado a casa...

Hoje eu queria cortar o cabelo. Mas queria cortar à navalha...

Navalha não é ferramenta que eu tenha... aliás, navalha é mesmo algo muito violento, realmente não é apetrecho doméstico, ou ferramenta-de-mocinha.
É objeto cirúrgico, é rude e intenso, e ao mesmo tempo, delicado demais para mim...

Fora os objetos “cotidianos” – tesoura, faca e estilete – o máximo que eu consigo ter de objeto bizarro ou grotesco que parece que “saiu-de-um-filme-de-cronenberg” é um curvex...

Ahhh, tenho também uns bisturis. Uso para fazer maquetes.

Já cortei o cabelo com todos eles. Quer dizer, exceto com o curvex.... que não serve para isso mesmo.

Mas então... tesoura, faca e estilete...

São os mesmos de sempre... sempre corto o cabelo com eles...

Queria variar, queria cortar à navalha.

No meio do banho, xampu para um lado, cabelo para o outro e deu vontade de cortar ali mesmo... tamanha euforia e uma gana inquietante de passar o fio nos fios.
Fiquei com medo de pegar o estilete. Precisa mesmo de muita perícia para passar o estilete embaixo do chuveiro.

Água escorrendo pelas costas e eu pensando se talvez devesse ter um espelho no box... Imagina... Isso sim é grotesco! Meio ridículo, meio nonsense...

Onde já se viu? Um espelho no chuveiro?

Mas daria para cortar o cabelo no banho...

Ora, Daniela... Muito de vez em quando você vai ter vontade de cortar o cabelo no banho... Fora o desperdício, em tempos de guerra... tanta água caindo e você aí com o estilete na mão?
E os riscos de acidente? Cadê as normas de segurança?

Eu, freqüentemente, escorrego no banho... quando ensabôo os pés então é batata!

E olha que eu lavo um pé de cada vez! Ainda assim quase sempre escorrego.

E como eu morro de medo de cair no banho, prefiro muitas vezes tomar banho sentada. Na banheira. Principalmente quando estou tão empolgada ou eufórica assim...

O espelho no Box... ridículo! Eu não mereço... ter que tomar banho olhando para minha cara... espelhos nessa casa não são para refletir pessoas. São para refletir coisas, cantos, cores, objetos.

Passei a mão na tesoura que eu alcançava e... (já que eu não estou vendo nada mesmo...) vou cortar só três vezes! A primeira faz tchan, a segunda faz tchun e tchan- tchan- tchan- tchan.....
O cabelo escorre com a água. A água lava e leva.... cabelos, fios, pelos...apelos, exageros e desesperos.

Não fosse pelo “barulho de acidente” que ecoou pela casa, eu teria saído do banho e ido direto atrás do estilete.

O barulho?
Eu havia pendurado tantas coisas por aí... qual delas será que caiu?
Nada grave... uns pedaços de mural caíram... é que o mural é “em pedaços”. Um mosaico de pequenos murais formando um único maior.
Alguns caíram... cansaram, quiseram ir embora ou para outro lugar, ou simplesmente não agüentaram o peso do que já estava pendurado sobre eles?

Lá estou eu, enrolada na toalha, catando pedaços de mural em pedaços e só pensando “onde cáspita está o estilete”...

Resolvi então, na falta da navalha, que dessa vez iria cortar o cabelo “só a estilete”.

Mas... eu já tinha dado três tesouradas durante o banho...

Bom, vou fazer um corte novo e diferente então.

Estilete em mãos, espelho na minha frente “e lá vamos nós”...

Tenho medo (nossa... quantos medos...) de cortar o cabelo com a lâmina voltada em minha direção, com o fio da lâmina voltado para mim...

( * ) crianças!!!! Não tentem fazer isso em casa!!! A cipa informa que só a tia Dani pode tamanhas peripécias!!!!!

Aliás...
crianças, essa história é forte, contém cenas íntimas, de mundos psicológicos extremamente particulares. As coisas mais intensas e mais temíveis (apesar de ao mesmo tempo também as mais satisfatórias...) que se pode ter.
O contato (e o convívio) consigo mesmo... cenas quase sempre censuradas, não recomendadas para menores de 30 anos. Então, se você não tiver estômago para tal, mude de canal, veja o blog do lelê, ok?

Faço então o contrário. Vou sempre com a lâmina “do corpo para fora”... é muito doido! Porque eu aponto, rasgo e rompo em direção a mim mesma, refletida no espelho...

Isso sim é bizarro... mais do que “ferramenta-que-saiu-de-um-filme-de-cronenberg”...

Mas... o mundo é bizarro!

Será que eu sou assim tão anormal?

Acho que não. Não sou bizarra, nem muito esquisita.

Sou só única, exclusiva, cheia de peculiaridades, como todo mundo poderia ser.
Só que eu me olho no espelho com uma lâmina na mão, apontada e afiada à minha direção e... corto o cabelo!

Não gosto de me olhar no espelho. Aí sim é que me acho esquisita e bizarra... Não gosto, não.
Para fazermos as pazes, quando me olho no espelho tento fazer um ‘contato visual’ tão profundo que seja mesmo possível ver através dele.
Entrar na alma. Olhar para dentro. Olhar para si.
Sem ser vendo “só a casca”. Essa sim é a esquisita...

Certa vez quebrei um espelho inteiro. À marteladas... peguei todos os caquinhos e fiz uma mesa. Uso muito mais nobre.
Agora me olho no espelho e já não tenho vontade de quebrá-lo...

Semana passada eu me desenhei pelos espelhos da casa... sobre a imagem refletida, passei lápis, caneta e canetinha... parecia um carinho. Fiz o primeiro desenho meio ‘sem querer’ ou sem nem perceber; me empolguei e saí desenhando em todos eles.

Eu desenho em mim mesma nos finais de semana, em casa. Rabisco o corpo quase todo.

A tatuagem da perna nasceu assim... de tanto eu rabiscar tanto a mesma coisa no mesmo lugar resolvi tatuar para não sair mais durante o banho...

Agora estou com vontade de tatuar as costas, mas acho que pelo motivo contrário... não consigo desenhar nas minhas costas... e olha que eu tenho tentado muito... não alcanço meeeesmo, nem com a ajuda do (agora amigo) espelho...

Rabisquei o corpo inteiro até quase não caber mais. Quando olhei no espelho comecei a rabiscá-lo também. Era o espelho mas também era eu. A alegria era tanta que eu fui em todos os espelhos da casa (nem são tantos assim; a casa, muito menos... também nem é tão grande assim...), mas saí por todos eles com canetinhas em punho... em cada espelho um rabisco sobre mim. Literalmente. Fisicamente.

Deveria fotografar? Às vezes faço isso com a pele rabiscada... fotografo para ‘lembrar’ depois...
Mas... tão íntimo, tão pessoal... sou eu dentro de mim, não dá para fotografar assim simplesmente...

Então, fiz um ‘carimbo’ de alguns deles. Tirei a impressão com papéis no espelho. Um papel entre mim e a imagem, entre eu e o reflexo desenhado. Saíram algumas texturas, algumas cores, coisas que só eu mesma vou saber depois ao vê-las...
Depois lavei. Como me lavo.... Deixando a tinta escorrer...

Espelho. Cabelo. Desenho.

Esse fimdê eu não desenhei em mim... mas cortei o cabelo.



... nessa casa se ouve Radiohead

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

casa...

A casa é esquisita, a dona também...
A casa em reforma, se transforma, se cria e se recria. Eu também...
Quando chego em casa tenho aquela sensação de estar em meu espaço.
Quando chego em mim mesma, tenho a sensação de estar em casa...


A casa é um acaso... A casa é um abraço.
Um laço, um traço, a casa que faço.
Laço e nó.
A casa que vivo só.

Casa.
Caso.
Descaso.

Casa extravasa,
Eu, asa...

Casa casual. Casa causal.
A casa e a causa.
Pausa.

À casinha. Sozinha.

Casa sólida, casa solidão.
Casa chão. Carreira solo. A casa que moro.
Casa só, sem dó. Casa em pó.

Casa avesso, casa em verso.
Casa posso, casa passo. Caso nosso.

Caso passa.
Caso raso, casa passa.

E se acaso, caso case
Cada casa, caso fale.

E se à casa, caso falhe
Cada caso, crasso ame

Casa cravo, casa trago.
Caso estrago.

E se à casa, caso crase
Casa base, caso fase.

Em casa, casa frase
Cada caso, caso arrase
Casa caso, casa base

E se acaso, a casa traça
Cada amasso, caso asso
Casa faço,
Casa aço.

Casa casta, casa basta.


Caso comigo em minha casa.



... nessa casa se ouve Ramones.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

o vinho e a rolha...

Trabalho terminado, roupa lavada, casa (semi...) arrumada, resolvi tomar um vinho.

Comemoração. Celebração.

Comprei um (bom) vinho (português!!!!) hoje. E um bolinho, daqueles de duas cores que parece que faltou chocolate para fazê-lo todo de uma cor só... tem gosto de casa-de-tia misturado com lanche-de-escola. Bonzão!

Pois bem, fiz questão de escolher um bom-vinho-português (é impressionante como eu estou ficando cada vez mais criteriosa... ou exigente... ou rabugenta... mas, enfim, a vida é breve demais para ser desperdiçada com um vinho vagabundo).

Já era até meio tarde, quase indo dormir e resolvi tomar o vinho.

Comprei para comemorar hoje. Vou tomar hoje.

É boda de casamento de mamãe e papai. Cinqüenta e lá vai cacetada de anos juntos! É mesmo louvável, verdadeiros maratonistas.

Pensava... já que era para tomar hoje, vou abrir então.

Eis que começa o drama...

Saca-rolha em punho e o que era drama vai virando tragédia... achei que as coisas estavam mesmo esquisitas... primeiro porque o saca-rolha já não entrou bem pelo meio da rolha... segundo porque, de repente, ele já foi parar lá do outro da rolha, dentro da garrafa...
Tentei tirar delicadamente. Só piorou.

Merda! Que vergonha.... isso é quase uma desonra. Ai, se meu pai visse isso... ele que me ensinou direitinho a abrir um vinho... e olha que eu era uma criança, aprendi com toda a manha. Na verdade, a “técnica de papai” é meio excêntrica... quase acrobática. Mas é a única que eu sei. Aprendi assim. Sempre abri vinhos assim.

A tal técnica (...) consiste em encaixar a garrafa meio entre os joelhos, meio no meio das coxas. A garrafa inclinada da esquerda para a direita e a mão direita puxa o saca-rolhas séria e cuidadosamente até fazer POC.

Como é uma técnica muito peculiar só me atrevo mesmo a fazer em casa. Às vezes que eu o fiz em algum outro lugar as pessoas sempre olharam horrorizadas (e correram para cima de mim, tentando interromper o processo...) exclamando “Meu Deus!!!! Mas o que você está fazendo?”
“Abriiiiindo o viiiiiinho”....
“Assim? De cócoras?”
“POC!!!!” E eu pensava... “pobres mortais... faltaram á aula de Baco, só sabem abrir vinho com abridor que tem bracinhos”...

Bom, mas já havia começado tudo de forma inusitada... o saca-rolha arrebentando a rolha com demência. A rolha começando a se desfazer e sem sequer sair do lugar!!!

Saco o saca-rolhas. Pego outro...

O furo que já estava arrebentado vai virando uma cratera. E nada da rolha se mexer... só soltava pedaços imprudentes pelo chão.

Será que não era para eu tomar o vinho hoje?

Será melhor deixar ele aí quietinho, e quando alguém vier tomar um vinho comigo, aproveita e abre?

Ora... faça-me o favor, Daniela... Era só o que faltava? Precisar de alguém para abrir um vinho para você?

Desde quando você é mulher disso?

Desde quando precisa de companhia para tomar um vinho? Muito menos para abrir para você...
Deixa disso e abre logo isso aí.

Pois bem, quanto ao estrangulamento da rolha... metade dela parecia já ter virado farinha dentro da garrafa. Putz... vinho sabor rolha... custou tão caro para ter uma rolha xexelenta dessas? Custou tão caro para agora ter gosto de vinho-com-rolha-xexelenta?

Calma, calma... não é o fim do mundo. Respire fundo. Isso acontece com os melhores abridores de vinho no joelho que existem.

Já vi acontecer. Talvez até mesmo com papai, exímio saca-rolhista de técnica primorosa. É só pegar uma peneirinha e “coar” o vinho da sopa de rolha depois.

Putz de novo!

Nessa casa não tem peneirinhas... nem coadorzinhos...

Caaaalma! Você ainda pode pescar cacos de rolha.

E a calamidade continua. O segundo saca-rolha era um frouxo, a rolha parecia ser de areia.
Que faço? Vou raspando a rolha até remover por completo?
Ahhhh. Vou tomar esse vinho hoje nem que seja de canudinho pelo rombo já feito!!!!

A rolha acorda (ou o que sobrou dela...). Primeiro sinal de vida em movimento e uma leve giradinha para fora!!!! E a galera fazia Uhhhhh...
Movimentos repetidos e abrem-se as portas da esperança!!!!!

A cozinha parecia que tinha sido palco de uma guerra de paçocas! Uma coisa impressionante... caco de rolha para tudo quanto é lado. Ridículo.

Viro o vinho na tacinha e a garrafa vai vomitando a rolha estraçalhada... uma coisa horroroooosa.
Pesquei rolha de garfinho...

E agora? Tomo a garrafa inteira? Como é que eu vou fechar? Nem me atrevo a tentar botar o palito que a rolha virou aí de novo...

Fecho com outra rolha? Mas... de outro vinho, de outra safra, outro paladar? Isso não vai dar certo...

Fecho com durex? Deixo um copinho em cima?

Depois penso nisso.... vou para o meu vinho com bolinho, vou tomá-lo com todo meu amor em nome das bodas. Celebrar esse encontro mágico, misterioso e esquisito que gerou uma família linda, mágica e esquisita. E que toma vinhos para comemorar e que abre suas garrafas (quase sempre...) com maestria singular e um primor fora de série.

Amo vocês!!!!!! São a bússola e a âncora da maruja aqui...


... nessa casa se ouve Portishead

sábado, 15 de novembro de 2008

um dia aí...

sábado 15 de novembro de 2008.

Acordei muito esquisita...
Cansada, cansada por dentro e por fora....
Ontem desenhei até doer. Literalmente... até doer a mão, o braço, os olhos, o corpo todo. Até doer a alma...
Acordei (muito) feliz por isso.
Mas muito cansada e preocupada com outras coisas... trabalho para fazer em casa, muita coisa e pouco tempo, preocupações mil...
E me sentindo um trapo por isso...
Se eu pudesse passaria o dia desenhando novamente...
Resolvi “fazer um carinho em mim mesma”... sair para almoçar fora, sem pressa, correria ou hora marcada. Fazer depilação com cera (estou com essa onda agora...), fazer a unha e pintar de vermelho, enfim, cuidar dessa casca que tem parecido um “pequeno ogro das montanhas”.
Precisando relaxar... espairecer. Cuidar mais de mim, nem que seja ao menos por fora...

Doce ilusão...
Tudo fechado...
Nem manicure, nem depilação, nem restaurante natural, nem feirinha...
Putz! Feriado no sábado???
Que graça tem?
Para quê?
Só serve para atrapalhar a vida do freguês...

Já não acredito mais em feriados. Já acho tudo relativo demais para ser “celebrado”...
Preferiria mesmo que cada um decretasse seus próprios feriados.
Eu tenho alguns... não são “feriados” tal qual conhecemos, mas são datas, momentos, situações ou circunstâncias que eu tenho de celebração, comemoração, memória ou lembrança de determinadas coisas. Alguns têm até “rituais próprios”, outros ainda são inventados ou “decretados” na hora...
Mas voltando à porcaria do “feriado-que-cai-no-sábado” (só para atazanar a humanidade...)... deveria haver um decreto-lei que instituísse que “feriados que seguem o calendário gregoriano” (que, particularmente, já acho todo errado mesmo...), mas voltando à nova lei... “feriados que seguem o calendário gregoriano e que caem no fim de semana automaticamente deixam de existir, deixam de ser feriado”...
Pronto, bem melhor.
Se eu fosse do Poder Legislativo do Brasil talvez pensasse melhor a respeito. Mas essa não é uma ambição pessoal... Não quero mesmo ser do Congresso Nacional... Iria ter que andar com muitas más companhias...
presidente do país também já não cogito mais... já cheguei a pensar seriamente a respeito também.... aaahhhh, as ideologias juvenis... cogitei até estudar sociologia política para me preparar para tal... aí questionei... caraca? Será?? O que eu sei mesmo fazer é Arte... vou para outra área só por achar que posso dar conta melhor do que têm feito? Talvez eu possa mudar ou melhorar o mundo com minha arte, com minhas formas de expressão “naturais”...
E olha que esses questionamentos foram há pelo menos uns 15 / 20 anos... eu achava que o Brasil precisava de uma governante-mulher. Estava me disponibilizando para tal...
Passou...
Que bom! Ímpetos juvenis nem sempre são para serem ouvidos mesmo.

Tempo depois, vi que presidente sociólogo não é garantia de que funcione...
E quanto à governante-mulher parece que hoje estamos mesmo nesse processo... Mas???
Nossa presidenta será a Dilma???
Não podia ser a Soninha??? Muito mais coerente, consciente do mundo que estamos, muito mais lúcida!
Lembrando de algumas das figuras que hoje se colocam em condições de probabilidade (?), ou possibilidade, ou pelo menos intenções e trajetórias... melhor que Roseana.. melhor que Dona Marta (essa podia mesmo era se candidatar ao cargo de minha sogra. Eu votaria), Marina Silva?
E eu que cheguei a achar que ela estava no local certo na hora certa, que era um dos maiores avanços políticos do país ter Marina Silva no Ministério do Meio-ambiente e deu no que deu...
Sobra quem?
Rosinha Garotinha? Com nome de bebida com groselha?

Ninguém merece...
Quer saber?
Para me fazer sair de casa em nome de minha “liberdade de escolha política”, de meu “direito político” (?), eu só votaria mesmo para “primeira presidenta do Brasil”, na Rita Lee.
Vale a campanha.

Bom, uma única coisa é certa, sei o que falta aos políticos brasileiros. Qualidade única que, caso tivessem, as coisas seriam bem melhores. Creio mesmo que o que falta, e o que seria o grande trunfo à resolução e solução de problemas, é a “vergonha na cara”...

Eu cá já superei mesmo essa onda ideológico-político-pessoal e hoje só me candidataria a ser Rainha. Instituir a Monarquia, esquecer nomes e sobrenomes e uma herança esquisita do reinado português (e afinal, portuguesa por portuguesa, sou mais eu...), e seria a Rainha...
Tudo a ver!
Rainha-vira-lata!!!
Sem pedigree, mas raçuda pra chuchu!

E “god save the queen”...

Nossa!!!!
Tudo isso por causa da porcaria do feriado?

Tudo isso só porque continuo com a perna peluda...


... nessa casa se ouve Iggy Pop & The Stooges

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

hoje parece...

Hoje parece que não tenho muito assunto...
Hoje parece domingo. Meio insosso, meio desgostoso. Hoje é dia de finados. Hoje é um domingo inacabado.
Sinto-me como um domingo...
Primeiro dia da semana, traz a carga do que ainda está por vir.
Fim do fim de semana. Deixa o gosto de um tempo volááátil...
Estou tão sem graça que faço até um poeminha de merda... Passei o dia inteiro assim... rimando, comparando, filosofando... Trabalhando. Arrumando. Meio voando...

Colo coisas na porta. Papeizinhos, bilhetinhos, desenhos e tudo quanto é papel que, por algum motivo, não tive coragem de jogar fora.
Vou colando na porta... A xícara mais bonita da casa cheia de cola. Pincel numa mão. Papelzinho na outra. Vou lambuzando a porta, colando figurinhas, lambuzando as figurinhas.
É um “mural fixo”.
Será que eu consigo ter “algo fixo”, estático, imóvel ou imutável?
Mais uma vez acho que não.
Já pensei na cortininha para o dia em que eu enjoar ou quiser variar, como e onde pode ficar. Já pensei em outra porta para pôr no lugar.
Já pensei, já pensei, já colei...
Teve coisa que depois de colado eu já arranquei.
Acusação: “pouco envolvimento e significado afetivo”.
Defesa: “mas sou uma figura linda, ilustro uma bela praia, lindo céu azul, uma bela cidade de areia em primeiro plano”...
Acusação: “Literalmente, fofa, essa não cola! Castelos de areia são mesmo para serem derrubados. Tem pouco significado afetivo e ponto”.

Minha porta como um palimpsesto.
Domingo funesto.

Queria subir uma caixa para o alto do armário. Fiquei com preguiça.
Devia ter lido um livro. Rotina submissa.
Podia ter saído...
O domingo é um dia dolorido. Domingo mal digerido.

Estou chata que nem um domingo.

Quero um café, mas acho que não devo.
Devia dormir, mas só escrevo.
Enredo. Remendo.
Atrevo.



... nessa casa se ouve Joy Division.