domingo, 27 de setembro de 2009

Tenho um coração que parece a bateria do Jonh Bonham

Tenho um coração que parece a bateria do Jonh Bonham. Pulsa, pula e bate ininterruptamente... na verdade ele não bate. Está apanhando. Parece que sacode a cada porrada que leva. E estas não param...
Surra em cachorro morto.
Sinto-o retraindo e inflando, retraindo e inflando. 200 vezes por segundo. Consigo vê-lo sob a carne. Consigo senti-lo no corpo todo.
Pulsa, pulsa, pulsa.
E dói.
Por dentro. Coração, cabeça, alma.
A bateria virtuosa que não para.
O coração pulando que não fala.

O exame parece mostrar todos os altos e baixos de 1 vida.
Oscila, levanta, cai, recupera, pega fôlego, recai.
Corre, escorre, flui e rui.
Movimento ondulante, vibratório, pulsante.
Coração errante.
Alado ou errado?

O médico acusa:

- Coração, você é muito ansioso. Ansiedade é seu problema...

- Eu sei, mas fico angustiado querendo resolver tudo agora...

- Você ama demais.

- O desequilíbrio não é esse. O problema não é amar demais. Isso é natural. É normal. O desequilíbrio está em ser amado de menos. Aí descompassa...

- O amor não é compensatório. Não se ama esperando nada em troca.

- É isso. Eu sei. É exatamente isso.
Amo por amar. E isso me faz bem. Mas acho que senti falta de ser querido também. Nunca senti esse inverso. Não peço nada em troca. Não amo esperando retorno. Mas senti falta deste... não para continuar amando, mas talvez para poder bater e vibrar equilibradamente.

- Coração... você leva uma vida promíscua... bebe, fuma... stress demais, cafeína demais, ansiedade demais. Grupo de risco total.

- Amo demais. Sou amado de menos.

(pausa)

(o coração continua...)


- Às vezes dói... me stresso demais e não tenho onde encontrar alento. Acumulo ansiedades, faço um café, acendo um cigarro. Vou oscilando entre a ação prática da vida vivida a cada dia e os mais fortes sentimentos sacolejando engasgados e enrustidos em uma carapuça da força simbólica e ilusória que eu mesmo criei para me esconder ou tentar me proteger.

- Coração, coração... pega leve... com você mesmo, se não você não agüenta.

- Queria saber como é me encostar em outro coração e batermos juntinhos... sintonizando as vibrações, intercalando altos e baixos, pulsando juntos. Revezar os batimentos, vivermos um leve movimento de vai-e-vem, profundo, penetrante, confortável e receptivo.

(pausa)

(e o coração ainda continua...)

- Queria sentir outro coraçãozinho batendo juntinho... Tão próximos, tão encostados, tão íntimos, que nos confundiríamos e fundiríamos entre nós mesmos. Sintonizaríamos os batimentos, o inflar e o retrair, o respirar, inspirar e expirar; o entrar, o preencher e o esvaziar, o tocar e o ser. Quando um se esvazia, ou outro se enche. Quando um recua, o outro avança. Quando uma respiração termina, a outra começa. Queria vibrar junto, recostado no outro e quando estivéssemos juntos, sincronizados, numa mesma pulsação, aceleraríamos o ritmo, aumentaríamos a velocidade, pulsaríamos mais fortes e mais rápidos, tocando e sentindo o outro, a si mesmos, aos 2 juntos. Sentindo a pele vibrar como ondas, como cordas, tocando-se e encontrando-se, até estarmos arrepiados, e leves. Até esquentarmos juntos, e o suor começar a escorrer, e os líquidos se misturarem, se confundirem, se fundirem.

- Coração, você não presta.
Quer algo que não é seu, que não lhe pertence, que não lhe cabe. Desde quando alguém vai querer se envolver com você? De onde tirou isso agora? Vive em ilusão... sonha com o inexistente, o improvável, o impossível. Caia na real, coração... Sai desse corpo que não te pertence!

- Ai, ai... eu acredito que haja um amor dentro de cada coração, mas que é difícil reconhecer a existência deste. Sou um coraçãozinho que se partiu, e esta brecha deve deixá-lo aberto, para deixar o amor sair. E talvez entrar...

- Já está olhando para fora novamente... algo para entrar é algo que existe fora de você. Que não é seu...

- Há uma transformação quando isso acontece... há uma transformação profunda e marcante. Há vida, força e poder que nascem quando há troca e compartilhamento. Se a caça e o caçador se tornam amigos eles passam a ser únicos, especiais, e a caçar coisas incríveis juntos. Há que se reconhecer a força pessoal de cada um nesse desconhecido mundo submerso dos sentimentos, e por para fora o que se tira de bom para dar ao outro.

- Você é um coração remendado, cheio de pontos e cicatrizes... como é que vai se abrir?

- Eu me rasguei... puxei os pontos e as pontas e rasguei com uma tira de tecido... Mas então vazou... Saiu muita coisa misturada, de uma vez só... explodindo, desentalando. Vomitei sentimentos e angústias, lamentos e acontecimentos.

- Você é uma besta! Ansiosinho, ansiosinho...

- Sinto um amor que é puro e pleno, sincero, honesto e nobre. Amor verdadeiro. Mas não fui nobre... não reconheci em mim minhas fraquezas no meio do processo. Cutuquei o outro com minhas queixas de uma situação em que eu mesmo me permiti estar.

- Mas você nem conhece o outro... ficou louca?
O outro vive escondido em uma armadura, sob uma carapuça. Sequer viu a sua cara, sequer sabe o que ele sente... Você é um fraco!

- Isso eu não sou, não. Sou bravo, forte e corajoso! Tive coragem para me conhecer, e reconhecer em mim o que estava acontecendo. Isso é bravura, coragem! Mas dói, estou sabendo... vou ter que remendar e costurar tudo de novo. Mas sou forte, sim. Fraco e covarde é ele. Não se permite ouvir a si mesmo, não se permite arriscar, não se permite conhecer um lugar que nunca tenha ido. Acha que tem tudo organizado e em seu devido lugar. E nem me disse se eu tinha vaga em um desses espaços. Quanto mais ele achar que tem uma vida controlada e sob controle, cada vez menos haverá vida a se controlar.

- Você é que está descontrolado...


Acho que é um conto... acho que é só o capítulo 1.
Acho que deve estar meio repetitivo, talvez um tanto inconsistente (verdade nua e crua, e dessa vez, sem direito á revisão...). Acho que tenho muito a aprender, principalmente em controlar minhas angústias (e palpitações...)... Acho que às vezes gostaria de aprender com alguém... Mas ‘alguém’ não liga (e não me liga). Acho que dá liga, e que sou sua amiga, mas ‘alguém’ levou para o tom de briga...

Também acho que sim! Deus mora na ordem randômica das músicas... o aleatório não existe simplesmente. Há mesmo, em algum lugar, uma seqüência da discotecagem divina. Mandando sons e sinais, meios e mensagens que falam diretamente conosco em determinados momentos.
Acaso? Coincidências? Sincronicidades? Delírio auto-referente, psicose? Será que estou ficando louca? Que nem corno quando ouve música sertaneja e acha que a mesma foi feita para ele?



... (pois) nessa casa se ouve Paralamas do Sucesso/ Será que vai chover?


Nessa casa esparramam-se textos, anotações e rabiscos por aí...



Nessa casa esparrama-se o eletrocardiograma rabiscado e ilustrado...



Guardando sentimentos e movimentos, reconhecidos como parte de um processo cíclico que devemos sim nos expor para podermos amar cada vez mais.




... nessa casa (já) se ouve Pixar Greatest