E como eu tenho a mente muito fértil, como
eu adoro uma conspiração, como nem sempre as coisas são como a gente acha
que é, e coisas esquisitas podem acontecer:
-
Acho que Jim Morrison está vivo. E que mora em Copacabana!
Não é óbvio? Não faz
todo o sentido do mundo?
É por isso que toda vez
que eu vou em Copacabana eu fico olhando para os “velhinhos” (se é que alguém
com seus 70 anos pode ser considerado velhinho...).
Mas veja, pelas minhas contas ele deve estar com 69
anos – o que ainda é um número cabalístico... - Deve estar em Copacabana, o
shangrilá de toda ordem de fugidos e disfarçados do mundo.
Deve ler Rimbaud até hoje, deve ter um bronze melhor
que o meu (como se isso fosse difícil...), deve acessar a internet numa
daquelas lan-houses-para-gringos toda
tarde na volta do pilates, e postar fotos da mulherada em biquínis de onça
deitadas em toalhas do flamengo em seu perfil (fake) do facebook, sob o
codinome de Tony Clarck e Silva (ou algo mais ou menos assim...).
Dever dar risada pacas desse povo que fica indo ao Père-Lachaise tomar vinho e ficar cantando
“para ele” (?!?).
Deve estar curtindo a vida
em seu anonimato, sob chinelos havaianas - versão original, sem soltar tiras,
sem cheiro – e, vez ou outra, soltar uns palavrões para Mr. Obama pelo telefone
(telefone pré pago, que ele compra os créditos na banca de jornal da Barata
Ribeiro com a Duvivier, e que também vive ligando para reclamar que falha no
túnel e também para puxar papo com a atendente de telemarketing, que ele
acha ter um sotaque ‘interessante’).
Não faz todo o sentido do
mundo?
Então toda vez que eu vou em
Copacabana, eu fico olhando para ver se eu o encontro... Cabelos ao vento (talvez
até, em tons de acaju...), olhando para a bunda da mulherada (vez ou
outra perdendo a linha com um travesti), comendo no Cervantes nas
madrugadas de quarta-feira, curtindo a vida adoidado e jogando altinho com a
galera aos sábados.
Mas quando eu falo isso
para alguém, ninguém acredita...
E é sério.... eu sempre
fico procurando!
Até que alguém interrompa e fale:
- Que tanto você está olhando?
(real) e naturalmente eu
respondo, com toda a sinceridade do mundo:
- Estou vendo se Jim Morrison não
está aí!
E ninguém me leva a sério....
Ou ainda:
- A reunião com Fulano é em
Copacabana, endereço tal.
E eu penso cá com meus botões:
- Legal! Vou aproveitar e passear um tanto por ali,
para ver se eu não encontro com ele.
Já nem comento mais, viu... O povo não acredita
mesmo (e ainda acha que eu sou muito doida...).
Ora...
Tenho dívidas com ele!
Ou melhor... Ele as tem comigo!!!
Eu, o máximo que fiz, foi crucificá-lo durante muito
tempo... Admito.
Confesso: Pendurei-o na cruz. Pendurei-o na cruz. Já
o pus na cruz umas 10 vezes (e em 10 cruzes diferentes...)
Botei mesmo de castigo nesse instrumento de
suplício. Literalmente, “peguei-o para Cristo” e o castiguei incitando a
momentos de reflexão profundos:
- Por que é que você
não me esperou? Por que é que você não me esperou? Por tão pouco... Por
que é que você não me esperou?!?
Era
para você ter falado no meu ouvidinho “we're gonna have a real good time”
várias vezes!!! E para ter dito “Love me
two times, baby. Love me twice today” nas manhãs de sábado!!! E para ter
dito “my girl is mine, she is the world”
com as pernas enroscadas nas minhas nas tardes de um domingo cinzento e
chuvoso!!! Era para você ter ME
chamado de “ashen lady” andando sem camisa
para lá e para cá!!! Era para você falar “baby,
please don't go”
toda vez que eu levantasse para ir trabalhar!!! E a the best ever... era para
você repetir diariamente nesta casa “touch me, babe. Can't you see that I am not afraid?” (…). Era para você berrar várias vezes, reproduzindo
quase como um mantra “you gotta thrill my soul, let it roll,
all night long”!!!
Era para você ter sido preso por obscenidade e indecências aqui em casa
mesmo!!!! Dentre tantas outras coisas...
Eu,
que ainda vou ter uma filha chamada “Glória”
e um bistrô chamado “Soul Kitchen”, como é que fico?!?
Pois bem... Crucifico mesmo
o rapaz!
Que já nem é tão rapaz
assim...
Mas que eu ainda vou o encontrar
zanzando por aí e, pelo menos, poderemos discutir juntos um tanto sobre William Blake,
ou sobre cinema, ou sobre as visões do que é sagrado e o que é profano, sobre
como as pessoas continuam esquisitas, um tanto sobre poesia beat, quem sabe...
Tomaremos uma caipirinha
(?), - a little farm girl, como dizem
aqui... - Até vermos o sol nascendo e clareando o Dois Irmãos...
Prometo não lhe
chamar de tio!
Prometo me comportar!
(ai, ai....)
E quando a música acabar, eu apago a luz, ok?
... nessa casa se ouve The Doors (super
temática, hoje...)