domingo, 11 de março de 2012

AO VIVO É OUTRA HISTÓRIA


Então fui ao show do Morrissey. Por tempos achei que esse fosse um dos “shows da minha vida”. Por tempos achei que ele fosse uma das partes de mim perdidas por aí.
E são.
E lá mesmo, no meio da muvuca, entremeada no meio da galera, meio apertadinho, meio longinho, peguei-me chorando. Peguei-me chorando do início ao fim.
Acho que chorei e ri durante o show inteiro...
Custei um tanto a perceber e entender por que...

O som estava ruim. Eu via o palco de diagonal. O bar estava longe. A cerveja estava quente. O banheiro? Nem comento... (até porque qualquer lugar que tenha fila para entrar, seja cheio de mulheres, abafado e sujo, é garantia obvia e natural de que eu vá me irritar).

Johnny Marr não estaria lá.... (mas eu ia superar isso!)

O lugar (uma das grandes incógnitas da humanidade... Tem tudo para ser o lugar mais legal do Rio! Mas é deprê... Mal tratado, né?) estava cheio. Lotado! E isso não é garantia de que seja legal. Aliás, muito pelo contrário...
As pessoas estão muito mal educadas. Têm perdido a noção dos relacionamentos humanos, da educação, civilidade... Tomei 2 empurrões completamente descabidos. Quase apanhei porque, educadamente (!!!), pedi licença para passar (?).
Muita gente besta por aí...

Dentre tantos desconfortos e “aspectos a melhorar”, consegui manter o bom humor!
Aliás, eu estava tão feliz, mas tão feliz de estar ali, que nada tiraria meu bom humor.

Pois então... Peguei-me chorando! De alegria e emoção...

E ali mesmo percebi por que... Ali mesmo, em cinco minutos ou menos, parece que fui abduzida, transposta a outra dimensão, parece que fiz uma viagem no tempo... Ao mesmo tempo sentia-me tão “presente”.

Lembrei de muitas vezes que ele mesmo (Mr. Morrissey, o próprio) esteve presente e me fez companhia nesta vidinha. E eu mesma ainda não tinha noção disso.

Lembrei da minha infância, e todas as vezes que eu balancei os bracinhos cantando Girl Afraid ou engrossei a voz cantarolando junto com o rapaz “rush and a push and the land that we stand on is ours; It has been before, so why can't it be now? And people who are weaker than you and I; they take what they want from life; but don't mention love. No - just don't mention love!”

Lembrei das festinhas pré adolescentes, nas garagens fechadas de véspera com lona preta, e a vitrola encostada nos cantos do quintal, onde a moçada botava discos de vinil “das novidades” – e todos dançavam naquela vaga de carro vazia: Titãs, Legião Urbana, dávamos “xutos e pontapés” com The Clash, e por aí vai...... Até que alguma mãe saísse da sala com uma bandeja de pão com carne assada na mão. Até que alguma mãe aparecesse e dissesse: - Vamos parar com isso, entrar, cortar o bolo que o tio Fulano está querendo ir embora.
Lá também esteve Mr. Morrissey, por vezes talvez até na hora do parabéns.

Lembrei de vários momentos de angústia adolescente, e todas as vezes que ele estava lá comigo... Eu fui crescendo, e ele (ele mesmo, Mr. Morrissey) ia comigo.

E quantas vezes eu berrei: “I wonder to myself, could life ever be sane again? (…) Burn down the disco, hang the blessed DJ because the music that they constantly play says nothing to me, about my life

Lembrei de festinhas, rodinhas, turminhas.
Lembrei da vida chegando cada vez mais e, junto com ela, todos seus grandes desafios.
Lembrei de momentos de dor e decepções. Lembrei de momentos de força e superação.
Lembrei de “fases”... amigos, turmas, faculdade, empregos, viagens. Lembrei de todas (!!!), ou quase todas, ou boa parte pelo menos, as idas à Ubatuba. Lembrei de momentos que ri e de momentos que chorei. Lembrei taaaanto....
Ele sempre esteve lá.

Lembrei das casas em que eu morei. Lembrei de coisas que eu fiz. Lembrei de pessoas que eu conheci. Lembrei de amigos que fiz, e de outros que perdi.
Lembrei de quando eu casei. Lembrei de quando eu me separei. Lembrei de pessoas com quem eu fiquei. Lembrei de pessoas com quem eu deixei de ficar.
Ele sempre estava lá. (ele mesmo...)

Lembrei de todos os “loneliness”, e todos os “sorries”, e todos os “caaaaares” que eu já cantei e berrei e extravasei junto com ele (ele mesmo... Mr. Morrissey).

Lembrei de perguntas que fiz, e as que não fiz. Respostas que dei, as que ouvi e as que eu nunca soube.

Lembrei de olhar (mais) para mim mesma. Ainda que poucas horas depois eu tenha esquecido completamente disso....

Lembrei que a vida é breve... Lembrei que estou aqui só de passagem. Lembrei desta passagem até o presente (tão presente) momento.

Lembrei onde eu estava, como, quando e porquê. Lembrei quem eu era, quem eu sou e o que tenho feito.

Tudo isso por causa de um show?!?

Tudo isso por causa deste amigo e companheiro - Mr. Morrissey - que ali falava DA MINHA “shyness that is criminally vulgar” e cantava comigo “how can you say I go about things the wrong way? I am human and I need to be loved just like everybody else does (…) You could meet somebody who really loves you, so you go, and you stand on your own, and you leave on your own. And you go home, and you cry and you want to die

Lembrei que eu talvez devesse ter tomado um lexotan (?). Lembrei de coisas que acho que eu deva esquecer.

E ali falamos junto que “everyday is silent and grey” e que “there is no point saying this again but I forgive you, I forgive you, always I do forgive you” e também lembramos juntos sobre (todas) “the choice I have made may seem strange to you, but who asked you, anyway? It's my life to wreck, my own way

E por aí foi…

Né, não, Mr. Morrissey?
Lembrou de tudo que já fizemos juntos por aí?

E então também lembrei de onde “pode ser que tenha vindo” tamanha sintonia e identificação... Pois, convenhamos... não faz muito sentido!

Não sei bem quais são as afinidades… Talvez nas promessas a si mesmo, os sentimentos de rejeição e de não-pertencimento, as ofertas de si para os outros (e o outro que nunca sabe ou percebe), algumas crises e angústias... Nem sei.
Nessas, também lembrei que acredito no celibato. E que também acredito e confio mais nos animais do que nos seres humanos.

Sei que gosto do cara! A gente deve ter vindo do mesmo planeta...

E então também me lembrei do planeta em que estava... (e outros pontos que acho que sintonizamos na mesma freqüência) – o real incômodo com pessoas (?) que estavam ali na grosseria e no desrespeito ao ser humano. Para que mesmo?
Na boa... para ir a um show destes e fazer grosseria a troco de nada com a mocinha educada gentilmente lhe pedindo passagem, ficasse em casa, em toda sua insignificância. Se Mr. Morrissey soubesse dessa falta de amor à humanidade, não iria gostar que você estivesse aqui, ô playboy babaca!

Então saio do show e a primeira coisa que vejo é um carrinho do churrasquinho, daqueles de me enjoar antes mesmo de passar perto. Na boa parte II... a volta à realidade é dolorida!

Aaaah, e na boa parte III.... senti falta de termos cantado e berrado rouca e loucamente (e chorado?) juntos end of the pier, end of the bay, you tug my arm, and say: give in to lust, give up to lust, heaven knows we'll soon be dust... But I'm not the man you think I am, I'm not the man you think I am, and sorrow's native son, he will not rise for anyone” ou então “why do you come here? And why do you hang around? (…) when you know it makes things hard for me?”
Entre outras…

Love you. Mr. Morrissey!

Ainda que o meu senso de realidade tenha ficado completamente distorcido.
Ainda que meus sentimentos sejam um vulcão em erupção (!!!), mas no meio do deserto...
Ainda que eu nem saiba bem porquê.

Imagino que o sr, esteja bem feliz de ter estado aqui comigo novamente (!), desta vez ao vivo, “missa de corpo presente”. ;)

E é... é verdade: “no, it's not like any other love. This one is different - because it's us. We can go wherever we please and everything depends upon how near you stand to me” ;)

E a melhor parte?!?! A de berrar por dentro, de cantar com a alma “I really don't know and I really don't caaaaaaare (…) yes, we may be hidden by rags, but we've something they'll never have”.

Pena não termos feito isto ontem (mas o sr. sobrevive, fique tranqüilo!)


... nessa casa se ouve Foo Fighters

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