quarta-feira, 3 de agosto de 2011

papo rápido e imediato

Acabei de passar por uma cena e um diálogo incrível...
Da série “coisas que só acontecem com a Dani”, ou da “tem coisas que só a Dani consegue fazer” (como diria meu, queridíssimo, amigo Renato)...
Do nada, mas do nada mesmo, o mendigo salta na nossa frente, chega pulando e gritando, com uma cara de maluco e uma mão para trás.
A minha amiga pula e grita junto. Se agarra ao telefone, fala algum palavrão pro cara.
Eu?
Eu, lógico, dei uma risadinha e olhei inconformada para aquela performance toda dos dois...
Ele se desculpa com ela (meio bravo até...), diz que não era para ela ter se assustado. Que só queria ‘uns real’ e coisa e tal.
Ela se queixa, diz que estava falando ao telefone, que ele nos abordando dessa forma assusta sim, que não tem dinheiro nenhum para dar, e vai quase empurrando o cara dali......
Ele olha para mim...
- Olha aí... você nem se assustou!
- Eu? Eu estou quieta aqui...
- Você não se assustou comigo? Você não tem medo de mim?
- Não. Claro que não. Por que teria? Deveria ter? – essas da série “filosofia pura, gratuita e automática de Dani”...

Aí o papo realmente engrenou...
Ele continua...
- Aliás, sua sobrancelha é linda! Está muito bem feita! – sim, ele disse isso mesmo (?). E eu que tinha acabado de pensar com meus botões que eu sou um pára-raio de maluco quase oficial... Em outro contexto e com outros motivos... Mas eu estava realmente pensando nisso, nessa capacidade nata de atrair ‘pessoas complexas’ com uma facilidade ímpar... Mas enfim... o rapaz segue:
- Mas você não se assustou comigo... Você nem teve medo de mim...
- Mermão, se você soubesse o que eu estava aqui quietinha pensando... Tem coisas que me assustam muito mais! Eu lá vou me assustar com você?!?
- Você não teve medo...
- Não, não tenho. Aliás, eu estou em processos árduos de tentar substituir tudo que seja “medo” pelo que seja “amor”, sacou?
- Eu não ia roubar vocês, eu só quero pedir 4 reais... - (?!?) -  Sua amiga se assustou, ficou com medo de mim... – e então ele veio com aquele papo de “não sou ladrão, não quero lhes roubar, está faltando 4 reais para inteirar sei lá o quê”, mas martelou nesta tecla – Você não tem medo de mim?
Eu, com as moedinhas contadas para o ônibus na mão, comecei a contá-las e separá-las. Então aviso:
- Querido, olha só... Tenho pouco, tá contadinho mesmo, mas posso dividir com você, tá. Vai fazer bom uso? – e sigo separando os trocos, e respondendo à cara de indignação e dúvida do rapaz – Não tenho medo de você. Eu lá sou mulher de ter medo de mendigo? (e aí quem ficou brava fui eu...). – ainda prossigo – É mais fácil eu ter medo de políticos, daquele povo de terno e gravata que está bem ali – apontando para a câmara de vereadores - de advogados e de banqueiros (ou até dos reptilianos...), do que de você.... Medo de você? Quer mesmo saber? No fundo, no fundo, somos todos irmãos! Não te vejo como uma afronta, te vejo como um irmão. Num contexto esquisito... desconexo nesse nosso Mundo Cão S. A., mas um irmão... Que veio falar comigo por algum motivo. Não, não tenho medo de você. Você não me assusta. Não quero ter medos em mais nada nessa vida!!! Não vou ter medo de você.
            Minha amiga voltou ao papo do celular. O mendigo já me olhando ternamente...
- Você não precisa ter medo de mim mesmo. Eu estava ali deitado com a turma. Está faltando “4 real” para a gente, mas você não teve medo de mim... Você olha para mim, você diz que é todo mundo irmão...
- E não é? O que me assusta é quem se esquece disso... Você veio me fazer algum mal? Veio “em missão de paz”? Que você quer? Bater papo ou só “4 real”? Para que “4 real”? Vai fazer o que com isso? Pode ser que eu lhe dê, pode ser que não. Quer o que de mim? Está aí brincando de dar susto nas mocinhas ou quer mesmo saber por que acho que somos mesmo todos irmãos ou por que os banqueiros e o FMI  me assustam mais do que você?
- Você é do bem, gata! Já vi isso... E tem a sobrancelha linda. E tem axé. - ??? -
- Você também é do bem. Não pode é se desvirtuar disso... Entendeu? Somos todos irmãos sim. Mas esse mundo doido e as nossas questões históricas, culturais e pessoais ás vezes favorecem a deixar que a gente se perca... Não perde isso não, cara! Seja do bem, faça o bem. Você não precisa ficar mendingando 4 real pelo resto da vida, assustando minha amiga ou me alugando... Tem mais é que achar o seu caminho e ser feliz. Estamos todos no mesmo barco... Cada um do seu jeito, dentro das suas possibilidades, procurando seus caminhos...
            E eu ali sem entender muito bem o papo, tentando encurtá-lo... Talvez tentando voltar aos meus pensamentos... quietinha... às minhas coisinhas que me dão, essas sim,  tanto, e real, medo... aos meus sentimentos e sensações, às “minhas coisinhas” e pequenas-grandes-filosofadas-de-dani, às coisas recentes que têm me inquietado, enfim...
            Peguei-me surpresa e surpreendida pelo mendigo...
          Fiquei pensando “nos porquês” da vida em colocar pessoas á nossa frente... Em trazer esses encontros, todos....
Lembrei também rapidamente que nas duas últimas vezes em que fui assaltada, os caras não só não levaram nada, como foram embora desejando “tudo de bom, dona”, (???) “fica com deus, aí” (???) e coisas do tipo... inclusive, em uma delas, eram dois caras maiores que eu, e armados, e lembro bem deles indo embora, cabecinha baixa, rabinho no meio das pernas e olhando para trás para ver se eu ainda estava ali os vigiando...
Isso tudo acho que rende “postagens á parte”, deixa para outra hora...
Por hoje, este fez questão de dar dois beijinhos para se despedir. Saiu sorrindo, dizendo que eu “sou do axé” (?!?)
Por hoje, a reflexão imediata é sobre essas conexões-desconexas com que a vida nos presenteia...
O que nos trazem? O que nos dizem? Por que será que acontecem?
E o grande desafio de tentar vê-las realmente como “presentes”... Como uma lição, um agrado, um aprendizado...
            Maratona para uma vida...



... nessa casa se ouve Pink Floyd