quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

fim de ano e o que mesmo?

Aqui mesmo, 23 de dezembro de 08.


Tanta coisa acontecendo nesse fim de ano corrido. Tempo ‘curto’ mas que, ao mesmo tempo (...), parece tão longo, tão distante...
Olho o calendário.... 2 semanas atrás... E parece que se passaram anos...

Impressionante!

Impressionante como as relações de tempo são ilógicas! Parecem estar se transformando...
Muita coisa acontecendo? Muita informação simultânea? Ou estamos mesmo mudando nossas concepções e percepções temporais?

E, praticamente na mesma medida, o contrário também se aplica... Parece “que foi ontem” mas, na verdade, quando a gente vê, lá se foi 1, 2, 3 meses....

Tão contraditório quanto instigante....

Contraditório como eu...

Que, ao mesmo tempo, que me atrapalho (tanto...) com “alguns tempos”, com horários, com datas, com lembranças temporais definidas e determinadas, sou extremamente afoita e interessada com e em “filosofias do tempo”, com a “física do tempo”, com esse mundo misterioso e fascinante...

Tempo.... que rima com alento. E com vento... efêmero e passageiro. Nada ‘venta’ o tempo todo... Nada ‘tempo’ o tempo todo.
Ai, ai... Lá vou eu com meus poeminhas sem pé nem cabeça... um sem tempo, outro ao vento...

Papo sobre o tempo rende uma vida...


Volto para o fim de ano corrido e apressadinho...

De repente inventaram que era Natal... Que é natal, fim de ano, reveillon e que tudo e todos passam a ser diferentes por causa disso!
Loucura! As pessoas parecem não estar no “aqui e agora”, todas preocupadas e afoitas com o “fim de ano” que vem pela frente...
Opa!
É fim de ano ou é fim do mundo?
Tudo 8 ou 8.000!!!! Mais do que eu... Ou tudo está lotado, abarrotado, cuspindo gente pelos ares, com lojas e comércio lotados e abafados, engarrafando até as calçadas. Ou é um vazio mórbido... um vazio que faz eco, que dá a impressão de se ouvir o vento assoprando em tons de cinza...
Só por que é Natal?

Olho para as pessoas que esvaziam as ruas e abarrotam as lojas americanas até engarrafar a calçada e me pergunto... Alguém aí se lembra do aniversariante?
Todos querem comprar presentes para as pessoas queridas, mas... toda hora não é hora para se presentear quem se quer bem?
Precisa de um pretexto? Precisa fazer do Natal um pretexto?
Datas comemorativas hipócritas... Mundo capitalista de merda.

Só o que eu vejo de bacana nessas tais ‘datas’ é a oportunidade de reunir a família. Pelo menos para mim, que já não passo mais os “domingos no sítio”...
Não precisa de presente. Precisa de presença...

Mas em todo lugar que se vá alguém deseja “feliz natal” com um sorriso pálido e vazio e ao mesmo tempo com uma alegria que nem ela sabe de onde vem... parece que é só alegria por ‘ser um feriado’, uma alegria pela rabanada que se enfiará goela baixo. Que sentimento o cidadão que eu nunca vi na vida tem ao me desejar “feliz natal, feliz ano novo”?
Ou então, se ele me quer bem e me deseja algo de bom, por que no “praxe” do Natal?
Por que não um “feliz sempre”, “feliz todo dia”, “feliz ano todo”?

Às vezes acho que de normal nesse mundo só tem eu mesmo... Que estou cá em grande crise existencial por que não sei dizer qual é a melhor música do Clash... estou há tempos me mastigando com isso... london calling ou the guns of brixton? london calling ou the guns of brixton? london calling ou the guns of brixton?
Fico aflita comigo mesma por que não consigo ter uma opinião plenamente coerente e definida a respeito. Faço listas para tudo e essa eu não consigo ‘fechar’...

Lembro do não-sei-lá-quem Gordon (...), do personagem do John Cusack em High Fidelity...

Sinto-me como um personagem...

Pareço cada vez mais um misto de “não-sei-lá-quem Gordon” com “Amelie Poulain”... Dentre crises pessoais, existenciais e filosóficas tão profundas e tão íntimas, porém ao mesmo tempo tão constantes e determinantes na vida corriqueira... Dentre paixões esquisitas e vagas, vivendo muitas vezes em um mundo tão particular e tão pessoal...

Tocando a vida... e sentindo lá dentro coisas grandes que parecem ínfimas, e outras pequenas que parecem gigantes... ao mesmo tempo tão frustrantes quanto determinantes ao comum e ordinário que se é.

E o fim de ano?

Meio que não estou sentindo o tal “espírito”...
Sinto um corre-corre que parece que não é comigo.
Sinto 200 outros corre-corres que parece que só eu estou sentindo...

Não consigo parar para pensar em Natal e Reveillon... Faço tantos planos com outros compromissos que não sei ter planos de “fim de ano convencionais”...
Vou ceiar com a família, e volto no mesmo dia.
Reveillon? Sei lá... está tão longe, tão distante... Tem tanta coisa pela frente daqui até lá...
Vou deixar para pensar na hora. Vou pular 7 ondas na banheira.

Comemorando pelo aniversariante do dia todos os dias.
Fazendo de cada dia um motivo de celebração.
Vivendo constantemente o “espírito” de coisas boas e sentimentos bons.
Começando e recomeçando um ano novo diariamente.



... nessa casa se ouve Bauhaus

sábado, 20 de dezembro de 2008

por aqui... e por aí...


foto Otávio Rodrigues




... nessa casa se ouve David Bowie.

domingo, 14 de dezembro de 2008

juízo final

Ainda na série “aceito boas sugestões”, inaugura-se agora novo tema... “o mundo segundo DR”...

Mundo particular. Mundo peculiar. Mundo único, sob uma visão mais característica ainda...

Porque para tudo no mundo (pelo menos no meu...) há sempre uma teoria embasando e fundamentando os processos envolvidos. Porque em e para cada mundo há (sempre...) um porquê para tudo (ainda que a gente não saiba ou não perceba...).

Primeira questão:

...é que eu tenho uma convicção...

Talvez alguém se pergunte... “uma?”

Talvez alguém pergunte “só uma?”, ou então...
“convicção?”, talvez ainda a indagação crucial... “tem?”...

Mas o fato é, que dentre tantas (talvez não convicções, mas fundamentações... certamente abalizadas nesse mundo-único), a primeira teoria a se apresentar é quase uma revelação...

No dia do juízo final (sim... ainda acho que ele virá...), ao sermos todos barrados por São Pedro na grande porta de sabe-se-lá-aonde, prestaremos contas sim!

Seremos confrontados e intimados ao grande julgamento. Está nos grandes escritos de DR, que não é lá um evangelho... Está nas escrituras e nas profecias, nas partituras e nas poesias...

Eis (que em verdade vos digo) que...

No dia do juízo final, prestaremos contas ao Google!

Rapaaaaaz! Pode acreditar. Vai por mim. É isso mesmo que você ouviu... “no dia do juízo final, prestaremos contas ao Google!”
Não tenho dúvidas a respeito. E mil razões para ter se tornado uma convicção... Pare para pensar a respeito um minutinho... veja se não tem mesmo fundamento....

Os ímpios se colocarão frente ao grande julgamento, no tribunal celestial-virtual.

Toda sua vida será revista em versão beta, apresentada aos seus olhos em 1 – 10 de aproximadamente tudo que você fez nesse site...

Que essa é uma verdade, isso é.

Só não sei para onde vamos dali para frente... talvez hajam pesquisas relacionadas, talvez a página seguinte não possa ser exibida, talvez ainda alguns tenham que voltar para tentar outros links...


... nessa casa se ouve Placebo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

embalagens

Foi meu aniversário. Mamãe veio para cá. Trouxe amor, carinho, um bolo dentro da mala e um presente de papai.

Volume conhecido... aquele formato que é quase impossível fazer uma surpresa...

Garrafa! Não tem erro, já sei o que é.

Papai que mandou? Já sei. É vinho.

O momento de curiosidade e surpresa é só o de imaginar... “Uau! Qual vinho será?” e “Será que tem cartão? O que será que está escrito?”

Eis que... abro a embalagem e lá dentro da sacolinha estão 1 singela e mágica peneirinha de plástico e 1 memorável abridor de vinhos, que existe desde antes de eu nascer, com cara e gosto de memória afetiva pura!

Isso é que é surpresa!!! O resto é conversa...

Independente do volume previsível da embalagem o conteúdo foi mesmo surpreendente e emocionante.
Tinha também um (lindo) cartão, com “truques e trecos” de papai, e também um “envelopinho” (famosos envelopinhos dessa família...) que papai disse ser “magro”.

Pai! Ora essa... Envelopes são magros por natureza. Se fossem gordos seriam caixas.

Esse pacotinho recheado de coisinhas foi a maior riqueza que o senhor poderia ter me dado. A maior honra e maior alegria do mundo estavam ali comigo.


Imagem da semana * embalagens



Que raios esse tucano está fazendo aí?
Que raios esse tucano?

Será que é “strong” por que o tucano quebra a semente de guaraná com o bico? Mas aí... quem é o “strong” dessa história? O guaraná ou o tucano?
Será que esse guaraná é produzido ou fabricado em algum lugar que tem muitos tucanos?
De onde saiu esse passarinho horroroso?

Que loucura! Quanto mais eu olho para o rótulo mais assustada vou ficando...

Acho embalagens sempre coisas fascinantes... muitas vezes curiosas, muitas vezes formosas, muitas vezes horrorosas...

Tenho aqui quase uma coleção.


Uma das recentes...

Comprei por causa da embalagem... comprei logo duas. Nunca tinha visto nada igual. Tem até um arco-íris...
E o fundo rosa então? O “sonho em cor-de-rosa” do guaraná Jesus não esperava por essa...

Guaragay é fantástico. Quase um ícone...
Ficou me surpreendendo durante meses... depois perdeu um pouco a graça... vi para vender em 2 ou 3 lugares e fiquei com a impressão de que “o mundo conhecia guaragay” e só eu estava pasma em ver aquilo...

Não tomei o guaraná ainda... ainda nem abri... não deu muita coragem e, além disso, está fora da geladeira há mais de um ano... se não for ruim já deve estar péssimo.... (na verdade também não tomei o strong ainda...)


Uma das preferidas...
Indiscutivelmente uma das melhores que eu já vi na vida...

Encontrei-o meio sem querer, com sede de matte leão foi a alternativa possível oferecida.

Fantástico! Mate tigrão!

Veja bem... ele não é “leão”... é “tigrão”.
O fundo laranja, a fonte rechonchuda, o close da cara do bicho... O que que é esse tigre??? Parece que saiu da embalagem de sucrilhos, puto, com os olhos em fogo...
Mate tigrão é tão bom que fiz questão de ficar com ele na ‘partilha dos bens’... Já morou na cozinha, já foi porta-escova de dentes e hoje é um lindo porta-lápis.
Mais uma...

Essa eu ganhei de presente.

Susana... disse que me deu por causa da embalagem, sabia que ia adorar.

Puxa... adorei realmente! Mas que é esquisita, é... quase inimaginável.

É um misto de Tarzan-literalmente-selvagem com flyer-de-telefone-público... Uma loucura!
A dona-loira-meio-sheena literalmente derretida nos braços do cara, meio-rambo-meio-mogli, com um cabelinho anos-80 que é incrível imaginar que isso possa ajudar a vender alguma coisa... Mas o produto parece mesmo ser ótimo, um combinado de catuaba com guaraná e marapuana, seja lá o que isso for... E no verso está escrito “beba antes de agitar”...


E como aqui o que se fala é tudo verdade, vai de lambuja uma da peneirinha...


... nessa casa se ouve Billie Holiday.

A imagem da semana dessa vez poderia muito bem ser o coadorzinho que mamãe trouxe, papai mandou, mas é que eu vi algo muito “curioso” (ou melhor, muito esquisito...) que me lembrou outras coisas mais curiosas e mais esquisitas ainda, que resolvi fazer uma “imagem da semana” temática...

Sabe como é... vida nova, novos hábitos... a gente vai aprendendo a se adaptar às fases da vida, né. Pois bem... tenho comprado coisas “que não precisam de geladeira”... e aprendido um monte com isso, além de ter feito experiências e descobertas incríveis.

Dia desses deu vontade de bebida (não, não é whisky caubói, nem vinho guardado no cantinho). Deu vontade de beber coisas doces.
Groselha eu já não encontro mais... Refrigerante sem gelo consegue ser ainda pior, sucos já perderam a graça...

Já sei! Guaraná concentrado! Vai ser bom para mim, é doce, fresquinho e ralo. Fica bom com água-quase-temperatura-ambiente que sai do filtro, fácil, rápido, não estraga, não tem que espremer...

Perfeito! Vou comprar um desses guaranás. Vou até o “mercadinho natural” porque lá deve ter boas opções nesse quesito.

Bom... eram três opções... escolhi o mais caro (nessa hora deu “alguma” maior credibilidade nesse sentido...).

Guaraná “strong”....... Uau!!!! Será que eu fico “strong” too? Vale por um espinafre do Popeye?

Chego em casa e vou ver o que fiz de meu mais recente investimento.
Ai, ai... a embalagem é terrível... não faz o menor sentido. Não estou entendendo nada...

sábado, 29 de novembro de 2008

imagens

Inaugura-se já a primeira edição da “imagem da semana” (...). hunnnmm, será que vai funcionar?
Acho que sim, talvez não “toda semana”... Enfim, resolvi mesmo ilustrar visualmente o blógue.

Recebi a doce sugestão do tema de mr. Hermida-de-Cooperfield, também já ouvira a doce Ticianne falando “bota essas imagens no blog” em algum outro contexto ou momento, e ontem ainda ouvi algo do tipo “muito texto, faltam imagens”...

É mesmo... logo eu, que sou “tão visual”, fico aqui só de letras e palavras...

Há algum tempo tenho críticas estéticas a essa casinha... acho o layout do blógue meio chinfrim..., mas não sei fazer melhor agora, nem me disponho a tomar algum tempo para aprender de imediato. Sinto falta também do “visual”, mas sei que sou mesmo contida em “expor o que é meu”.

Já pensei em botar boas imagens do (farto) “acervo DR”, que é mesmo um banco de boas coisas por aí... Mas... sempre tão displicente... tenho centenas de boas imagens quase sempre sem um pingo de ‘cuidado autoral’, não sei mais de onde salvei, não tem créditos de onde vêm, links ou menções precisas.

Elas simplesmente moram em “meus arquivos”, sob denominações ou critérios que eu organizo (pelo menos isso eu sei...), em diretórios com nomes esdrúxulos do tipo “para tatuagem”, “paredes”, “coisas interessantes”... Esse banquinho é mesmo rico visualmente, atualizado, com mil referências e fontes de inspiração, e tem mesmo “minha cara”, e nem é o único; divide espaço com os acervos temáticos de boas coisas que se vê por aí... “móveis”, “espaços”, “costuras”, e por aí vai... Fora esses ainda tem a quantidade absurda de papéis que brota diariamente nessa casa... desenhos, rabiscos, fotos. Recentemente até a “mulher-prancheta”, famosa personagem de histórias em quadrinhos que só eu conheço, ressuscitou. E tem ilustrado as paredes e pastas desta casa em novas aventuras e peripécias. Tenho andado com a câmera em punho, feito novas fotos a cada dia, enfim é mesmo um mundo de imagens...

Sempre penso na máxima “a vida é feita de sons e fúria”, mas... minha vida é mesmo feita de sons, alguma fúria e muuuuitas imagens...

Aqui em casa tenho um varal, por onde passam e revezam-se as “imagens da semana”... hoje olho para ele e estão lá: 2 postais com xícaras de café, um com uma mancha de tinta que ficou linda, um bilhete de meu pai (que veio junto a uma garrafa de vinho), um galho de louro de cabeça para baixo, um flyer do multiplicidade, Keith Richards todo enrugadinho ao lado de um Pablo Picasso noviiinho, com um olhar 43 que parece estar me vigiando, algumas estrelinhas de arame e uns pregadores ainda sem nada pendurado... bem ao lado tem um encarte do museu vitra, que eu vou folheando e mudando as páginas expostas a cada vez. Isso tudo só no mesmo canto... fora o que está colado por aí...

É... a casa de cá é bem ilustradinha...

E essa casa virtual não a reflete assim tão bem...
Então...

Imagem da semana (número 1)...

Ai, ai... os padrões... Já quebrei.... A “imagem da semana” da vez na verdade serão duas.
Como hoje é meu aniversário, e apesar de eu não dar muito crédito ou mesmo acreditar em calendários, marca alguns anos de minha presença neste planeta.
Busco comemorar isso todos os dias, mas a foto é da primeira vez que eu o fiz “oficialmente” – aniversário de 1 ano.
 Imagem da semana (número 2)...
É meu “descanso de tela” já há algum tempo... é tão boa, tão boa, que tenho dificuldades em trocá-la... acho que sou capaz de listar 237 motivos e razões para ter curtido tanto. Essa é mesmo da série “é a minha cara”...Para tentar me redimir das “citações sem autoria”, essa pelo menos eu sei dar os devidos créditos.. é de Vincent Dixon, autor de boas campanhas e anúncios que tem por aí, pai de 4 filhos, mora em Nova Iorque. Arrasou, hein cara!... nessa casa se ouve Nirvana.




PS. Sobre a foto do primeiro aniversário...

Eu me perguntava (há anos....) "quem será que bateu essa foto?"

"que olhar concentrado, meio curioso... quase falando... será que eu olhava para a câmera ou para o fotógrafo?"

"mas o que será que eu estava pensando que acontecia ali?"

Descobri hoje quem fez a foto!!!!

Dando os créditos ao fotógrafo: fotografia Otávio Rodrigues.

Que disse ainda ter feito umas 10 fotos da prezada senhorita na ocasião. Que era o único a registrar tamanha emoção das festividades. Algumas fotos eu andava no carrinho (não no belo fusquinha ali de fundo, mas sentadinha no carrinho de transportar bebês), outras eu estava no chão, por aí... como essa que se apresenta.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

greenaway

Semana passada vi a apresentação do Peter Greenaway e me emocionei para chuchu...
Talvez eu esteja sensível demais esses dias... Talvez eu filosofe demais e determinadas coisas no mundo me emocionam... Talvez nem nada disso, mas sei que eu até chorei...
Acho que fui uma das poucas pessoas que realmente gostou do que viu....

Enfim, essa mentezinha inquieta aqui, como é de costume, fez 1 milhão 902 associações diferentes e pensou outro tanto milhão de coisas e ficou toda eufórica com aquele senhorzinho ali...

É que eu ando (...), ou melhor... acho que eu sou, mas ando cada vez mais curiosa e instigada com o tempo... aahhhh, o tempo....

Será que é porque a gente vai vendo e vivendo o tempo passar e passa a se questionar mais e mais sobre ele?

Mas o tempo... essa unidade arbitrária que eu realmente não sou capaz de definir, muito menos de entender... mas que tanto cutuca, inquieta, instiga.

Pois bem, mr. Greenaway me deu uma pequena lição sobre o tema. Em mil variações, aplicações e naturezas distintas.

Uma das coisas que mais me fascina no cinema é a capacidade “de romper com limites do tempo”... a maestria das linguagens e narrativas de seqüências temporais quebradas, invertidas, subentendidas... (e tudo isso então, quando (bem) amarrado a um bom e cativante enredo, a um visual realmente artístico e caprichado, uma boa trilha sonora entre algumas outras qualidades, dá um programão! Desses de dar gosto de assistir, de querer projetar na parede de casa de forma ininterrupta...). Bom, eu realmente gosto de filmes, apesar de ter assistido muito pouco recentemente. Estou sem TV desde março (e sim! a gente sobrevive!), então já faz um tempo que não me “deslumbro assistindo uma tela eletrônica”...

Mas voltando ao “quesito rupturas temporais” que o cinema magicamente me comove... E ao bom velhinho que me fez chorar... a apresentação do tiozinho também foi um programão!

O visual, artístico e caprichado? As imagens eram mesmos fantásticas! Fotografia impecável, lindo, lindo! Algumas tão bonitas que dava vontade de ‘congelar’ e olhar por dias, com a certeza de que a cada momento sairiam novas informações e interpretações dali...
A trilha sonora? Apesar do DJ de plantão, confesso que achei bem mais ou menos, mais para menos.

Agora, o enredo...

Uhhhhh (e eu achava que eu era louca...)... O senhor de cabelos brancos brinca com o tempo como bolinhas de malabares flutuantes de mão à mão.

Seqüência? Coerência? Prudência?
Para quê?

Ele vai além, vai sobre. Faz jogos de ordenamentos, justaposições, montagens inquietas e tão vibrantes como o tempo breve de quem ali assiste...

Bom, alguns não acharam assim ‘tão breve’... ouvi queixas sobre a demora, a redundância, sobre ter sido uma apresentação ‘cansativa’...

Mas... Será que isso foi o que mais ‘tocou’ os que ali estavam? O tempo que permaneceram sentadinhos no teatro?

Será que todos os tempos que o jovem senhor nos mostrou não foram muito mais além, não falaram de forma mais simbólica sobre mil relações do mundo, inclusive as do tempo? Tempo este que nos deixou ali sentadinhos por “tanto” tempo?
Brincar com uma seqüência repetitiva de determinada coisa...
Como fazemos isso cotidianamente? Como fazemos isso contemporaneamente?

Fazer cenas e seqüências tão inconstantes como a própria percepção (que temos) do tempo...
Maestro. De tempos e imagens.
Que tempo?
Seqüência causal? Ordenamento? Começo, meio e fim?
Para quem e de quem? Só o ‘por quem’ estava ali de alguma forma...

Tempo onde? No relógio? Em que fuso-horário? Estamos em um ‘tempo’ em que tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares... barreiras já foram transpostas nesse sentido.

E as imagens... tão cambaleantes quanto saltitantes. Uma profusão de informações tão confusa quanto estimulante. Delícia!

Alguém esperava pelo fim da história?
Que história? Se a cada informação que recebemos atribuímos nossas próprias interpretações pessoais, tão subjetivas e individuais? Ahhh, história mastigada, tempos e espaços pré-definidos. Precisa? Ou somos cada qual capazes naturalmente de “dar nosso sentido” àquilo que vemos e recebemos?

Seqüências alteradas são mesmo mágicas nesse sentido... a mente projeta!!! Cada um “vê” e/ ou “entende” independente de ter sido ou não “mostrado”.
Não é fantástico? Delicioso e emocionante?

Mr. Greenaway, críticas quaisquer á parte, fez mesmo um show!
Mas... fez um filme que não é inteligível...
Não? Ou cada um, cansado ou não pelo tempo ali sentado, não compreendeu alguma coisa de alguma forma?

E fez ao vivo!!! (mais um ponto que me emociona realmente... )

Ok. Ele não inventou roda nenhuma... diz a lenda que (há “algum tempo” atrás...) os montadores de Eisenstein já haviam descoberto a assombrosa propriedade de combinar pedaços de filmes distintos em “outras” seqüências transformando a história em outro conceito ou enredo. Isso do (muito) pouco que sei, fora outras inúmeras criações, invenções e devaneios que devem ter havido por aí...
Mas... ele fez para a gente ver, na hora, aparentemente sem cortes prévios e maiores precedentes ensaiados, sujeito a qualquer tipo de fator inesperado ou imprevisto.

E mais... emoção número 3... a cabecinha alva e iluminada (que já deve estar beirando seus 70 anos... ou até seus 70 filmes...), clareava a todos falando do “cinema do futuro”... Aos 70 falando do futuro? Fazendo o futuro?

Ahhh, o tempo.... que tanto açoita quanto emociona...

Eu, que às vezes me sinto velha, aprendendo mais uma.

Eu, que às vezes me sinto desatualizada, tecnologicamente desinformada, aprendendo mais duas.

Eu, que naquela noite fui dormir emocionada, sonhei com Tulse Luper!!!! (que, para mim, na verdade era aquela mocinha de vestido branco....). E uma voz grave e ríspida falando como se me sacudisse, como se tentasse me despertar para um óbvio que só eu não via... “Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo”...
Acordei. Levantei. Zanzei pela casa três vezes, às três da manhã...

Eu, que às vezes durmo como se o mundo pudesse derreter e eu continuaria dormindo, acordei aflita com a “revelação”...

Mr. Greenaway, foi você assoprando e assombrando meu ouvidinho? Anyway, obrigada por encher meu mundo e minha alma com tantas emoções. A você e a todos que de alguma forma contribuiram com essa experiência única e transformadora, colaborando nas minhas formas de representar o mundo...

Eu, aprendendo mais 1000.

... nessa casa se ouve Pixies

domingo, 23 de novembro de 2008

Dani através do espelho...

Tenho a impressão que espantei meus fiéis leitores... tinha a sensação de que é tudo tão mais ou menos que nem minha mãe seria leitora desse universo particular... Bom, descobri que pelo menos ela lê (ou já leu alguma vez..) as aventuras do estranho mundo de dani...

Sei que eu andei aí com esses ‘poeminhas de merda’ que eu entendo perfeitamente que tenha esvaziado a casa...

Hoje eu queria cortar o cabelo. Mas queria cortar à navalha...

Navalha não é ferramenta que eu tenha... aliás, navalha é mesmo algo muito violento, realmente não é apetrecho doméstico, ou ferramenta-de-mocinha.
É objeto cirúrgico, é rude e intenso, e ao mesmo tempo, delicado demais para mim...

Fora os objetos “cotidianos” – tesoura, faca e estilete – o máximo que eu consigo ter de objeto bizarro ou grotesco que parece que “saiu-de-um-filme-de-cronenberg” é um curvex...

Ahhh, tenho também uns bisturis. Uso para fazer maquetes.

Já cortei o cabelo com todos eles. Quer dizer, exceto com o curvex.... que não serve para isso mesmo.

Mas então... tesoura, faca e estilete...

São os mesmos de sempre... sempre corto o cabelo com eles...

Queria variar, queria cortar à navalha.

No meio do banho, xampu para um lado, cabelo para o outro e deu vontade de cortar ali mesmo... tamanha euforia e uma gana inquietante de passar o fio nos fios.
Fiquei com medo de pegar o estilete. Precisa mesmo de muita perícia para passar o estilete embaixo do chuveiro.

Água escorrendo pelas costas e eu pensando se talvez devesse ter um espelho no box... Imagina... Isso sim é grotesco! Meio ridículo, meio nonsense...

Onde já se viu? Um espelho no chuveiro?

Mas daria para cortar o cabelo no banho...

Ora, Daniela... Muito de vez em quando você vai ter vontade de cortar o cabelo no banho... Fora o desperdício, em tempos de guerra... tanta água caindo e você aí com o estilete na mão?
E os riscos de acidente? Cadê as normas de segurança?

Eu, freqüentemente, escorrego no banho... quando ensabôo os pés então é batata!

E olha que eu lavo um pé de cada vez! Ainda assim quase sempre escorrego.

E como eu morro de medo de cair no banho, prefiro muitas vezes tomar banho sentada. Na banheira. Principalmente quando estou tão empolgada ou eufórica assim...

O espelho no Box... ridículo! Eu não mereço... ter que tomar banho olhando para minha cara... espelhos nessa casa não são para refletir pessoas. São para refletir coisas, cantos, cores, objetos.

Passei a mão na tesoura que eu alcançava e... (já que eu não estou vendo nada mesmo...) vou cortar só três vezes! A primeira faz tchan, a segunda faz tchun e tchan- tchan- tchan- tchan.....
O cabelo escorre com a água. A água lava e leva.... cabelos, fios, pelos...apelos, exageros e desesperos.

Não fosse pelo “barulho de acidente” que ecoou pela casa, eu teria saído do banho e ido direto atrás do estilete.

O barulho?
Eu havia pendurado tantas coisas por aí... qual delas será que caiu?
Nada grave... uns pedaços de mural caíram... é que o mural é “em pedaços”. Um mosaico de pequenos murais formando um único maior.
Alguns caíram... cansaram, quiseram ir embora ou para outro lugar, ou simplesmente não agüentaram o peso do que já estava pendurado sobre eles?

Lá estou eu, enrolada na toalha, catando pedaços de mural em pedaços e só pensando “onde cáspita está o estilete”...

Resolvi então, na falta da navalha, que dessa vez iria cortar o cabelo “só a estilete”.

Mas... eu já tinha dado três tesouradas durante o banho...

Bom, vou fazer um corte novo e diferente então.

Estilete em mãos, espelho na minha frente “e lá vamos nós”...

Tenho medo (nossa... quantos medos...) de cortar o cabelo com a lâmina voltada em minha direção, com o fio da lâmina voltado para mim...

( * ) crianças!!!! Não tentem fazer isso em casa!!! A cipa informa que só a tia Dani pode tamanhas peripécias!!!!!

Aliás...
crianças, essa história é forte, contém cenas íntimas, de mundos psicológicos extremamente particulares. As coisas mais intensas e mais temíveis (apesar de ao mesmo tempo também as mais satisfatórias...) que se pode ter.
O contato (e o convívio) consigo mesmo... cenas quase sempre censuradas, não recomendadas para menores de 30 anos. Então, se você não tiver estômago para tal, mude de canal, veja o blog do lelê, ok?

Faço então o contrário. Vou sempre com a lâmina “do corpo para fora”... é muito doido! Porque eu aponto, rasgo e rompo em direção a mim mesma, refletida no espelho...

Isso sim é bizarro... mais do que “ferramenta-que-saiu-de-um-filme-de-cronenberg”...

Mas... o mundo é bizarro!

Será que eu sou assim tão anormal?

Acho que não. Não sou bizarra, nem muito esquisita.

Sou só única, exclusiva, cheia de peculiaridades, como todo mundo poderia ser.
Só que eu me olho no espelho com uma lâmina na mão, apontada e afiada à minha direção e... corto o cabelo!

Não gosto de me olhar no espelho. Aí sim é que me acho esquisita e bizarra... Não gosto, não.
Para fazermos as pazes, quando me olho no espelho tento fazer um ‘contato visual’ tão profundo que seja mesmo possível ver através dele.
Entrar na alma. Olhar para dentro. Olhar para si.
Sem ser vendo “só a casca”. Essa sim é a esquisita...

Certa vez quebrei um espelho inteiro. À marteladas... peguei todos os caquinhos e fiz uma mesa. Uso muito mais nobre.
Agora me olho no espelho e já não tenho vontade de quebrá-lo...

Semana passada eu me desenhei pelos espelhos da casa... sobre a imagem refletida, passei lápis, caneta e canetinha... parecia um carinho. Fiz o primeiro desenho meio ‘sem querer’ ou sem nem perceber; me empolguei e saí desenhando em todos eles.

Eu desenho em mim mesma nos finais de semana, em casa. Rabisco o corpo quase todo.

A tatuagem da perna nasceu assim... de tanto eu rabiscar tanto a mesma coisa no mesmo lugar resolvi tatuar para não sair mais durante o banho...

Agora estou com vontade de tatuar as costas, mas acho que pelo motivo contrário... não consigo desenhar nas minhas costas... e olha que eu tenho tentado muito... não alcanço meeeesmo, nem com a ajuda do (agora amigo) espelho...

Rabisquei o corpo inteiro até quase não caber mais. Quando olhei no espelho comecei a rabiscá-lo também. Era o espelho mas também era eu. A alegria era tanta que eu fui em todos os espelhos da casa (nem são tantos assim; a casa, muito menos... também nem é tão grande assim...), mas saí por todos eles com canetinhas em punho... em cada espelho um rabisco sobre mim. Literalmente. Fisicamente.

Deveria fotografar? Às vezes faço isso com a pele rabiscada... fotografo para ‘lembrar’ depois...
Mas... tão íntimo, tão pessoal... sou eu dentro de mim, não dá para fotografar assim simplesmente...

Então, fiz um ‘carimbo’ de alguns deles. Tirei a impressão com papéis no espelho. Um papel entre mim e a imagem, entre eu e o reflexo desenhado. Saíram algumas texturas, algumas cores, coisas que só eu mesma vou saber depois ao vê-las...
Depois lavei. Como me lavo.... Deixando a tinta escorrer...

Espelho. Cabelo. Desenho.

Esse fimdê eu não desenhei em mim... mas cortei o cabelo.



... nessa casa se ouve Radiohead

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

casa...

A casa é esquisita, a dona também...
A casa em reforma, se transforma, se cria e se recria. Eu também...
Quando chego em casa tenho aquela sensação de estar em meu espaço.
Quando chego em mim mesma, tenho a sensação de estar em casa...


A casa é um acaso... A casa é um abraço.
Um laço, um traço, a casa que faço.
Laço e nó.
A casa que vivo só.

Casa.
Caso.
Descaso.

Casa extravasa,
Eu, asa...

Casa casual. Casa causal.
A casa e a causa.
Pausa.

À casinha. Sozinha.

Casa sólida, casa solidão.
Casa chão. Carreira solo. A casa que moro.
Casa só, sem dó. Casa em pó.

Casa avesso, casa em verso.
Casa posso, casa passo. Caso nosso.

Caso passa.
Caso raso, casa passa.

E se acaso, caso case
Cada casa, caso fale.

E se à casa, caso falhe
Cada caso, crasso ame

Casa cravo, casa trago.
Caso estrago.

E se à casa, caso crase
Casa base, caso fase.

Em casa, casa frase
Cada caso, caso arrase
Casa caso, casa base

E se acaso, a casa traça
Cada amasso, caso asso
Casa faço,
Casa aço.

Casa casta, casa basta.


Caso comigo em minha casa.



... nessa casa se ouve Ramones.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

o vinho e a rolha...

Trabalho terminado, roupa lavada, casa (semi...) arrumada, resolvi tomar um vinho.

Comemoração. Celebração.

Comprei um (bom) vinho (português!!!!) hoje. E um bolinho, daqueles de duas cores que parece que faltou chocolate para fazê-lo todo de uma cor só... tem gosto de casa-de-tia misturado com lanche-de-escola. Bonzão!

Pois bem, fiz questão de escolher um bom-vinho-português (é impressionante como eu estou ficando cada vez mais criteriosa... ou exigente... ou rabugenta... mas, enfim, a vida é breve demais para ser desperdiçada com um vinho vagabundo).

Já era até meio tarde, quase indo dormir e resolvi tomar o vinho.

Comprei para comemorar hoje. Vou tomar hoje.

É boda de casamento de mamãe e papai. Cinqüenta e lá vai cacetada de anos juntos! É mesmo louvável, verdadeiros maratonistas.

Pensava... já que era para tomar hoje, vou abrir então.

Eis que começa o drama...

Saca-rolha em punho e o que era drama vai virando tragédia... achei que as coisas estavam mesmo esquisitas... primeiro porque o saca-rolha já não entrou bem pelo meio da rolha... segundo porque, de repente, ele já foi parar lá do outro da rolha, dentro da garrafa...
Tentei tirar delicadamente. Só piorou.

Merda! Que vergonha.... isso é quase uma desonra. Ai, se meu pai visse isso... ele que me ensinou direitinho a abrir um vinho... e olha que eu era uma criança, aprendi com toda a manha. Na verdade, a “técnica de papai” é meio excêntrica... quase acrobática. Mas é a única que eu sei. Aprendi assim. Sempre abri vinhos assim.

A tal técnica (...) consiste em encaixar a garrafa meio entre os joelhos, meio no meio das coxas. A garrafa inclinada da esquerda para a direita e a mão direita puxa o saca-rolhas séria e cuidadosamente até fazer POC.

Como é uma técnica muito peculiar só me atrevo mesmo a fazer em casa. Às vezes que eu o fiz em algum outro lugar as pessoas sempre olharam horrorizadas (e correram para cima de mim, tentando interromper o processo...) exclamando “Meu Deus!!!! Mas o que você está fazendo?”
“Abriiiiindo o viiiiiinho”....
“Assim? De cócoras?”
“POC!!!!” E eu pensava... “pobres mortais... faltaram á aula de Baco, só sabem abrir vinho com abridor que tem bracinhos”...

Bom, mas já havia começado tudo de forma inusitada... o saca-rolha arrebentando a rolha com demência. A rolha começando a se desfazer e sem sequer sair do lugar!!!

Saco o saca-rolhas. Pego outro...

O furo que já estava arrebentado vai virando uma cratera. E nada da rolha se mexer... só soltava pedaços imprudentes pelo chão.

Será que não era para eu tomar o vinho hoje?

Será melhor deixar ele aí quietinho, e quando alguém vier tomar um vinho comigo, aproveita e abre?

Ora... faça-me o favor, Daniela... Era só o que faltava? Precisar de alguém para abrir um vinho para você?

Desde quando você é mulher disso?

Desde quando precisa de companhia para tomar um vinho? Muito menos para abrir para você...
Deixa disso e abre logo isso aí.

Pois bem, quanto ao estrangulamento da rolha... metade dela parecia já ter virado farinha dentro da garrafa. Putz... vinho sabor rolha... custou tão caro para ter uma rolha xexelenta dessas? Custou tão caro para agora ter gosto de vinho-com-rolha-xexelenta?

Calma, calma... não é o fim do mundo. Respire fundo. Isso acontece com os melhores abridores de vinho no joelho que existem.

Já vi acontecer. Talvez até mesmo com papai, exímio saca-rolhista de técnica primorosa. É só pegar uma peneirinha e “coar” o vinho da sopa de rolha depois.

Putz de novo!

Nessa casa não tem peneirinhas... nem coadorzinhos...

Caaaalma! Você ainda pode pescar cacos de rolha.

E a calamidade continua. O segundo saca-rolha era um frouxo, a rolha parecia ser de areia.
Que faço? Vou raspando a rolha até remover por completo?
Ahhhh. Vou tomar esse vinho hoje nem que seja de canudinho pelo rombo já feito!!!!

A rolha acorda (ou o que sobrou dela...). Primeiro sinal de vida em movimento e uma leve giradinha para fora!!!! E a galera fazia Uhhhhh...
Movimentos repetidos e abrem-se as portas da esperança!!!!!

A cozinha parecia que tinha sido palco de uma guerra de paçocas! Uma coisa impressionante... caco de rolha para tudo quanto é lado. Ridículo.

Viro o vinho na tacinha e a garrafa vai vomitando a rolha estraçalhada... uma coisa horroroooosa.
Pesquei rolha de garfinho...

E agora? Tomo a garrafa inteira? Como é que eu vou fechar? Nem me atrevo a tentar botar o palito que a rolha virou aí de novo...

Fecho com outra rolha? Mas... de outro vinho, de outra safra, outro paladar? Isso não vai dar certo...

Fecho com durex? Deixo um copinho em cima?

Depois penso nisso.... vou para o meu vinho com bolinho, vou tomá-lo com todo meu amor em nome das bodas. Celebrar esse encontro mágico, misterioso e esquisito que gerou uma família linda, mágica e esquisita. E que toma vinhos para comemorar e que abre suas garrafas (quase sempre...) com maestria singular e um primor fora de série.

Amo vocês!!!!!! São a bússola e a âncora da maruja aqui...


... nessa casa se ouve Portishead

sábado, 15 de novembro de 2008

um dia aí...

sábado 15 de novembro de 2008.

Acordei muito esquisita...
Cansada, cansada por dentro e por fora....
Ontem desenhei até doer. Literalmente... até doer a mão, o braço, os olhos, o corpo todo. Até doer a alma...
Acordei (muito) feliz por isso.
Mas muito cansada e preocupada com outras coisas... trabalho para fazer em casa, muita coisa e pouco tempo, preocupações mil...
E me sentindo um trapo por isso...
Se eu pudesse passaria o dia desenhando novamente...
Resolvi “fazer um carinho em mim mesma”... sair para almoçar fora, sem pressa, correria ou hora marcada. Fazer depilação com cera (estou com essa onda agora...), fazer a unha e pintar de vermelho, enfim, cuidar dessa casca que tem parecido um “pequeno ogro das montanhas”.
Precisando relaxar... espairecer. Cuidar mais de mim, nem que seja ao menos por fora...

Doce ilusão...
Tudo fechado...
Nem manicure, nem depilação, nem restaurante natural, nem feirinha...
Putz! Feriado no sábado???
Que graça tem?
Para quê?
Só serve para atrapalhar a vida do freguês...

Já não acredito mais em feriados. Já acho tudo relativo demais para ser “celebrado”...
Preferiria mesmo que cada um decretasse seus próprios feriados.
Eu tenho alguns... não são “feriados” tal qual conhecemos, mas são datas, momentos, situações ou circunstâncias que eu tenho de celebração, comemoração, memória ou lembrança de determinadas coisas. Alguns têm até “rituais próprios”, outros ainda são inventados ou “decretados” na hora...
Mas voltando à porcaria do “feriado-que-cai-no-sábado” (só para atazanar a humanidade...)... deveria haver um decreto-lei que instituísse que “feriados que seguem o calendário gregoriano” (que, particularmente, já acho todo errado mesmo...), mas voltando à nova lei... “feriados que seguem o calendário gregoriano e que caem no fim de semana automaticamente deixam de existir, deixam de ser feriado”...
Pronto, bem melhor.
Se eu fosse do Poder Legislativo do Brasil talvez pensasse melhor a respeito. Mas essa não é uma ambição pessoal... Não quero mesmo ser do Congresso Nacional... Iria ter que andar com muitas más companhias...
presidente do país também já não cogito mais... já cheguei a pensar seriamente a respeito também.... aaahhhh, as ideologias juvenis... cogitei até estudar sociologia política para me preparar para tal... aí questionei... caraca? Será?? O que eu sei mesmo fazer é Arte... vou para outra área só por achar que posso dar conta melhor do que têm feito? Talvez eu possa mudar ou melhorar o mundo com minha arte, com minhas formas de expressão “naturais”...
E olha que esses questionamentos foram há pelo menos uns 15 / 20 anos... eu achava que o Brasil precisava de uma governante-mulher. Estava me disponibilizando para tal...
Passou...
Que bom! Ímpetos juvenis nem sempre são para serem ouvidos mesmo.

Tempo depois, vi que presidente sociólogo não é garantia de que funcione...
E quanto à governante-mulher parece que hoje estamos mesmo nesse processo... Mas???
Nossa presidenta será a Dilma???
Não podia ser a Soninha??? Muito mais coerente, consciente do mundo que estamos, muito mais lúcida!
Lembrando de algumas das figuras que hoje se colocam em condições de probabilidade (?), ou possibilidade, ou pelo menos intenções e trajetórias... melhor que Roseana.. melhor que Dona Marta (essa podia mesmo era se candidatar ao cargo de minha sogra. Eu votaria), Marina Silva?
E eu que cheguei a achar que ela estava no local certo na hora certa, que era um dos maiores avanços políticos do país ter Marina Silva no Ministério do Meio-ambiente e deu no que deu...
Sobra quem?
Rosinha Garotinha? Com nome de bebida com groselha?

Ninguém merece...
Quer saber?
Para me fazer sair de casa em nome de minha “liberdade de escolha política”, de meu “direito político” (?), eu só votaria mesmo para “primeira presidenta do Brasil”, na Rita Lee.
Vale a campanha.

Bom, uma única coisa é certa, sei o que falta aos políticos brasileiros. Qualidade única que, caso tivessem, as coisas seriam bem melhores. Creio mesmo que o que falta, e o que seria o grande trunfo à resolução e solução de problemas, é a “vergonha na cara”...

Eu cá já superei mesmo essa onda ideológico-político-pessoal e hoje só me candidataria a ser Rainha. Instituir a Monarquia, esquecer nomes e sobrenomes e uma herança esquisita do reinado português (e afinal, portuguesa por portuguesa, sou mais eu...), e seria a Rainha...
Tudo a ver!
Rainha-vira-lata!!!
Sem pedigree, mas raçuda pra chuchu!

E “god save the queen”...

Nossa!!!!
Tudo isso por causa da porcaria do feriado?

Tudo isso só porque continuo com a perna peluda...


... nessa casa se ouve Iggy Pop & The Stooges

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

hoje parece...

Hoje parece que não tenho muito assunto...
Hoje parece domingo. Meio insosso, meio desgostoso. Hoje é dia de finados. Hoje é um domingo inacabado.
Sinto-me como um domingo...
Primeiro dia da semana, traz a carga do que ainda está por vir.
Fim do fim de semana. Deixa o gosto de um tempo volááátil...
Estou tão sem graça que faço até um poeminha de merda... Passei o dia inteiro assim... rimando, comparando, filosofando... Trabalhando. Arrumando. Meio voando...

Colo coisas na porta. Papeizinhos, bilhetinhos, desenhos e tudo quanto é papel que, por algum motivo, não tive coragem de jogar fora.
Vou colando na porta... A xícara mais bonita da casa cheia de cola. Pincel numa mão. Papelzinho na outra. Vou lambuzando a porta, colando figurinhas, lambuzando as figurinhas.
É um “mural fixo”.
Será que eu consigo ter “algo fixo”, estático, imóvel ou imutável?
Mais uma vez acho que não.
Já pensei na cortininha para o dia em que eu enjoar ou quiser variar, como e onde pode ficar. Já pensei em outra porta para pôr no lugar.
Já pensei, já pensei, já colei...
Teve coisa que depois de colado eu já arranquei.
Acusação: “pouco envolvimento e significado afetivo”.
Defesa: “mas sou uma figura linda, ilustro uma bela praia, lindo céu azul, uma bela cidade de areia em primeiro plano”...
Acusação: “Literalmente, fofa, essa não cola! Castelos de areia são mesmo para serem derrubados. Tem pouco significado afetivo e ponto”.

Minha porta como um palimpsesto.
Domingo funesto.

Queria subir uma caixa para o alto do armário. Fiquei com preguiça.
Devia ter lido um livro. Rotina submissa.
Podia ter saído...
O domingo é um dia dolorido. Domingo mal digerido.

Estou chata que nem um domingo.

Quero um café, mas acho que não devo.
Devia dormir, mas só escrevo.
Enredo. Remendo.
Atrevo.



... nessa casa se ouve Joy Division.

domingo, 26 de outubro de 2008

a mulher moderna...

Tenho um quadrinho que me acompanha há várias cozinhas...
Adoro ele! Pendurei-o hoje.
É um pequeno pôster, um anúncio de revista, de mil-novecentos-e-coca-cola-com-rolha (creio que por volta dos anos 20, já não me lembro mais...), publicado em uma “Revista do Teatro” que comprei em algum sebo por aí...
Os anúncios antigos são muito divertidos. Além de eu gostar muito das linguagens ‘retro’ e do histórico visual das coisas, tem também a expressão de uma geração, filosofias e modos de vida da época vigente.

Este é mesmo um caso em especial.
“A MULHER MODERNA”... (lá pelos idos de 1920...) o texto a descreve como alguém que “já não usa um tão incômodo fogareiro, mas um outro que evita carvão e lenha”...
E a imagem é mesmo fantástica!!!! A tal “moça do anúncio” simplesmente tem um martelo (?) na mão e está arrebentando o antigo fogareiro na porrada!
Sua carinha é um misto de “cara de choro” com “certo sorrisinho amarelo de satisfação”. Olho para ela e imagino uma daquelas TPMs brabíssimas, com martelo na mão arrebentando o mundo em mil caquinhos... (já vi mesmo esse filme...).

Nossa! Será que sabiam o que era a TPM naquela época?
Será que Freud simplesmente conjugara a ‘histeria’, colocando-a como uma ‘patologia feminina’ possível e passaram a caracterizar algumas mulheres assim?
Será que achavam simplesmente que “as mulheres enlouqueciam por completo” de tempos em tempos, mas ninguém sabia bem por quê?
Será que uma TPM (zinha...) justifica mesmo alguns desses momentos? Como o de pegar uma marreta na mão e sair estraçalhando o velho fogareiro já que agora se tem um “fogão da vacuum, movido a petróleo sunflower”?
Ou o(s) modo(s) de vida eram assim? Comprou-se um eletrodoméstico novo e se sai arrebentando o velho ás bordoadas?
Tanta raiva pelo fogareiro, né... Mas...
Quantas vezes não fazemos isso? (...) Com a porta que emperrou, e a TPM, ainda despercebida dando leves sinais de vida, nos faz chutar, esmurrar, dar bundadas e cotoveladas na p-o-r-r-a d-a p-o-r-t-a q-u-e n-ã-o a-a-a-ab-r-e..., ou nos faz descontar toda a ira da humanidade no motorista do ônibus que demorou tanto a chegar, e por aí afora...

Mas voltando ao (fantástico) anúncio que “mora” nas minhas cozinhas... o “jantar completo levava menos de duas horas” a se cozinhar (e, ainda, “gastando apenas meio litro de petróleo”).....


Ahhhh, o tempo sempre tão relativo...

Menos de duas horas?
Caracoles!
É um banquete? É o refeitório de Bangu 1? Ou vem a torcida do Flamengo para jantar?
É o abate do frango no quintal, para depois depenar, fatiar, desfiar e fazer a canja?
Não havia anúncio de miojo? “Fica pronto em três minutos”...

Em duas horas (com tempo e com dinheiro) dá para eu ir para São Paulo, comer um pastel na feira com a família, e voltar!
E com o “fogão da vacuum, movido a petróleo sunflower” já dava para fazer um “jantar em duas horas”...

Ahhhh... o relativo sempre tão efêmero...

É raro acontecer, principalmente pelo fato de eu não ter fogão (...), mas hoje acho uma delícia poder levar duas horas para fazer o jantar... Esporadicamente, é claro. Não por necessidade ou obrigação ou ainda na rotina, mas é um privilégio e um prazer poder curtir fazer a comida. Com calma, com tempo, com magia. Ligar o rádio, assobiar e batucar junto com os talheres, tomar um aperitivo, ir comendo umas azeitonas e uns queijinhos enquanto a comida vai sendo preparada, beliscar uns pãezinhos no molho em preparo...
Adoro!!! E já não faço isso há anos...

Essa fase sem fogão é mesmo esquisita... Mas estou tranqüila, estou feliz. Meio que “acostumada”, meio que “esperando conscientemente”, e com outros valores de vida, o dia em que “as fases” se transformam, se renovam, acontecem.
Aqui é mesmo “uma casa muito engraçada”... (já tem “teto” e tem “tudo”), mas é mesmo esquisita. Não tem fogão. E sim, ainda assim, é uma casa. E cheia de vida!
Porém, uma casa diferente...
Não tem fogão, não tem geladeira, não tem “máquinas”... não tem televisão (mas tem youtube...). Tem música! Tem “trilha sonora” (e sempre toca música boa, graças a Deus).
Que mais eu posso querer?
Vamos indo, cada coisa em sua hora ou momento de acontecer. Grandes descobertas, invenções e aprendizagens no meio do caminho.
Já tem chuveiro (e quentinho!). Tem até banheira, com incensos, cigarros e bons livros nos dias mais tranqüilos.
Já tem pia! Duas! E são lindas! (teve época que não tinha nenhuma... e, decididamente, escovar os dentes na privada, com a mesma canequinha para água fria que era a do banho, é algo horrorooooso...)
A fé na vida e em si mesmo são um bálsamo. É mesmo o que move o mundo!

Já tem luz!!! (e esse também é um capítulo à parte...). Teve épocas também que não tinha.... E nem ao menos um lampião da “vacuum/ sunflower” para colaborar (e escovar os dentes na privada e no escuro consegue ser ainda pior... nem um pingo de glamour...).
Tem “lugar para dormir”, “lugar para trabalhar”, tem “hortinha” na varanda, livros na estante, roupas no cabide, computador funcionando.
Está tudo lindo!
Bagunçado, admito. Apertado, é fato. Mas tudo funcionando.
Coisas funcionando, casa funcionando, eu funcionando. Isso é mesmo tudo lindo!

E já tem até quadrinhos na parede, como o da “mulher moderna” na cozinha!

Falando em cozinha... vão também novas fotos dos acontecimentos neste território... Em suas fases...


Fase da “cozinha-caos-total”...




Fase do “ai, ai... bom, pelo menos eu vou saber onde posso furar depois”...




Fase do “só alegria, cafeteira na cozinha”


Fase do “U-hhuuuu! Armarinhos! Teto roxo-berinjela, uma iluminação dramática!”


Fase do “Uauuu! O que era bom está cada vez melhor...” cortina no armário, luminárias de bancada, Frank Zappa na parede.


Fase do “simplesmente um luxo!” escorredor de louça, já tem copos e xícaras, e até talheres!




Ufa!
Imagine... obra e reforma já são difíceis, complexas, caóticas e enlouquecedoras.

Morar na obra é tudo isso e um pouco mais, à milésima potência...

Morar na obra quando a casa inteira é tão pequenina que é um cômodo só, é um dos maiores desafios da existência humana...

“Fogão da vacuum” e “Petróleo Sunflower” é o caralho... Mulher moderna sou eu mesma!




...nessa casa se ouve Nina Simone.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

um almoço de domingo... 19 de outubro de 08

Normalmente aos domingos eu saio para almoçar fora... meio para descansar, meio para espairecer... É bom por um lado, pois faço algo diferente que creio ser merecido. Por outro, é bem chato... Acho deprimente comer fora sozinha. Prefiro comer sozinha em casa. Vai entender?
Então sento em algum cantinho escondidinho, quase ‘de castigo’, de costas para o salão do lugar e fico comendo e escrevendo em guardanapos.
Pomba? Mais papel que se acumula???
Dessa vez fiz diferente! Transcrevi os guardanapinhos para o blog. Amassei-os e joguei fora depois.
(agora o Google que faça o favor de guardar para mim!!!!)


Digo que “tem um Monk que mora dentro de mim”...

Metódica e cheia de manias. Cada coisa tem seu jeitinho certo de se fazer, cada coisa tem seu lugar certo de ficar, tudo cuidadosamente ajeitadinho.
Pode parecer uma bagunça, mas me entendo perfeitamente nela. Sei o lugar de cada parafuso, cada pequeno objeto tem seu porquê de estar em cada lugar.

Será que tudo na vida é assim também?
Ou deveria ser?

Cada um com seu porquê de estar em cada lugar? Cada um com suas funcionalidades atribuídas, com suas potencialidades utilizadas, pecinhas de uma grande engrenagem?

Penso o mundo como minha casa.

Faço da minha casa meu mundo.

Faço minha casa.

Quero poder fazer o mundo também.

Quero fazer o mundo como faço minha casa.

Não. Não é a maior bagunça... é com capricho, com amor, com prazer e com alegria.
Nem tudo é como a gente gostaria que fosse. Nem tudo sai como o esperado. Nem tudo é tão fácil como parece...
Mas... vai se fazendo o melhor.
O melhor possível. O melhor que se pode. O possível em determinado momento.

Minha casa é meu mundo.

No sentido “íntimo e pessoal” mesmo.
Aqui (literalmente) a banda toca sob minha regência. No sentido real, nem sempre... Quando o chorinho lá da rua é mais alto ou constante que meu equilíbrio pessoal (é porque, decididamente, eu acho que “chorinho demais faz chorar”... é que nem samba... “samba demais faz o cérebro derreter”, faz muito mal... Só desintoxica completamente com umas duas horas de outros sons quaisquer...).

Mas...

Voltando à casa, à casa-mundo. A casa-meu-mundo que só toca o que eu quero ouvir...
É meu mundinho também porque aqui estão as minhas coisas, as coisas que eu gosto de fazer, o espaço em que eu as faço.
Mas fora a questão “íntima e pessoal”, quase a senha do banco “pessoal e intransferível”...
E se a casa fosse o mundo?

Minha casinha, eu acho..., seria sem grandes desigualdades, sem grandes rivalidades.
Haveria água e comida para todos.
Mas comer no quarto não rola não... o quarto (que aqui não é bem um quarto... é um canto da casa que tem a função e nome de quarto. Na verdade, ele é, literalmente, um quarto da casa...) não é lugar de comida, aqui nessa casa-planeta...
Acho uó... meio nojento... café na cama para mim é coisa de doente... não vejo graça, luxo nem conforto nenhum nisso... é coisa de hospital.

Então o quarto seria uma nação sob o flagelo da fome?

Não.
O quarto seria uma nação riquíssima onde, por opção, sua população não come ali.
Pega um avião, carimba o passaporte, e vai almoçar na pátria-cozinha.

Vai almoçar na Itália, por exemplo.
A cozinha poderia ser a Itália.
Não sei se a Itália é barulhenta, mas os italianos que eu conheço são. Pelo menos a maioria dos que conheço, a população ítalo-paulistana parece uma revoada de maritacas. Todos falam ao mesmo tempo, cada um de um assunto diferente. Falam alto, se mexem sem parar, de repente um se estranha com o outro, vira bate-boca, aquele berreiro...
Mas minha família é portuguesa e é igualzinho (...)

Será que os paulistanos é que são barulhentos?

Em termos de “barulhos urbanos” os cariocas são muito mais... a buzina aqui é algo impressionante. Todo mundo buzina (muito!), o tempo todo, em qualquer situação...
Buzina se o sinal está aberto, buzina se está fechado. Buzina se está com calor, buzina se está com frio. Buzina para poder passar, buzina para ficar no mesmo lugar... É surreal! Parece que estão tentando fazer uma música. Ou que está valendo um prêmio... “quem buzinar mais ganha um milhão”.
Acho que buzina é item de fábrica obrigatório no Rio. Sem o qual não se sai com o carro. Tem carro que não tem nem porta... mas tem buzina!
Outro “barulho urbano” constante daqui é o “berreiro”... em tudo quanto é lugar, sob qualquer pretexto ou contexto. E, normalmente, é de forma repetitiva. O sujeito berra três vezes a mesma coisa. Acho que para ter certeza do que está berrando...
“três super bondííí é um real”, “três super bondííí é um real”, “três super bondííí é um real”.
“chumbinho mata rato”, “chumbinho mata rato”, “chumbinho mata rato”.
“coca, água, skol”, “coca, água, skol”, “coca, água, skol”. Essa é das mais berradas... em tudo quanto é lugar. E é ótima!!! Por que normalmente quando você chega junto e pede um dos três, não tem.
- “Dá uma coca aí, por favor”.
- “Só tem pepsi”.
- “Vê uma skol por favor”.
- “Itaipava, bohemia ou antártica?”
Impressionante!

É. Acho que a cozinha está mais para o Rio de Janeiro. Barulhenta, bonita e cativante.

Na casa-mundo será que o banheiro se sente injustiçado por não ter um abajur? A cozinha tem um. A sala tem outro. O quarto tem três...
Será que a Bolívia se sente injustiçada por não ter praia?
Acho a Argentina injustiçada por não ter as Malvinas... entrou em guerra por causa disso...
Nossa! Será que banheiro e quarto podem se desentender por causa de um abajur? Será que o abajur que está lá no quarto pode ser declarado como território oficial do banheiro?
Faço o seguinte, quando for ao banheiro eu acendo o abajur do quarto...

Enfim, mas o mais importante é que nessa casa-mundo há paz. E essa prevalecerá. Há respeito entre os espaços (quando há espaço...), há tolerância, minha com a casa e da casa comigo. Há convívio harmonioso independente de quaisquer diferenças.
E não há ganância, nem disputas de poder. Banheiro é banheiro, e vai ser banheiro. Cozinha é cozinha e vai ser cozinha. Sala é sala e será sala. Quarto, idem.
Mesmo se eu trabalhar na cozinha, dormir na sala ou ler no banheiro. Só não vale comer no quarto... Se não vou ter que instituir algum “tratado diplomático” por aqui...

... nessa casa se ouve Korn.


Ah... algumas das primeiras fotos da casa... Praticamente o mundo-pós-décima-quinta-guerra-mundial... Ainda assim acho-o tão poético...
Muita coisa já mudou por aqui... mas vou botar fotos em ordem cronológica. Pelo menos isso! Já me atrapalho tanto com o tempo, que ao menos a seqüência dos acontecimentos vou tentar manter... (e se alguém souber como faz para mudar o “relógio no fuso horário do pacífico” para o mesmo em que estou vivendo, aceito sugestões...)


A cozinha e o banheiro “integrados”... praticamente um loft...


O banheiro e sua entrada... um verdadeiro portal a ser transposto...

sem título para esta postagem...

Tenho uma aflição vigente...

É que eu mandei um e-mail comunicando aos amigos a existência deste blog...

Certa vez recebi um recadinho desses de um amigo. Achei simpático, entrei no link, li o que havia por lá, salvei nos favoritos. Vez em quando eu visito o tal amigo esquisito, mas ele nunca mais escreveu nada!!!!
Por que será que as pessoas fazem blogs para nunca escrever nada neles?
Não é a primeira pessoa que eu conheço que sofre desse mal.... aliás, a maioria dos blogs dos amigos é a coisa mais desatualizada que eu conheço...
Perguntava-me... será que eu vou fazer isso também? Será que alguém vai perceber? Vai vir aqui ler alguma coisa?

Mas voltando à aflição... mandei um e-mailzinho, meio malzinho, avisando que a portinha da casa estava aberta...

Como doeu mandar aquele e-mail....

Deu até um suorzinho na nuca, leve tontura....

Pensei 1000 vezes antes de fazê-lo....Mas, desta vez, pensei 1000 vezes em 15 segundos...
Certo medo... Medo de me expor? Medo ou vergonha, não sei bem...

Que será que acontece? Será que eu penso demais (e faço de menos...)? Por que tanta crise por tão pouco?
Tão pouco? Desde quando dizer o que penso é pouco?

Mas que deu um friozinho na espinha, deu... E, com freqüência, acontece isso. De eu ficar tão constrangida de me expor que titubeio no meio do caminho...
Dessa vez resolvi pensar rápido. Meio “agora ou nunca”! Algo como “fale o que sente e pensa agora ou cale-se para sempre”...

Minha nossa! Eu sou mesmo muito “bicho do mato”... Fiquei morrendo de vergonha...
Espero que ninguém leve a mal... acho que fico com medo dos outros, do que vão pensar... Sei lá...
Mas enfim, “aviso aos navegantes”: quem achar ruim, não o faça!
Não gostou, não come!
Acha chato, não leia!
Se for para reclamar ou criticar sem argumento, não precisa. Amigo que vem na minha casa é por minha causa, não para reparar se a casa está arrumada, não é mesmo?

Só sosseguei um pouco porque já estava feito mesmo, né... Vou fazer o quê? Engolir o e-mail de volta? Ligar para a Califórnia e pedir ao Google para interromper a transmissão de dados porque, no fundo, talvez eu não estivesse bem certa do conteúdo escrito...
Não rola...
Já é, já é... E sosseguei (muito) ‘mais ainda’ com a calorosa receptividade dos amigos. Deu uma sensação besta de que talvez eu não seja tão boba assim. Talvez seja mesmo interessante escrever algumas coisinhas que penso.
Aos amigos que me aturam (porque querem...), agradeço mesmo! Pois esse estímulo inicial foi fundamental.

Pequena crise número 2: é a tal da autocrítica... ou os rigores que às vezes nós mesmos instituímos em nossas questões só para ficar se remoendo depois...
Filosofava sobre isso tudo hoje cedo no banheiro... o “x” da questão acho que está na “revisão” ou na “finalização” das coisas.
Tenho mil coisas começadas (e, ainda..., não terminadas, na vida)... Tenho também mil coisas que escrevo. Poemas sem pé nem cabeça, histórias começadas, histórias-sem-fim, contos fantásticos esperando um desfecho, relatos cotidianos, impressões de mundo, registros de uma mente incansável, teorias, suposições, superstições e suspiros... e por aí vai...
Mas escrevo e muitas vezes nem eu mesma mais leio...
Escrevo e guardo. Guardo para que mesmo?

Nessa fase de remoer (e tentar arrumar as coisas... a casa e a vida e, no fundo, a mim mesma...) tenho encontrado tantas coisas guardadas (acho que ainda vou falar mais sobre isso outra hora...), e dentre estas uma quantidade absurda de papéis... Tenho até um caderno inteiro (mais papel...) só dizendo, definindo, interpretando ou inventando o que é um “papel”...
É muito papel... é papel, é papelzinho, é um papelão!
Tem papel desenhado, tem papéis meio rasgados meio amarelados, só com um desenhinho ali no canto... (desenhos também são um capítulo à parte...). Tem papel escrito pra cacete... haja letrinhas... Letrinhas combinadas que viram palavras, frases, ou quase uma enciclopédia inteira (que só define o que é “papel” na nossa vida...).
Enfim, tem muita coisa escrita mesmo. E a cada dia sai mais... e olha que eu tenho sempre a sensação de que eu penso e sinto mais do que eu consigo anotar, registrar ou fazer...

Mas voltando à angústia número 2 que falava... A questão da “revisão” e “finalização”... penso que boa parte das vezes as coisas não estão terminadas. Não têm um enredo amarrado, um contexto definido, um final coerente. Enfim, acho que não está “bom”, enfio em qualquer gaveta e blaáu... Nunca mais sei onde foi parar, nunca mais “terminei” ou fiz a bendita “finalização” que (eu achava que) precisava...
Nem tampouco a “revisão”. Não deu tempo, deixa p/ depois, e o depois já era...

Daí a ânsia pelo “por para fora”... E de imediato, titubeando cada vez menos, sem maiores arremates...

Quantas coisas são assim...
Aquela roupa que eu nunca usei, mas guardei porque “se eu fizer uma barra assim ou assado vai ficar jóia”, aquele desenho que “se eu pintasse ia ficar lindo”, um projeto fantástico “para um dia sair do papel”, e por aí vai...
Parou para pensar demais, já era...
Deixou para fazer a revisão até ter certeza de que era mesmo isso, idem...
A finalização? No dia “que estiver com tempo e com cabeça”? Ele não chega... Ou quando chega eu já estou entretida demais com uma nova idéia...

Resolvi fazer já!
(e acho que estou meio assim com tudo...)

Pode ser que o “textículo” que boto aqui não esteja tão bom (...), mas vai assim mesmo. Se não, fácil e inconscientemente, “vai acabar não indo”...

“penso, logo, mudo de idéia...”. Se um dia eu reler alguma dessas coisas todas e não gostar, não concordar ou não pensar mais assim... Que bom! Sinal de que estamos mudando, se movimentando, se transformando...
Quero apenas poder ter a certeza (?) de que “naquele momento”, era o que eu sentia, pensava, achava. Era o melhor que eu podia fazer, era o que eu tive vontade de dizer.
E ponto.

...nessa casa se ouve Santana

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Porém...


Porém....

Tanta água foi rolando, tanto entulho foi saindo, tanta caixa foi se abrindo e eu pensando e sentindo mais do que registrando... escrevendo, anotando, fotografando...
Mas a vontade de conseguir “por para fora” de alguma forma, esses sentimentos e pensamentos todos, ainda cutuca...
Há pouco tempo ouvi de uma amiga “faz um blog, bota esses links interessantes”...
Bom... a ‘pauta’ era outra. A sugestão era de outro tipo de conteúdo, creio eu. Mas fez pensar (mais ainda...) 1000 e 1000 vezes essa ânsia de conseguir se expressar.
Acho que é um grande desafio a ser encarado!
Acho que pode ser uma forma instigante de conseguir “por coisas para fora”...

Talvez vire mesmo um espaço de livre-expressão (uhuuu!!!!), de expressão de coisas quaisquer, interessantes ou não, porém ‘minhas’, com seus correlatos em minha(s) forma(s) de ver o mundo.

Bom, quanto à casa... ainda em processo de formação e transformação (assim como eu). Talvez com um “estado de caos” já menor (a casa, não eu...), mas em processo....
Quanto a mim... fora os processos de formação e transformação constantes, a cabeça cada vez mais a 1000 por hora, pensando e se movimentando mais do que todo o resto consegue dar conta, tudo bem.
Tudo certo. Tudo indo...

Acho que sou mesmo como minha casa... meio bagunçada, mas também ‘ajeitadinha’. Esquisita ou pavorosa à primeira impressão, mas interessante após algum tempo de convívio.