terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Era para dormir?

Conheço muita gente que vê TV para dormir. Não é muito a minha onda, não... Na verdade, se resolvo fazê-lo, acabo mesmo é despertando; ficando ansiosa pelo final do filme, curiosa pelos encaminhamentos e descobertas dos cientistas na escavação de Cuzco, aflita em saber se 20 minutos foram mesmo suficientes pelo sucesso da receita.

Tempos atrás aprendi o truque com um amigo: “Danizilda, não é para ver Matrix, Ultimate Fighting ou Simpsons. O lance é assistir ao National Geographic... Aquela paisagem sépia, sem movimentos bruscos, a voz do além quase hipnótica falando calma e arrastadamente: vê-ê-êeeeja agôôooora côôôooomo se espreguíííiiiça a lêêêêsma australiãããna - Pronto. Aí sim; você dorme em 2 minutos”

Desde então aprendi. Questão resolvida.

Hummmm???

Resolvida por hora... Pois desde que você passa a conhecer um tanto mais esse mundo “animal”, você passa a pensar um tanto mais sobre esse “mundo humano”. Pronto. Fudeu. Pára para pensar. Pára para refletir e questionar. Pára para filosofar, levanta pega uma água, acende a luz, pega um lápis e um caderno, aproveita e faz xixi, volta com um cigarro, ajeita o travesseiro para um lado a coberta para o outro, melhor nem acender a luz... uma vela! Já sai à caça dos fósforos, e assim vai.

Já era. Soninho já era...

Quer ver só? Outro dia chega uma questão: Mellldellls, veja você! Um animal quando encontra outro, só tem 3 coisas para pensar: É para comer? É para fugir? Ou é acasalamento?

Pronto. Simples assim.

O ser humano por sua vez, que beleza, herdou três prêmios para compensar: o polegar opositor, o livre arbítrio e a capacidade de complicar as coisas.

Aaaahhhh, Danizinha... Já nem dormiu mais naquela noite, né!
Receita de sonífero fails...
Voz calmante do locutor fails...
Nat Geo fails....



... nessa casa se ouve as crianças berrando enquanto brincam de Jedi com sabres de luz que fazem barulho de motorzinho de aquário. Ufa!

o que se vê , o que se ouve e o que se faz

Uma coisa que eu adoooooro é assistir alguma coisa na TV e ouvir outra no rádio.
Sabe como é?
A TV fica no mute e a trilha é sempre boa!
A imagem é uma, o som é outro!
Então, é isso.
Adoro!

E é impressionante como sempre tudo combina certinho... Tem coisas que já viraram “clássicos”. Como futebol x rock progressivo. Rodam certinho. Impecável. Trabalho de mestre, de perícia. Cada passada, cada jogada, casa direitinho com cada acorde, uma cooooisa! Fantástico! Um primor!

Pois bem, faço dessas coisas com freqüência.
Tem coisas que merecem ser vistas. Fotografias bem feitas, iluminação de primeira, contextos instigantes, essas coisas. Mas o que se ouve por vezes não é tão bom, ou envolvente... Outras vezes ainda, é para não correr o risco de eu “me concentrar demais” no que estou vendo e dispersar do que eu estava fazendo... Então continuo ouvindo meu sonzinho e deixo ali um visual surpresa... Vez ou outra viro e olho, e há um enquadramento específico, uma imagem que prende a atenção por alguns segundos, algo que então entra e participa desta casa.

E a trilha sempre combina certinho!!! De alguma forma muito boa, nem que seja para ser uma grande e louca contradição.

- Opa! Mas o que vocês estão fazendo aí? Descendo o morro com a pistola na mão e cantando com Depeche Mode?
- Nooossa! Que beijo é esse? Lambendo para lá e cá ao som de Korn... Você hoje tá que tá, hein Tony Ramos....
Lembro que quando eu tinha carro, também adorava fazer isso... Ver as imagens do que acontecia no mundo lá fora e acompanhar com a trilha do que eu estivesse ouvindo, dirigindo do lado de dentro.
Muito bom!!!
Altos filmes passaram por esses olhinhos aqui!
Grandes momentos de leveza e poesia em grandes engarrafamentos. E eu me divertindo pacas... E pensar que tem gente que se stressa no trânsito... Tsc, tsc...

Já houve épocas em que eu pensava ter na minha casa uma parede inteira com uma projeção. Full time! Um projetor ali ligado, passando cenas de filmes que eu adoro e que, de tão boas, mereceriam ser projetadas na parede da minha casa, e coisas outras quaisquer... E quando eu passasse pela parede teria aquele momento de enleio e devaneio, de surrealismo fantástico, de puro prazer e deleite.
Por hora essa idéia passou... Pelo preço das lâmpadas de projetores e também porque não sobrou parede em branco por aqui...

Uma outra coisa super legal com acontece com isso também, é o “momento videoclipe”.
Aquele intervalinho da ‘função’, parando um pouquinho com o que eu estivesse fazendo, a pausa do “vou pegar uma água”, “vou ao banheiro”, “ahhh, cadê aquele livro?”, então eu interrompo o que fazia, vou dar uma andadinha e aproveito e dou uma 'andadinha' no que está rolando na TV.
Uma zapeada e....

Ao som de Lee Perry passam: um cenário cheio de luzes com meia dúzia de gente estranha e deselegante, mas sorridentes; dois jogadores de times adversários escorregando em câmera lenta, um sobre o outro no gramado molhado; dois engravatados de cabelinho partido ao lado à frente de um cenário que, de tão feio, me faz zapear mais rápido; zap... nossa senhora aparecida rogai por nós, rogai por nosso Brasil, rogai por nós; um extenso gramado, dourado de tão seco, avermelhado... que aos pouco vai se fundindo em outra cena de fundo e se transformando em um cemitério, aparece um gordinho de costas... ele se vira e parecia melhor ter ficado de costas mesmo... o gordinho se agarra à grade e de repente....; zap... Brad Pitt batendo palmas com um pão enfiado na boca; zap... três pessoas dentro de um carro sendo conduzido por Kevin Costner numa noite escura, onde, na calçada, correm um encapuzado e Demi Moore armada; zap... um cachorro animado, de desenho animado, amarelo e falante, conversando com uma menininha de pijama cor de rosa; zap... Denzel Washington!!! Você por aqui? Numa cama de hospital! Que aconteceu? Que cara de bobo é essa?; zap... mãe e filha, iguaizinhas, mas de tamanhos diferentes, sentadas com cara de sono sobre um sofá com estampa de florzinhas padrão liberty; zap... uma coruja voando e na legenda se lê “isto é altamente desrespeitoso”; Mickey; uma pessoa acerta a cabeça de outra com um suporte de soro de hospital; velejadores num veleiro...

E por aí vai....

Uau!!!!
30 segundos depois e eu mesma já sou uma outra pessoa, sob uma outra visão de mundo!
Bebo a água e volto ao ponto que estava.

É o barato do “muda de canal, muda de imagem, e o som não muda”. Delícia!

Em compensação tem vezes que faço outra peripécia por aqui...
Às vezes quero variar, quero ser pega de surpresa, surpreendida mesmo, eu acho... surpreender a mim mesma. Quero variar quando sinto que estou repetitiva comigo mesma, quero um ‘fator novidade’ nesta casa....
Então aproveito quando vou dar uma saidinha - mercado, padaria, logo ali e volto logo - e deixo o rádio numa seleção aleatória e randômica... Ás vezes até escolho as músicas, “ctrl + qualquer coisa” sem nem olhar, e saio. Quando volto, a trilha da casa está tocando algo que eu nem poderia imaginar! Adooooro também!

E assim vamos... Feliz nas pequenas coisinhas, me divertindo comigo mesma!



... nessa casa se ouve Billie Holliday