terça-feira, 7 de setembro de 2010

uma vez eu fui ao motel

Fui ao motel uma única vez. Primeira e única. Já faz um tempinho, mas é que hoje vi a escovinha de dentes que uma amiga me deu, com o nome de um motel, e lembrei disso.

Fui uma vez, por pura força das circunstâncias, ou vontade momentânea. Primeira e única vez.
E achei legal (na hora, no momento, no contexto).

Acho que eu não tinha ido antes porque nunca quis...

Na verdade acho que nunca tinha imaginado ir a um motel... “mais na verdade ainda”, não consigo nem bem imaginar o que faz as pessoas irem a um motel...

- Nossa, está super legal a gente aqui, agora vamos parar tudo, levantar, sair daqui e ir para um motel.

Não faz o menor sentido...

Ou então:

- Nossa, agora está muuuuito legal a gente aqui. Mas veja bem, vamos parar com tudo isso, calçar o sapato, botar uma camisa, pegar o carro, pegar engarrafamento, pegar chuva e ir ao motel?

Juro que eu acho que para mim não faz o menor sentido...

Mas um dia eu fui.

Conhecia pouco o rapaz, não iria levá-lo para minha casa. Achava que ele era “praticamente um adolescente”, com uns 22 aninhos, e era melhor ser impessoal como um motel. Se fôssemos para sua casa, talvez sua mãe ficasse brava. Se viéssemos para a minha, certamente eu ficaria brava. E assim fomos. (tempos depois descobri que sim, ele era “realmente um adolescente”, mas de uns 43 anos)

Bom, eu tinha medo de ir ao motel.

Medo mesmo... Desses que não deixam a gente relaxar. O que por si já é um motivo para não querer ir.

Mas eu tinha medo por alguns milhões de outros motivos.

Acho que o primeiro é que eu não gosto de coisas impessoais, sabe?

Algo que não “é para mim”, não é meu ou não é único, exclusivo ou particular. Nem meu nem do outro. Achava (e ainda acho...) que um motel é um lugar que ao mesmo tempo é de todo mundo e ao mesmo tempo não é de ninguém. Não gosto disso, não...

Também não me agrada imaginar que todo mundo é esse... Aliás, falo sobre isso agora, porque se eu tivesse parado para pensar nas pessoas que por lá já estiveram, e o que lá já fizeram, aí é que eu não tinha ido nunca mesmo.

Mas parei para pensar só na pessoa que estava comigo e fui uma vez aí...

Gostei!

- Mas você disse que tinha ‘medo’?

- Sim... Muitos. Tinha medo de ser um lugar esquisito, com lâmpada fluorescente. Tinha medo que fosse um lugar onde só tocasse Kenny G. Tinha medo de ligar a TV e só ter filme com loiras peitudas e marombadinhos falando ah, ah, ahhhh. Tinha medo que a cama tivesse cara de cama encerada em 12 de $ 89,90 sem juros nas casas Bahia. Tinha medo ter quadros pendurados ‘em escadinha’ na parede. Tinha medo de o circuito elétrico ser subdimensionado em relação aos fios, cabo de alimentação e disjuntores e corrermos o risco de um curto-circuito e momento de pânico. Tinha medo de encontrar ‘vizinhos’ - outros visitantes ou freqüentadores. Tinha medo por o travesseirinho não ser o meu e o lençol não ser o dele. Tinha medo de o banheiro ser preto, com granito. Tinha medo de ter coisas em forma de coraçõezinhos. Tinha medo de não ter janela e alguma paisagem. Tinha medo de ter cortinas com babados. Tinha medo de ter babados. Tinha medo de ter babas.

- E aí?

- E aí que a cama era verde, de luzes. Na verdade, acho que a cama era de criptonita!!!! E passava cartoon na TV!!!! O nome do lugar era muito poético. E por alguns momentos, esqueci que eu tinha tantos medos e mal vi onde eu estava.
Tá... é esquisito, mas gostei!

Cumpri a cota, matei a curiosidade e a vontade (sem direito a trocadilhos, tá!).

Acho que não quero ir de novo, não.

Mas valeu.

Acho que perdi o medo. Acho que quero muito perder todos os medos. Acho que estamos aqui neste planeta para aprendermos a não ter medos, expectativas e apegos. E também para ir ao motel pelo menos 1 vez na vida.



... nessa casa se ouve Titãs quando eram bons

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