domingo, 26 de outubro de 2008

a mulher moderna...

Tenho um quadrinho que me acompanha há várias cozinhas...
Adoro ele! Pendurei-o hoje.
É um pequeno pôster, um anúncio de revista, de mil-novecentos-e-coca-cola-com-rolha (creio que por volta dos anos 20, já não me lembro mais...), publicado em uma “Revista do Teatro” que comprei em algum sebo por aí...
Os anúncios antigos são muito divertidos. Além de eu gostar muito das linguagens ‘retro’ e do histórico visual das coisas, tem também a expressão de uma geração, filosofias e modos de vida da época vigente.

Este é mesmo um caso em especial.
“A MULHER MODERNA”... (lá pelos idos de 1920...) o texto a descreve como alguém que “já não usa um tão incômodo fogareiro, mas um outro que evita carvão e lenha”...
E a imagem é mesmo fantástica!!!! A tal “moça do anúncio” simplesmente tem um martelo (?) na mão e está arrebentando o antigo fogareiro na porrada!
Sua carinha é um misto de “cara de choro” com “certo sorrisinho amarelo de satisfação”. Olho para ela e imagino uma daquelas TPMs brabíssimas, com martelo na mão arrebentando o mundo em mil caquinhos... (já vi mesmo esse filme...).

Nossa! Será que sabiam o que era a TPM naquela época?
Será que Freud simplesmente conjugara a ‘histeria’, colocando-a como uma ‘patologia feminina’ possível e passaram a caracterizar algumas mulheres assim?
Será que achavam simplesmente que “as mulheres enlouqueciam por completo” de tempos em tempos, mas ninguém sabia bem por quê?
Será que uma TPM (zinha...) justifica mesmo alguns desses momentos? Como o de pegar uma marreta na mão e sair estraçalhando o velho fogareiro já que agora se tem um “fogão da vacuum, movido a petróleo sunflower”?
Ou o(s) modo(s) de vida eram assim? Comprou-se um eletrodoméstico novo e se sai arrebentando o velho ás bordoadas?
Tanta raiva pelo fogareiro, né... Mas...
Quantas vezes não fazemos isso? (...) Com a porta que emperrou, e a TPM, ainda despercebida dando leves sinais de vida, nos faz chutar, esmurrar, dar bundadas e cotoveladas na p-o-r-r-a d-a p-o-r-t-a q-u-e n-ã-o a-a-a-ab-r-e..., ou nos faz descontar toda a ira da humanidade no motorista do ônibus que demorou tanto a chegar, e por aí afora...

Mas voltando ao (fantástico) anúncio que “mora” nas minhas cozinhas... o “jantar completo levava menos de duas horas” a se cozinhar (e, ainda, “gastando apenas meio litro de petróleo”).....


Ahhhh, o tempo sempre tão relativo...

Menos de duas horas?
Caracoles!
É um banquete? É o refeitório de Bangu 1? Ou vem a torcida do Flamengo para jantar?
É o abate do frango no quintal, para depois depenar, fatiar, desfiar e fazer a canja?
Não havia anúncio de miojo? “Fica pronto em três minutos”...

Em duas horas (com tempo e com dinheiro) dá para eu ir para São Paulo, comer um pastel na feira com a família, e voltar!
E com o “fogão da vacuum, movido a petróleo sunflower” já dava para fazer um “jantar em duas horas”...

Ahhhh... o relativo sempre tão efêmero...

É raro acontecer, principalmente pelo fato de eu não ter fogão (...), mas hoje acho uma delícia poder levar duas horas para fazer o jantar... Esporadicamente, é claro. Não por necessidade ou obrigação ou ainda na rotina, mas é um privilégio e um prazer poder curtir fazer a comida. Com calma, com tempo, com magia. Ligar o rádio, assobiar e batucar junto com os talheres, tomar um aperitivo, ir comendo umas azeitonas e uns queijinhos enquanto a comida vai sendo preparada, beliscar uns pãezinhos no molho em preparo...
Adoro!!! E já não faço isso há anos...

Essa fase sem fogão é mesmo esquisita... Mas estou tranqüila, estou feliz. Meio que “acostumada”, meio que “esperando conscientemente”, e com outros valores de vida, o dia em que “as fases” se transformam, se renovam, acontecem.
Aqui é mesmo “uma casa muito engraçada”... (já tem “teto” e tem “tudo”), mas é mesmo esquisita. Não tem fogão. E sim, ainda assim, é uma casa. E cheia de vida!
Porém, uma casa diferente...
Não tem fogão, não tem geladeira, não tem “máquinas”... não tem televisão (mas tem youtube...). Tem música! Tem “trilha sonora” (e sempre toca música boa, graças a Deus).
Que mais eu posso querer?
Vamos indo, cada coisa em sua hora ou momento de acontecer. Grandes descobertas, invenções e aprendizagens no meio do caminho.
Já tem chuveiro (e quentinho!). Tem até banheira, com incensos, cigarros e bons livros nos dias mais tranqüilos.
Já tem pia! Duas! E são lindas! (teve época que não tinha nenhuma... e, decididamente, escovar os dentes na privada, com a mesma canequinha para água fria que era a do banho, é algo horrorooooso...)
A fé na vida e em si mesmo são um bálsamo. É mesmo o que move o mundo!

Já tem luz!!! (e esse também é um capítulo à parte...). Teve épocas também que não tinha.... E nem ao menos um lampião da “vacuum/ sunflower” para colaborar (e escovar os dentes na privada e no escuro consegue ser ainda pior... nem um pingo de glamour...).
Tem “lugar para dormir”, “lugar para trabalhar”, tem “hortinha” na varanda, livros na estante, roupas no cabide, computador funcionando.
Está tudo lindo!
Bagunçado, admito. Apertado, é fato. Mas tudo funcionando.
Coisas funcionando, casa funcionando, eu funcionando. Isso é mesmo tudo lindo!

E já tem até quadrinhos na parede, como o da “mulher moderna” na cozinha!

Falando em cozinha... vão também novas fotos dos acontecimentos neste território... Em suas fases...


Fase da “cozinha-caos-total”...




Fase do “ai, ai... bom, pelo menos eu vou saber onde posso furar depois”...




Fase do “só alegria, cafeteira na cozinha”


Fase do “U-hhuuuu! Armarinhos! Teto roxo-berinjela, uma iluminação dramática!”


Fase do “Uauuu! O que era bom está cada vez melhor...” cortina no armário, luminárias de bancada, Frank Zappa na parede.


Fase do “simplesmente um luxo!” escorredor de louça, já tem copos e xícaras, e até talheres!




Ufa!
Imagine... obra e reforma já são difíceis, complexas, caóticas e enlouquecedoras.

Morar na obra é tudo isso e um pouco mais, à milésima potência...

Morar na obra quando a casa inteira é tão pequenina que é um cômodo só, é um dos maiores desafios da existência humana...

“Fogão da vacuum” e “Petróleo Sunflower” é o caralho... Mulher moderna sou eu mesma!




...nessa casa se ouve Nina Simone.

2 comentários:

Angel'S Space disse...

Realmente, na casa-mundo, cozinha é o meu país preferido! Sabe, essa coisa de fazer algo pra comer ( que por favor, fique pronto em menos de duas horas, senão morro de fome!)com uma boa companhia (que às vezes somo nós mesmos!)aguçando os sentidos e tomando, porque não(?) uma(s) cervejinha(s) gelada, é um prazer sem comparação..
Reformar a casa é algo que eu nunca fiz..Me apavora..como também nunca tive filhos, resolvi comparar à uma gravidez!!
Imagina..ver as coisas tomando forma aos poucos, ao longo dos meses..ficando louca com a sujeira (que poderia ser comparada com os enjôos)Gastando tudo que tem, e as vezes até o que não tem...Um misto de ansiedade e desespero...que se transforma numa imensa felicidade quando enfim vemos "do que somos capazes de fazer".
Parabéns pelo seu nenê!
Beijos

Anônimo disse...

Eu fico uma semana sem olhar seu blog e tem milhões de coisas !
Os escombros-estilizados estão muito vanguardistas !
Sexta, finalmente conhecerei onde habita DR ? Será?!
Outra coisa:
Olhando essa imagem da mulher moderna, não pude deixar de fazer associação às imagens utilizadas como papéis de parede no pc do escritório.
Eu acho, humildemente, que você, deveria ter um post semanal(tipo toda quarta) com o "papel de parede da semana"
ou
imagem da semana, não sei ...
mas eu digo isso por que gosto dessas coisas ritualísticas.
Beijos, Dani!