segunda-feira, 17 de novembro de 2008

o vinho e a rolha...

Trabalho terminado, roupa lavada, casa (semi...) arrumada, resolvi tomar um vinho.

Comemoração. Celebração.

Comprei um (bom) vinho (português!!!!) hoje. E um bolinho, daqueles de duas cores que parece que faltou chocolate para fazê-lo todo de uma cor só... tem gosto de casa-de-tia misturado com lanche-de-escola. Bonzão!

Pois bem, fiz questão de escolher um bom-vinho-português (é impressionante como eu estou ficando cada vez mais criteriosa... ou exigente... ou rabugenta... mas, enfim, a vida é breve demais para ser desperdiçada com um vinho vagabundo).

Já era até meio tarde, quase indo dormir e resolvi tomar o vinho.

Comprei para comemorar hoje. Vou tomar hoje.

É boda de casamento de mamãe e papai. Cinqüenta e lá vai cacetada de anos juntos! É mesmo louvável, verdadeiros maratonistas.

Pensava... já que era para tomar hoje, vou abrir então.

Eis que começa o drama...

Saca-rolha em punho e o que era drama vai virando tragédia... achei que as coisas estavam mesmo esquisitas... primeiro porque o saca-rolha já não entrou bem pelo meio da rolha... segundo porque, de repente, ele já foi parar lá do outro da rolha, dentro da garrafa...
Tentei tirar delicadamente. Só piorou.

Merda! Que vergonha.... isso é quase uma desonra. Ai, se meu pai visse isso... ele que me ensinou direitinho a abrir um vinho... e olha que eu era uma criança, aprendi com toda a manha. Na verdade, a “técnica de papai” é meio excêntrica... quase acrobática. Mas é a única que eu sei. Aprendi assim. Sempre abri vinhos assim.

A tal técnica (...) consiste em encaixar a garrafa meio entre os joelhos, meio no meio das coxas. A garrafa inclinada da esquerda para a direita e a mão direita puxa o saca-rolhas séria e cuidadosamente até fazer POC.

Como é uma técnica muito peculiar só me atrevo mesmo a fazer em casa. Às vezes que eu o fiz em algum outro lugar as pessoas sempre olharam horrorizadas (e correram para cima de mim, tentando interromper o processo...) exclamando “Meu Deus!!!! Mas o que você está fazendo?”
“Abriiiiindo o viiiiiinho”....
“Assim? De cócoras?”
“POC!!!!” E eu pensava... “pobres mortais... faltaram á aula de Baco, só sabem abrir vinho com abridor que tem bracinhos”...

Bom, mas já havia começado tudo de forma inusitada... o saca-rolha arrebentando a rolha com demência. A rolha começando a se desfazer e sem sequer sair do lugar!!!

Saco o saca-rolhas. Pego outro...

O furo que já estava arrebentado vai virando uma cratera. E nada da rolha se mexer... só soltava pedaços imprudentes pelo chão.

Será que não era para eu tomar o vinho hoje?

Será melhor deixar ele aí quietinho, e quando alguém vier tomar um vinho comigo, aproveita e abre?

Ora... faça-me o favor, Daniela... Era só o que faltava? Precisar de alguém para abrir um vinho para você?

Desde quando você é mulher disso?

Desde quando precisa de companhia para tomar um vinho? Muito menos para abrir para você...
Deixa disso e abre logo isso aí.

Pois bem, quanto ao estrangulamento da rolha... metade dela parecia já ter virado farinha dentro da garrafa. Putz... vinho sabor rolha... custou tão caro para ter uma rolha xexelenta dessas? Custou tão caro para agora ter gosto de vinho-com-rolha-xexelenta?

Calma, calma... não é o fim do mundo. Respire fundo. Isso acontece com os melhores abridores de vinho no joelho que existem.

Já vi acontecer. Talvez até mesmo com papai, exímio saca-rolhista de técnica primorosa. É só pegar uma peneirinha e “coar” o vinho da sopa de rolha depois.

Putz de novo!

Nessa casa não tem peneirinhas... nem coadorzinhos...

Caaaalma! Você ainda pode pescar cacos de rolha.

E a calamidade continua. O segundo saca-rolha era um frouxo, a rolha parecia ser de areia.
Que faço? Vou raspando a rolha até remover por completo?
Ahhhh. Vou tomar esse vinho hoje nem que seja de canudinho pelo rombo já feito!!!!

A rolha acorda (ou o que sobrou dela...). Primeiro sinal de vida em movimento e uma leve giradinha para fora!!!! E a galera fazia Uhhhhh...
Movimentos repetidos e abrem-se as portas da esperança!!!!!

A cozinha parecia que tinha sido palco de uma guerra de paçocas! Uma coisa impressionante... caco de rolha para tudo quanto é lado. Ridículo.

Viro o vinho na tacinha e a garrafa vai vomitando a rolha estraçalhada... uma coisa horroroooosa.
Pesquei rolha de garfinho...

E agora? Tomo a garrafa inteira? Como é que eu vou fechar? Nem me atrevo a tentar botar o palito que a rolha virou aí de novo...

Fecho com outra rolha? Mas... de outro vinho, de outra safra, outro paladar? Isso não vai dar certo...

Fecho com durex? Deixo um copinho em cima?

Depois penso nisso.... vou para o meu vinho com bolinho, vou tomá-lo com todo meu amor em nome das bodas. Celebrar esse encontro mágico, misterioso e esquisito que gerou uma família linda, mágica e esquisita. E que toma vinhos para comemorar e que abre suas garrafas (quase sempre...) com maestria singular e um primor fora de série.

Amo vocês!!!!!! São a bússola e a âncora da maruja aqui...


... nessa casa se ouve Portishead

2 comentários:

Marconi C. Brasil disse...

Bom, consegui me atualizar. Ao menos este mês (já é alguma coisa).

Aprendi a abrir vinho sem atravessar a rolha - e sem abridor com bracinhos - observando um garçom lá no "Espírito de Santa" (ou algo assim, ficava quase ao lado do Mineiro... Claro que vc deve lembrar). Ele era um verdadeiro maestro.

Eu e Ronaldão, tomando Caldo Verde e bebendo esse vinho (não me lembro qual era).

Reencontrei um amigo de infância, da quinta série (as circunstâncias vão me obrigar a me atualizar no sistema educacional brasileiro um dia). Tocava guitarra, fez Letras, estava escrevendo um conto sobre "amores desastrados"...

Foi ele quem me viu. E me viu por algum motivo estrelar, pois sentou à mesa e começou a dizer que estava escrevendo um conto... sobre o Marconi! (eu havia virado sinônimo de "amores desastrados" e enm sabia!)

Bom, virou vinho à três, misturado com cerveja e pedacinhos de queijo minas temperado.

Não lembro do vinho, mas o rótulo bem que poderia ser: "vinho-tinto-seco-com-amigos-de-diferentes-épocas". Pois é assim que me lembro dele.

Beijos.

Angel'S Space disse...

Sempre que sentávamos pra conversar,na nossa nem tão distante assim, adolescência, vivíamos encontrando semelhanças nas nossas familias...A sua portuguesa, a minha italiana..mas igualmente barulhenta...Os carros dos papais eram iguais,os pastores-alemães da infância..entre outras coisas, que não me lembro agora, porque sou uma eterna vítima da minha memória....
Agora, mais essa..O ritual da rolha!! E o espanto de quem me vê fazendo isso!! "mas menina, como é que vc consegue fazer isso?" Eu é que pergunto..como vocês conseguem fazer dessa forma, tão pouco divertida, com esse saca-rolhas de bracinho.. É como chupar manga com garfo e faca!Ver uma parede descascada e não puxar uma pontinha (Ou descascar a parede inteira)...
Curtir à distância com seus pais..Maravilhoso! Agora, só não entendi sua dúvida quanto o que fazer com o vinho que ficou sem rolha...É só beber tudinho..Ora pois!!
Beijos!!!