domingo, 23 de novembro de 2008

Dani através do espelho...

Tenho a impressão que espantei meus fiéis leitores... tinha a sensação de que é tudo tão mais ou menos que nem minha mãe seria leitora desse universo particular... Bom, descobri que pelo menos ela lê (ou já leu alguma vez..) as aventuras do estranho mundo de dani...

Sei que eu andei aí com esses ‘poeminhas de merda’ que eu entendo perfeitamente que tenha esvaziado a casa...

Hoje eu queria cortar o cabelo. Mas queria cortar à navalha...

Navalha não é ferramenta que eu tenha... aliás, navalha é mesmo algo muito violento, realmente não é apetrecho doméstico, ou ferramenta-de-mocinha.
É objeto cirúrgico, é rude e intenso, e ao mesmo tempo, delicado demais para mim...

Fora os objetos “cotidianos” – tesoura, faca e estilete – o máximo que eu consigo ter de objeto bizarro ou grotesco que parece que “saiu-de-um-filme-de-cronenberg” é um curvex...

Ahhh, tenho também uns bisturis. Uso para fazer maquetes.

Já cortei o cabelo com todos eles. Quer dizer, exceto com o curvex.... que não serve para isso mesmo.

Mas então... tesoura, faca e estilete...

São os mesmos de sempre... sempre corto o cabelo com eles...

Queria variar, queria cortar à navalha.

No meio do banho, xampu para um lado, cabelo para o outro e deu vontade de cortar ali mesmo... tamanha euforia e uma gana inquietante de passar o fio nos fios.
Fiquei com medo de pegar o estilete. Precisa mesmo de muita perícia para passar o estilete embaixo do chuveiro.

Água escorrendo pelas costas e eu pensando se talvez devesse ter um espelho no box... Imagina... Isso sim é grotesco! Meio ridículo, meio nonsense...

Onde já se viu? Um espelho no chuveiro?

Mas daria para cortar o cabelo no banho...

Ora, Daniela... Muito de vez em quando você vai ter vontade de cortar o cabelo no banho... Fora o desperdício, em tempos de guerra... tanta água caindo e você aí com o estilete na mão?
E os riscos de acidente? Cadê as normas de segurança?

Eu, freqüentemente, escorrego no banho... quando ensabôo os pés então é batata!

E olha que eu lavo um pé de cada vez! Ainda assim quase sempre escorrego.

E como eu morro de medo de cair no banho, prefiro muitas vezes tomar banho sentada. Na banheira. Principalmente quando estou tão empolgada ou eufórica assim...

O espelho no Box... ridículo! Eu não mereço... ter que tomar banho olhando para minha cara... espelhos nessa casa não são para refletir pessoas. São para refletir coisas, cantos, cores, objetos.

Passei a mão na tesoura que eu alcançava e... (já que eu não estou vendo nada mesmo...) vou cortar só três vezes! A primeira faz tchan, a segunda faz tchun e tchan- tchan- tchan- tchan.....
O cabelo escorre com a água. A água lava e leva.... cabelos, fios, pelos...apelos, exageros e desesperos.

Não fosse pelo “barulho de acidente” que ecoou pela casa, eu teria saído do banho e ido direto atrás do estilete.

O barulho?
Eu havia pendurado tantas coisas por aí... qual delas será que caiu?
Nada grave... uns pedaços de mural caíram... é que o mural é “em pedaços”. Um mosaico de pequenos murais formando um único maior.
Alguns caíram... cansaram, quiseram ir embora ou para outro lugar, ou simplesmente não agüentaram o peso do que já estava pendurado sobre eles?

Lá estou eu, enrolada na toalha, catando pedaços de mural em pedaços e só pensando “onde cáspita está o estilete”...

Resolvi então, na falta da navalha, que dessa vez iria cortar o cabelo “só a estilete”.

Mas... eu já tinha dado três tesouradas durante o banho...

Bom, vou fazer um corte novo e diferente então.

Estilete em mãos, espelho na minha frente “e lá vamos nós”...

Tenho medo (nossa... quantos medos...) de cortar o cabelo com a lâmina voltada em minha direção, com o fio da lâmina voltado para mim...

( * ) crianças!!!! Não tentem fazer isso em casa!!! A cipa informa que só a tia Dani pode tamanhas peripécias!!!!!

Aliás...
crianças, essa história é forte, contém cenas íntimas, de mundos psicológicos extremamente particulares. As coisas mais intensas e mais temíveis (apesar de ao mesmo tempo também as mais satisfatórias...) que se pode ter.
O contato (e o convívio) consigo mesmo... cenas quase sempre censuradas, não recomendadas para menores de 30 anos. Então, se você não tiver estômago para tal, mude de canal, veja o blog do lelê, ok?

Faço então o contrário. Vou sempre com a lâmina “do corpo para fora”... é muito doido! Porque eu aponto, rasgo e rompo em direção a mim mesma, refletida no espelho...

Isso sim é bizarro... mais do que “ferramenta-que-saiu-de-um-filme-de-cronenberg”...

Mas... o mundo é bizarro!

Será que eu sou assim tão anormal?

Acho que não. Não sou bizarra, nem muito esquisita.

Sou só única, exclusiva, cheia de peculiaridades, como todo mundo poderia ser.
Só que eu me olho no espelho com uma lâmina na mão, apontada e afiada à minha direção e... corto o cabelo!

Não gosto de me olhar no espelho. Aí sim é que me acho esquisita e bizarra... Não gosto, não.
Para fazermos as pazes, quando me olho no espelho tento fazer um ‘contato visual’ tão profundo que seja mesmo possível ver através dele.
Entrar na alma. Olhar para dentro. Olhar para si.
Sem ser vendo “só a casca”. Essa sim é a esquisita...

Certa vez quebrei um espelho inteiro. À marteladas... peguei todos os caquinhos e fiz uma mesa. Uso muito mais nobre.
Agora me olho no espelho e já não tenho vontade de quebrá-lo...

Semana passada eu me desenhei pelos espelhos da casa... sobre a imagem refletida, passei lápis, caneta e canetinha... parecia um carinho. Fiz o primeiro desenho meio ‘sem querer’ ou sem nem perceber; me empolguei e saí desenhando em todos eles.

Eu desenho em mim mesma nos finais de semana, em casa. Rabisco o corpo quase todo.

A tatuagem da perna nasceu assim... de tanto eu rabiscar tanto a mesma coisa no mesmo lugar resolvi tatuar para não sair mais durante o banho...

Agora estou com vontade de tatuar as costas, mas acho que pelo motivo contrário... não consigo desenhar nas minhas costas... e olha que eu tenho tentado muito... não alcanço meeeesmo, nem com a ajuda do (agora amigo) espelho...

Rabisquei o corpo inteiro até quase não caber mais. Quando olhei no espelho comecei a rabiscá-lo também. Era o espelho mas também era eu. A alegria era tanta que eu fui em todos os espelhos da casa (nem são tantos assim; a casa, muito menos... também nem é tão grande assim...), mas saí por todos eles com canetinhas em punho... em cada espelho um rabisco sobre mim. Literalmente. Fisicamente.

Deveria fotografar? Às vezes faço isso com a pele rabiscada... fotografo para ‘lembrar’ depois...
Mas... tão íntimo, tão pessoal... sou eu dentro de mim, não dá para fotografar assim simplesmente...

Então, fiz um ‘carimbo’ de alguns deles. Tirei a impressão com papéis no espelho. Um papel entre mim e a imagem, entre eu e o reflexo desenhado. Saíram algumas texturas, algumas cores, coisas que só eu mesma vou saber depois ao vê-las...
Depois lavei. Como me lavo.... Deixando a tinta escorrer...

Espelho. Cabelo. Desenho.

Esse fimdê eu não desenhei em mim... mas cortei o cabelo.



... nessa casa se ouve Radiohead

3 comentários:

Marconi C. Brasil disse...

Não sei quanto aos outros "leitores", mas eu continuo aqui.

Blog é isso mesmo. Os leitores aparecem e somem... os próprios blogs aparecem e somem (eu que o diga). Alguns blogs são muito intimistas, como o trompete do Chet Baker, mas, como Chet Baker também, acabam por tocar no nosso íntimo por isso mesmo, viram universais.

A nóia começa quando passamos a ganhar uns leitores e depois eles somem. Fica algo do tipo: não sou tão interessante assim?

Outros leem (não sou chique utilizando a nova grafia? sem o circunflexo?), mas não comentam.

Lembro de um sujeito que, ainda hoje, considero meu melhor amigo. Talvez ele leia teu blog, mas a sua caverna (a dele) não permite fazer comentários. Naquela torre, este nosso mundo é um universo paralelo, que só temos a permissão de observar. Eu SEI porque me sinto assim, muitas vezes.

E ele, nosso amigo, anda desaparecido ("Yo soy un desaparecido..." - Manu Chao), mas deve ler o teu blog.

Aliás, meus melhores amigos (cada um em uma época de minha vida) estão desaparecidos por aí. Um está com seus inúmeros cachorros, outro com seus demônios.

Assim é.

Angel'S Space disse...

A melhor função do espelho é dançar na frente dele...É um habito (pra não dizer esquisitice) que tenho há anos..Mas especialmente nos dias em que faço aniversário esse ritual é especial...
É mágico ver o corpo se mexer (quase sempre, freneticamente) num dia em que "oficialmente" ficamos mais perto da morte (pelo menos da forma natural)..
Achei curioso quando vi que você gosta que seus espelhos reflitam coisas, cores e luzes..E não pessoas...Comigo é completamente diferente...Acontece com minhas fotografias...Adoro pessoas, feições, caretas, emoções, situações....É o que sempre procuro registrar com minha câmera...E no espelho é parecido...
Depois de checar as gordurinhas e celulites (sim, porque sou mulher e acima de tudo, sou sincera!)é uma delícia cantar, chorar e fazer discurso pro espelho!! Moro sozinha e as vezes a minha própria imagem, é a única imagem humana que eu encaro em casa .. Nada mais justo do que fazer amizade com essa mulher...que é a minha cara!
Quero ver seu cabelo novo..não teria tanta coragem..rsrsrsrs
Beijos
PS: Quem disse que você perdeu seus leitores?

Anônimo disse...

Acabei de assinar a lista de chamada também.

Aliás, sobre aleatoriedades, antes de postar um comentário, é necessário preencher uns formulários. Entre eles, um de VERIFICAÇÃO DE PALAVRAS, e dessa vez veio a seguinte: vanchuna.
De onde será que saem essas palavras ?
Eis o mistério da fé.