terça-feira, 25 de novembro de 2008

greenaway

Semana passada vi a apresentação do Peter Greenaway e me emocionei para chuchu...
Talvez eu esteja sensível demais esses dias... Talvez eu filosofe demais e determinadas coisas no mundo me emocionam... Talvez nem nada disso, mas sei que eu até chorei...
Acho que fui uma das poucas pessoas que realmente gostou do que viu....

Enfim, essa mentezinha inquieta aqui, como é de costume, fez 1 milhão 902 associações diferentes e pensou outro tanto milhão de coisas e ficou toda eufórica com aquele senhorzinho ali...

É que eu ando (...), ou melhor... acho que eu sou, mas ando cada vez mais curiosa e instigada com o tempo... aahhhh, o tempo....

Será que é porque a gente vai vendo e vivendo o tempo passar e passa a se questionar mais e mais sobre ele?

Mas o tempo... essa unidade arbitrária que eu realmente não sou capaz de definir, muito menos de entender... mas que tanto cutuca, inquieta, instiga.

Pois bem, mr. Greenaway me deu uma pequena lição sobre o tema. Em mil variações, aplicações e naturezas distintas.

Uma das coisas que mais me fascina no cinema é a capacidade “de romper com limites do tempo”... a maestria das linguagens e narrativas de seqüências temporais quebradas, invertidas, subentendidas... (e tudo isso então, quando (bem) amarrado a um bom e cativante enredo, a um visual realmente artístico e caprichado, uma boa trilha sonora entre algumas outras qualidades, dá um programão! Desses de dar gosto de assistir, de querer projetar na parede de casa de forma ininterrupta...). Bom, eu realmente gosto de filmes, apesar de ter assistido muito pouco recentemente. Estou sem TV desde março (e sim! a gente sobrevive!), então já faz um tempo que não me “deslumbro assistindo uma tela eletrônica”...

Mas voltando ao “quesito rupturas temporais” que o cinema magicamente me comove... E ao bom velhinho que me fez chorar... a apresentação do tiozinho também foi um programão!

O visual, artístico e caprichado? As imagens eram mesmos fantásticas! Fotografia impecável, lindo, lindo! Algumas tão bonitas que dava vontade de ‘congelar’ e olhar por dias, com a certeza de que a cada momento sairiam novas informações e interpretações dali...
A trilha sonora? Apesar do DJ de plantão, confesso que achei bem mais ou menos, mais para menos.

Agora, o enredo...

Uhhhhh (e eu achava que eu era louca...)... O senhor de cabelos brancos brinca com o tempo como bolinhas de malabares flutuantes de mão à mão.

Seqüência? Coerência? Prudência?
Para quê?

Ele vai além, vai sobre. Faz jogos de ordenamentos, justaposições, montagens inquietas e tão vibrantes como o tempo breve de quem ali assiste...

Bom, alguns não acharam assim ‘tão breve’... ouvi queixas sobre a demora, a redundância, sobre ter sido uma apresentação ‘cansativa’...

Mas... Será que isso foi o que mais ‘tocou’ os que ali estavam? O tempo que permaneceram sentadinhos no teatro?

Será que todos os tempos que o jovem senhor nos mostrou não foram muito mais além, não falaram de forma mais simbólica sobre mil relações do mundo, inclusive as do tempo? Tempo este que nos deixou ali sentadinhos por “tanto” tempo?
Brincar com uma seqüência repetitiva de determinada coisa...
Como fazemos isso cotidianamente? Como fazemos isso contemporaneamente?

Fazer cenas e seqüências tão inconstantes como a própria percepção (que temos) do tempo...
Maestro. De tempos e imagens.
Que tempo?
Seqüência causal? Ordenamento? Começo, meio e fim?
Para quem e de quem? Só o ‘por quem’ estava ali de alguma forma...

Tempo onde? No relógio? Em que fuso-horário? Estamos em um ‘tempo’ em que tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares... barreiras já foram transpostas nesse sentido.

E as imagens... tão cambaleantes quanto saltitantes. Uma profusão de informações tão confusa quanto estimulante. Delícia!

Alguém esperava pelo fim da história?
Que história? Se a cada informação que recebemos atribuímos nossas próprias interpretações pessoais, tão subjetivas e individuais? Ahhh, história mastigada, tempos e espaços pré-definidos. Precisa? Ou somos cada qual capazes naturalmente de “dar nosso sentido” àquilo que vemos e recebemos?

Seqüências alteradas são mesmo mágicas nesse sentido... a mente projeta!!! Cada um “vê” e/ ou “entende” independente de ter sido ou não “mostrado”.
Não é fantástico? Delicioso e emocionante?

Mr. Greenaway, críticas quaisquer á parte, fez mesmo um show!
Mas... fez um filme que não é inteligível...
Não? Ou cada um, cansado ou não pelo tempo ali sentado, não compreendeu alguma coisa de alguma forma?

E fez ao vivo!!! (mais um ponto que me emociona realmente... )

Ok. Ele não inventou roda nenhuma... diz a lenda que (há “algum tempo” atrás...) os montadores de Eisenstein já haviam descoberto a assombrosa propriedade de combinar pedaços de filmes distintos em “outras” seqüências transformando a história em outro conceito ou enredo. Isso do (muito) pouco que sei, fora outras inúmeras criações, invenções e devaneios que devem ter havido por aí...
Mas... ele fez para a gente ver, na hora, aparentemente sem cortes prévios e maiores precedentes ensaiados, sujeito a qualquer tipo de fator inesperado ou imprevisto.

E mais... emoção número 3... a cabecinha alva e iluminada (que já deve estar beirando seus 70 anos... ou até seus 70 filmes...), clareava a todos falando do “cinema do futuro”... Aos 70 falando do futuro? Fazendo o futuro?

Ahhh, o tempo.... que tanto açoita quanto emociona...

Eu, que às vezes me sinto velha, aprendendo mais uma.

Eu, que às vezes me sinto desatualizada, tecnologicamente desinformada, aprendendo mais duas.

Eu, que naquela noite fui dormir emocionada, sonhei com Tulse Luper!!!! (que, para mim, na verdade era aquela mocinha de vestido branco....). E uma voz grave e ríspida falando como se me sacudisse, como se tentasse me despertar para um óbvio que só eu não via... “Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo. Tulse Luper estava em três lugares ao mesmo tempo”...
Acordei. Levantei. Zanzei pela casa três vezes, às três da manhã...

Eu, que às vezes durmo como se o mundo pudesse derreter e eu continuaria dormindo, acordei aflita com a “revelação”...

Mr. Greenaway, foi você assoprando e assombrando meu ouvidinho? Anyway, obrigada por encher meu mundo e minha alma com tantas emoções. A você e a todos que de alguma forma contribuiram com essa experiência única e transformadora, colaborando nas minhas formas de representar o mundo...

Eu, aprendendo mais 1000.

... nessa casa se ouve Pixies

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei muito curioso sobre !
Me recomenda algo ?
A existência do tempo deve ser só uma questão de tempo.
Beijos DR !
Até amanhã!