segunda-feira, 9 de julho de 2012


Chorei sim.
Em lágrimas que não saíram.
Secas como você.
Engasgadas como eu.


A luz já estava apagada!
Mas ela estava cegada, olhos bem fechados, entorpecida em si mesma, quem sabe.
E não tinha percebido ainda...

Olhos abertos a fórceps, arrancando pelos e peles, rasgando e forçando a visão letárgica e dormente que lhe acompanhava há tanto tempo que ela até achava que era sua.

E de tanto ver o mundo em penumbras, não sabia mais diferenciar o que era vulto do que era sombra do que era tumulto.

Tumulto...
O sentimento de inquietação que, de tanto lhe acompanhar, ela até achava que era seu.

Onde nada existia...
Só o sabor da azia que sobrava atravessando a goela de quem comeu e não gostou.
Foi ele quem comeu.
Mas foi ela que se engasgou.

Precisava vomitar... Iria enfiar 3 dedos na garganta até arrancar ossos e caroços. Até rasgar o peito, que era tão cheio e ao mesmo estava tão vazio... Que era tão farto e que fora tão renegado. Era um peito oco, onde o único habitante falava sozinho, e por tempos só ouvia o som do eco, e achava que fosse alguém lhe respondendo.
Um peito oco. Um coração vagando num eco. O regurgitar de um estômago vazio. A azia do outro.

Ela rasgou.
Lacerante, errante. Transformando em farrapos o que já era trapo.
Abriu crateras escancarando seus olhos, despedaçando seu peito. Rompeu carnes e limites, proferindo exclamações sinceras, revelando a indigestão enfadonha que ele escondia, fazendo-a enxergar pela primeira vez...
Que a luz já estava apagada.
Que não havia nada nem ninguém.
Que a casa já estava vazia.

Mas com portas fechadas.
Com verdades veladas.
Com vontades falseadas.

Como o abraço que ele nunca deu.
Como o sorriso que ela nunca recebeu.

Ela se equilibrou nos pedaços de si que ainda lhe sobravam... cambaleante, mas corajosa.
Olhou em volta e viu todos os respingos escorrendo pelas paredes – letras, palavras, sentimentos, tormentos, alentos, sangue, água, escarro, lágrimas. Tudo que vazara ao se escancarar.
Tudo que escapara ao passar a navalha sobre seus olhos, sua boca, seu peito.
Calou-se. Olhou e olhou-se.
E não reconheceu nada como se fosse seu.
E percebeu que não eram...
E nem seriam.

Saiu.
Pela porta dos fundos.
Quietinha... Sozinha... Mas acompanhada do sentimento de vazio!
Mãozinhas dadas com ele.
Que um dia ainda vai lhe mostrar que ele existe para que possa caber algo.



(porque eu escrevo enquanto almoço...)



... nessa casa se ouve Ella Fitzgerald




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