Chorei
sim.
Em
lágrimas que não saíram.
Secas
como você.
Engasgadas
como eu.
A
luz já estava apagada!
Mas
ela estava cegada, olhos bem fechados, entorpecida em si mesma, quem sabe.
E
não tinha percebido ainda...
Olhos
abertos a fórceps, arrancando pelos e peles, rasgando e forçando a visão letárgica
e dormente que lhe acompanhava há tanto tempo que ela até achava que era sua.
E
de tanto ver o mundo em penumbras, não sabia mais diferenciar o que era vulto
do que era sombra do que era tumulto.
Tumulto...
O
sentimento de inquietação que, de tanto lhe acompanhar, ela até achava que era
seu.
Onde
nada existia...
Só
o sabor da azia que sobrava atravessando a goela de quem comeu e não gostou.
Foi
ele quem comeu.
Mas
foi ela que se engasgou.
Precisava
vomitar... Iria enfiar 3 dedos na garganta até arrancar ossos e caroços. Até rasgar
o peito, que era tão cheio e ao mesmo estava tão vazio... Que era tão farto e que
fora tão renegado. Era um peito oco, onde o único habitante falava sozinho, e
por tempos só ouvia o som do eco, e achava que fosse alguém lhe respondendo.
Um
peito oco. Um coração vagando num eco. O regurgitar de um estômago vazio. A azia
do outro.
Ela
rasgou.
Lacerante,
errante. Transformando em farrapos o que já era trapo.
Abriu
crateras escancarando seus olhos, despedaçando seu peito. Rompeu carnes e
limites, proferindo exclamações sinceras, revelando a indigestão enfadonha que
ele escondia, fazendo-a enxergar pela primeira vez...
Que
a luz já estava apagada.
Que
não havia nada nem ninguém.
Que
a casa já estava vazia.
Mas
com portas fechadas.
Com
verdades veladas.
Com
vontades falseadas.
Como
o abraço que ele nunca deu.
Como
o sorriso que ela nunca recebeu.
Ela
se equilibrou nos pedaços de si que ainda lhe sobravam... cambaleante, mas
corajosa.
Olhou
em volta e viu todos os respingos escorrendo pelas paredes – letras, palavras,
sentimentos, tormentos, alentos, sangue, água, escarro, lágrimas. Tudo que
vazara ao se escancarar.
Tudo
que escapara ao passar a navalha sobre seus olhos, sua boca, seu peito.
Calou-se.
Olhou e olhou-se.
E
não reconheceu nada como se fosse seu.
E
percebeu que não eram...
E
nem seriam.
Saiu.
Pela
porta dos fundos.
Quietinha...
Sozinha... Mas acompanhada do sentimento de vazio!
Mãozinhas
dadas com ele.
Que
um dia ainda vai lhe mostrar que ele existe para que possa caber algo.
(porque
eu escrevo enquanto almoço...)
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