quinta-feira, 12 de julho de 2012

na chuva



Ela não tem paciência para esperar “chuvas passarem”, se acotovelando em baixo de marquises, com gente esquisita que não sabe manobrar um guarda chuva.

Ela não tem paciência para esperar se acotovelando em baixo de marquises.
Ela não tem paciência para marquises.
Ela não tem paciência para gente esquisita, nem para a maioria dos seres humanos... “que esperam”... e que se acotovelam, e que não sabem manobrar um guarda chuva e, muitas vezes, nem a si mesmos.
Ela não tem paciência para esperar.
Ela não tem paciência.

Então saiu andando.
Há dias anda por aí sem se importar... Atravessando ruas como se estivesse (descalça) na Antártida, atravessando ruas como se fosse um tuaregue (descalço) no meio do deserto.

- E fodam-se essas luzinhas de 3 cores penduradas a cada esquina. E foda-se qualquer carro que cruze no meio do caminho.

Ela tem andado como se fosse a cavalaria de um exército.
Ela tem andado como se fosse a infantaria dos legionários romanos.
Ela tem andado meio mal...

Saiu andando e pulando nas poças... propositalmente fazendo respingar nos carros que fazem isso com os pedestres; propositalmente se deixando molhar... por dentro e por fora.

Chegou molhada, encharcada, pingando.
Pegou toda a chuva do mundo na cabeça.
Pegou toda a chuva do mundo na cabeça, corpo e membros. Por dentro e por fora. Chegou gelada. Por dentro e por fora

Molhada. Gelada. Calada.

Subiu de escadas... 90 e poucos degraus, andando em círculos, ficando tonta e pingando as gotas da chuva ácida andares abaixo.
Ela não tem medo de quase nada nessa vida... mas ela tem medo de andar ‘no elevador mal assombrado’ quando chove... e que é o que resta quando o social está parado. Ela tem medo de ter medos, então prefere dizer “que não gosta”.

Abre a bolsa que é de pano. Tira tudo que molhou lá dentro. Esparrama pelo chão ‘para secar’.
Ela não quer se secar. Vai se molhar de novo.
Gelada. Calada.
Toma um trago da canela, se enfia no chuveiro.
Esparrama roupas pelo chão lado a lado com os papéis.

No box está escrito “lavar pelo avesso”.
E a água escorre pelas costas... levando a chuva ácida, levando a acidez da mulher que é sempre tão doce (?).

Ela agradece por ter água quentinha no chuveiro.
Por ter meias secas para vestir.
Por ter um teto para se guardar.
Veste ‘roupinhas ridículas de ficar em casa’.

Ela está feliz.
Por ter encontrado tanta gente querida num mesmo dia!
Ela está triste.
Por não ter encontrado gente querida nenhum dia...

Calada.
Segue fazendo um lanche. Baixando arquivos da pendrive.
Segue trabalhando noite afora, chuvas adentro...


 

... nessa casa se ouve The Strokes
 

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