sábado, 2 de julho de 2011

Como enlouquecer um homem (ou a si mesma)

também das escavações arqueológicas...
dos papeizinhos jogados pelo fundo do baú... 
achado nos rabiscos perdidos, data de jan.2011


           Já tentou comprar o mesmo absorvente igual ao do mês passado?
Enlouquecedoooor.... Impossível!!!
Não sei que raios os fabricantes ficam de sacanagem com a nossa cara... Total aventura! Uma das coisas mais caóticas e desafiantes pelas quais passam as mulheres. Não há praticidade, não há obviedade, simplicidade, facilidade, uma loucura! Grande desafio.
Ainda não chego ao extremo do absurdo de guardar a embalagem de algum que eu tenha gostado porque nunca lembro, para poder comprar igual. Mas lembro disso toda vez que me pego andando e xingando pela farmácia:
- Mas o que vem a ser flexiabas?!? Multiabas?!? Proteção total noturno básico sem abas?!? Qual a diferença entre diário regular e diário fresh?!? Fresh??? Foi isso mesmo que eu vi?!? O que é um básico suave?!? Compacto extra ultrafino? Termo control adapt?!? Cobertura sueca???? Sueca? É isso?!? Meldels!!!!! O que é um gel noturno??? Um toque suave discret??? Ai, ai, esse aqui promete mais do que faz... O que quer dizer ação ultra seca flexiabas, para que serve dry max normal e uma malha seca slinea??? Gel unique super confort e neutralize brise?!? Cobertura suave proteção total noturno com flexi abas ?!? Eu estou comprando um absorvente ou um jatinho MSJ?

Decididamente... não sei se estou ficando velha cada vez mais rabugenta ou se o mundo era mesmo mais fácil e mais legal quando era mais simples.... Mas, com toda sinceridade, eu preferia quando só existiam 2 opções para um momento crucial de escolha e decisão como esse: “absorvente interno” ou “convencional”. E pooonto!
Parou com esse caô de “Omo dupla ação com bleach de ação fresh”!!!!!
Fico maluca passando por tal aventura.
Por pouco não deixo a farmácia inteira maluca!

Então outro dia me peguei pensando se um homem tivesse que passar por isso...
Enlouqueceria! Com certeza!!!!!

Sabe como deixar um homem maluco?
Peça para ele comprar um absorvente igualzinho ao comprado no mês passado. Impossível!!!
Quá, quá, quá.... Eis o “cúmulo da sacanagem”!

E uma vez eu acho que enlouqueci um quase assim...
Estávamos nos arrumando para ir a um casamento. Ele ficou pronto primeiro.
Não porque sou mulher e, portanto, demoro em me arrumar.
Mas sim porque sou mulher e, portanto, depois de ter já feito mil coisas, ainda fiz a janta, arrumei a mesa, servi tudo, jantei e arrumei a cozinha, tomamos um café, deixei as coisas do dia seguinte todas ok, fiz uns 2 telefonemas importantes, dei uma geral na casa, ajudei ele a escolher a camisa, deixei o nó da gravata pronto e então fui me arrumar. Nisso ele ficou pronto rapidinho. E, claro, ficou me afobando.
Bom, e também por ser mulher, está aí o fato e a dura realidade de que não é só enfiar um terno preto e o único sapato de festa. É cabelo, maquiagem, unha, escolher a roupa, sapato, bolsa, brinco...
E olha... Sou mesmo uma mulher tão especial, que consigo fazer isso tudo sozinha, sem ir ao salão nem precisar de camareiras. Levo cerca de 20 minutos e ainda fico a mais linda da festa, tá!
Mas eu estava aí nesse corre... Ele já pronto, me esperando e tomando umas cervejas.
Escolhi o vestido e então resolvi pedir ajuda para ir mais rápido...
            - Já que você que já está pronto, pode me ajudar um minutinho?
            - Claro, diga aí.
            - Pode ir à farmácia e comprar um lib para mim.
            - Como é que é????
          - Já escolhi o vestido, mas é que este só dá para usar sem sutiã. E o que não dá é para eu ir á festa sem sutiã, então acho que vou me render e usar um lib. Mas não tenho... Pode ir à farmácia e comprar um para mim? Enquanto isso já vou me maquiando, sacou?
            - Comprar o quê???
            - Lib... Não é lib que chama?
            - What a fuck is that, man? – que era um jeito carinhoso de nos expressarmos, como personagens de Tarantino, mas com certo sotaque mezzo jamaicano, quando não estávamos entendendo n-a-d-a...
            - Lib... – E eu, que nunca tinha usado um destes, falava como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – É um adesivinho que você cola no peito, como se fosse um sutiã, quando vai vestir alguma coisa sem sutiã.
            Ele continuou com cara de quem estava ouvindo eu falar em mandarim com sotaque javanês. Aliás, ele fez até certa cara de espanto, como se fosse o momento da revelação, o susto em estar me conhecendo apenas naquele momento após anos de convivência. Consegue imaginar? Cara de “não-estou-entendendo-nada” misturada com “isso-aqui-é-um-momento-de-espanto”... Com um olhar gélido de quem estava visualizando o que seria um “adesivinho para colar no peito”, e ficando em certo pânico com isso. Eu tentava explicar sutil e rapidamente:
            - Lib. Você não conhece?
            - Não meeeeesmo. Adesivinho? Como se fosse um sutiã? Para usar sem sutiã? Não estou entendendo meeeeeesmo. Serve para quê?
            - Para ir a casamentos. Para se arrumar rápido e não ter que ficar escolhendo roupa. Para usar com roupas em que não dá para usar sutiã, e ficar elegante e se sentindo bem. Sei lá para que serve... Nunca usei. Mas acho que estou precisando de um deste agora... Pode ir à farmácia e comprar para mim?
- Farmácia? Isso vende na farmácia?
- Farmácia. Já vi. Todas têm. Farmácias vendem coisas piores até... Na farmácia tem sim. Vá na fé. Pode ir que é certo.
- Mas é assim tipo um rolo? De fita adesiva?
- Não. É um pacotinho achatado assim que nem de meia calça. Provavelmente vai ter a foto de um peito, ou de uma moça livre, leve e solta, com cara de moça da embalagem de azeite, mas com os peitos de fora.
- Meldels... – e a cara dele, por incrível que pareça, estava ficando cada vez pior. Eu olhava no relógio e ia ficando apavorada em atrasar, e tentava apressar o processo.
- Vai lá, vai lá. Você já está pronto, eu vou me adiantando por aqui, plíz.
Ele foi.
Continuei me arrumando e correndo... Não queria chegar ao casamento depois da noiva, né. E ainda era longe pra chuchu, num lugar de nome horroroso, e que para chegar precisava até de mapa. Resolvi que ia me arrumar rapidinho e partiu. Ligo o rádio, e em 3 músicas estou pronta.
Toca o interfone.
- Interfone? – situação de risco... Momento de ter alguém batendo á sua porta numa hora crítica de se arrumar rapidinho para não se atrasar. Nem atendi...
O interfone é insistente.
Péééééé, pééééé, pééééé.
Lá vou eu, um olho pintado, outro não, embrulhada na toalha, meia calça sem nada em cima, pé com chinelo, outro não, e vou espiar pela janela quem era.
Era ele.
Suando e com cara de pânico.
- Putz, que merda. – eu pensava enquanto tentava abrir a janela sem derrubar a toalha – Foi assaltado. Saiu á rua de terno, acharam que era algum deputado barrigudinho. - Não Dani, relaxa... – E segura a toalha com uma mão, uma bandeira da janela com o joelho, com a outra mão abre a janela de cá. - Não Dani, calma... - Ele deve ter esquecido a carteira, está tudo bem. Mas essa cara de espanto do rapaz está assustadora. Ele está suando, já tirou a gravata e está abrindo a camisa, enxuga a testa e a franze, não pára quieto com as pernas... Abriu.
- Oi. Que foi?
E ele fala rápido e nervoso:
- É P, M ou G? É P, M ou G?
- Pooooorra, amor. Sei lá... Nunca usei, lembra?
O cara suava e agora ia ficando vermelho.... Não... Roxo. Vermelho.... Vermelho-meio-roxo, roxo- avermelhado... As pernas inquietas batiam no chão, como se dançasse algum forró quase psicodélico.
Eu continuo:
- Qual é o referencial? P é um limão ou P é uma maçã?
Ele continua nervoso e apressado:
- Não sei. Não sei. As embalagens são fechadas!!!!
- Ai, meu caneco... Ó... meus sutiãs são 46. Isso é P, M ou G?
Percebo a vizinha abrindo a janela e enfiando a cabeça para fora... Já me preparava para dizer para ela não se meter na vida alheia, voltar para sua novela e “me deixa, que eu estou atrasada!”
Ele, aflito:
- Eu não sei, eu não sei. – parecendo um preso pela inquisição. - Eu não sei, eu não sei. Os peitos são seus...
- Aaaahhhhh, mas você também conhece. Abre a mão aí. Veja se o que cabe dentro é P, M ou G!
O bichinho suava cada vez mais... Já estava quase sem camisa, terno pendurado no portão. Mais um pouco e acho que ele trocaria os sapatos por chinelos, dobraria a barra da calça, pediria para eu jogar uma cerveja pela janela...
- Dani, não sei... Sei que é assim, quer dizer, meio assim.... – e ia gesticulando, mexendo as mãos, abrindo e fechando os dedos, como se estivesse segurando um pudim desenformado sem ser sobre o prato - Cabe na mão aberta, né! E é 46, já é um começo.
- Isso. Isso. Aí. Aí, é aí. Pára quieto com a mão. Volta lá e pergunta para a mocinha da farmácia se assim desse jeito que está agora , é P, M ou G.
- Daaaani, eu não vou falar sobre isso com aquela mocinha. Eu não vou à farmácia com a mão assim aberta, não vou!
- Ah é. É verdade. Acho prudente da sua parte. Deixa a mocinha fora dessa. Seguinte: traz um M e um G, eu provo aqui e escolho, ou então vou com um de cada porque toda simetria é chata.
Ele continua nervoso, tenso e suado.
Eu fecho a janela, entro, volto a me arrumar.
Dou um passo atrás, para ver se ele tinha ido mesmo ou se estava pedindo ajuda ao guardinha da rua. Ninguém ali... Só um terno pendurado no portão.
Ok. Agora é só mais 1 música e já é para estar pronta, flor!
Ele chega, me entrega os pacotinhos, vai tomar uma cerveja para relaxar depois de  tanto nervoso e momentos de tensão enquanto eu me tranco no banheiro para tentar descobrir o que fazer com aquilo...
Ufff..... Vou falar a verdade, foi difícil! Coisinha esquista, não gostei muito não. Botei, mas fiquei morrendo de medo da hora de tirar.... Resolvi arriscar. Afinal, não sou ‘perua’, para ficar sofrendo de véspera. Imaginei que o pior que pudesse acontecer seria ser como uma depilação, mas em meus lindos e suaves peitinhos. E eu juro que já fiz depilação em lugares piores....
O rapaz?
Sobreviveu.
Mas acho que contribuí para seu processo de enlouquecimento.
Entramos no carro num silêncio quase fúnebre. Como se ele tivesse acabado de descobrir que era casado com uma sadomasoquista e não sabia. Eu, aflita por estar sem sutiã, como se estivesse com 2 adesivos colados por baixo do vestido de renda prateado. E estava. E estava incomodada e aflita com isso, e quase enlouqueci.
Mas então percebi que sim, as mulheres têm o potencial e o poder de também enlouquecer os homens.



... nessa casa se ouve Johnny Otis feat. Jimmy Rushing

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