quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A primeira vez a gente nunca esquece

Fui à Nutricionista pela primeira vez na vida!!!!
Estava contando os dias para a consulta, estava numa alegria só, na maior excitação, feliz da vida mesmo por ir então a uma nutricionista. Acho que um tanto pela sensação de “estar cuidando de mim” de alguma forma, de fazer algo para meu bem, sabe? E mais um tanto pelo prazer da descoberta, pela oportunidade de esclarecer coisas, tirar dúvidas e ter respostas para algumas coisas que eu não tivesse descoberto sozinha. Pois bem, eu estava toda eufórica por ir à nutricionista...
O tamanho da minha decepção foi proporcional ao de tanta excitação...
Ai, ai...
Tá... Não serei indelicada nem malcriada, não vou dar nomes aos bois, e também vou tentar não julgar demais as pessoas... Mas que fiquei decepcionada fiquei, mas que saí de lá com cara de cu, descrente, descreeeente da potencialidade dos profissionais brasileiros, da humanidade e de tantas outras coisas, saí...
Alguém já foi ao nutricionista?
Encontrou respostas para algumas coisas que procurava?
Teve orientação direcionada e específica sobre coisas a fazer?
Sentiu-se seguro, confiante e acreditando que aquilo pudesse ser o melhor a ser feito?
Pois bem, cheguei logo me apresentando, das formas que pude e achei conveniente.

Levei minha batelada de exames recentes, sangue, glicose, uréia, creatinina, lipidograma, hormônios e mais uns 15 outros com nomes em siglas de sei-lá-mais-o-que-são... Dá para me conhecer por dentro, de uma forma química ou física, penso eu... Para me conhecer por dentro de outras formas, comecei a falar... A anamnese mesmo, né. E tentei fazer um rápido apanhado de informações relacionadas direta ou indiretamente à minha alimentação, e outros hábitos que fazem a diferença no meu corpicho, por dentro ou por fora.
O ‘x’ da questão é que tenho uma forma muito peculiar de lidar com tudo... isso. Digo que me “automedico”, mas como não é medicação, é alimentação, pode se dizer que institui formas próprias de direcionar ou guiar minha dieta... Mas também não acho de todo distante de ‘medicação’... O histórico familiar é de uma turma de malucos especial, que inventa ou cria formas próprias de ser, viver e estar neste mundo... Lembro de papai, por exemplo, que toda vida disse que “não precisávamos de remédios, precisávamos nos alimentar corretamente” e que, quando não nos alimentássemos direito... em caso de doença, “para tudo há um chá certo que resolva”. E assim vamos... eu cá, e ele lá já com seus 83 aninhos, firme e forte como um tourinho!

Contei que não como carne, mas gostaria de saber mais e melhor sobre outras fontes e compensações de proteínas. Contei que parei de tomar leite aos 21 anos (já faz tempo.... mas abafa o caso) porque achei que já havia atingido o auge da minha formação cálcia, mas que como queijo vez ou outra. Contei que como como uma draga, em grandes quantidades mesmo, e que acho que sou magrelinha porque “a forma do bolo era essa mesma, e saíram todos magrelinhos”. E também que, se fico muito tempo sem comer, emagreço... Os anéis caem dos dedos, a calça cai da cintura, metabolismo de criança.

Fui respondendo algumas perguntas...
- Menstruação?
- Normalíssima. Dia e hora para chegar, do mesmo jeito há mais de 20 anos.
- Evacuação?
- Normalíssima. Todo dia, do mesmo jeito, na mesma hora. E de preferência no mesmo lugar...
Ela começa a “querer achar doenças”...
- Olha, se você não come carne, deve ser anêmica...
- Trouxe meus exames, vamos conferir.
- É, tudo certo... Humm, então se você não come açúcar, certamente é hipoglicêmica. Por isso então deve ter tanta fome e fraqueza. – Fraqueza? Sim, ela disse isso.... Certamente? Sim, ela disse isso....
- Trouxe meus exames, vamos conferir.
- É, tudo certo também.
- Olha... Não vim aqui porque estou doente, nem sinto que tenho nenhum distúrbio. Queria mesmo é uma orientação profissional, quero saber se estou fazendo a coisa certa, se preciso de algum nutriente diferente em meus cardápios, essas coisas.
Bom... Já sou meio linguaruda por natureza... Eita, bigmouth strikes again...O que às vezes me deixa em algumas saias justas por aí. Quer dizer, deixo os outros em saias justas também... Também falo meio sem medir palavras, com freqüência, quase sempre,  muitas vezes dou umas patadas, e nem percebo que o fiz. Falo a verdade ou não falo nada. Meeeesmo. Aí fico quieta como um monge (monge mudo, eu digo), acho que chego até a cerrar os lábios e fico quietinha, mudinha-da-silva...

Percebo também que desde que comecei a meditar regularmente, passei a falar mais sobre meus sentimentos, impressões e opiniões. De forma honesta, sincera. Não quero perder a oportunidade de me expressar. Mas com isso, passei também a tentar me policiar muito mais... “É a melhor forma de eu dizer isso?”,Eu dizer agora o que eu acho ou penso a respeito, vai melhorar a situação?”, “Vai fazer diferença na vida dessa pessoa eu falar o que estou sentindo?”.

Então, com a licença no jogo de palavras, podo a mudinha aqui...

A nutricionista começou a prescrever a dieta recomendada...
- Primeira coisa, carne. Para você não ficar fraquinha.

Sim, mantive a linha...
Sim, segurei a língua...
Não, não falei nada constrangedor para ela.
Sim, percebi que não valia à pena argumentar... E que “fraquinha” era ela. Como profissional, que não leva em conta fatores subjetivos, mas que segue, repete e reproduz ‘padrões’ (?), praxes, normas (?) e tabelinhas.

Para ficar mais fácil entender o que aconteceu por aqui, vou reproduzir mais ou menos como foi o papo, seguindo alguma ordem do diálogo, e (colocando entre parênteses o que eu deixei de falar ou simplesmente pensei na hora, ok?)

A nutricionista começou a prescrever a dieta recomendada...
- Primeira coisa, carne. Para você não ficar fraquinha.
- Eu não como carne. Não quero passar a comer. (Fraquinha? Eu? Fraquinha é a senhora, sua limitada... Eu falei que não como carne, lembra?)
- Mas precisa. Para não ficar fraquinha.
- Não, não “precisa”. Também por isso vim a uma nutricionista, para me indicar como equilibrar melhor minhas fontes de proteína. Para me recomendar fontes alternativas, para me dizer se o que estou comendo é suficiente e está de bom tamanho. (tudo isso mesmo que falei, mas seguido de um “porra!” enfático no final)
- Uma vez por mês, carne. – E ela ia falando e anotando na folhinha da minha dieta... – Você não disse que come carne uma vez por mês? Então, é assim que vai ser. Carne uma vez por mês.
- Não, não é “assim que vai ser”. E não. Eu não disse que como carne uma vez por mês. Eu disse que, quando eu comia carne era em média uma vez por mês. Muitas vezes até por falta de opção, não por vontade. E eu parei novamente, não faz mais parte da minha dieta. (Você ouvia mesmo enquanto eu falava? Eu não suporto ter que falar a mesma coisa mais de uma vez... Ai, ai... eu expliquei tudo tão explicadinho, você nem me ouviu?)
- Mas pre-ci-sa. Para não ficar fraquinha.
- Não sou fraquinha.... Tenho, inclusive, o braço igual ao da Madonna. Sou bem disposta, sou saudável, sou fortinha até em não pegar gripes à toa por aí. (E ninguém “precisa de carne”. Na verdade, o organismo humano foi feito para ser vegetariano. Sabe como funciona o nosso intestino? Sabe que tamanho ele tem e por quê? A humanidade é que se desvirtuou pelo meio do caminho, em algum momento... E instituiu hábitos alimentares e culturais com essa depravação carnívora. Sabia? Nutricionistas não aprendem estas coisas?)
- Está anotado aqui. Carne uma vez por mês.
- Hu-hum... – Pronto. Fiquei muda. E acho que fiz aquela cara de “pode anotar aí, não quer dizer que eu vá seguir”... (e foda-se você). E acho que ela percebeu.
- Olha, se você não quer comer carne todo dia, vai ter que comer 1 vez por mês (Faz algum sentido o que essa mulher está dizendo? É isso mesmo? E é assim que se fala? Parece uma mãe ignorante fazendo chantagens... Meu Deus, coitados dos filhos dela. Devem ter crescido com ela dizendo que para serem "fortinhos" tinham que comer “bifinhos”, “carninha”... Tentando botar doçura e poesia, chamando o bicho no diminutivo... Fazendo essa cara de garota propaganda de família-margarina. Socorro!!!!) E nos outros dias vai comer então frango, leite, ovos, queijo.
- Não, peraí.... Eu não como carne, incluindo frango. E não tomo leite. Ovos? Não como ovos... Talvez vez ou outra, na rua, na massa de alguma coisa... pão, quiches, bolo, em alguma sobremesa. Mas não compro ovos, não fazem parte de meus pratos. (na verdade, tenho certo nojo de ovo... mas não vou falar disso com a senhora, não... Sabe o que é um ovo?)
- Tem que ter proteínas. E o leite é pelo cálcio, não devia ter parado de tomar, não. Já está muito tempo sem leite. abafa o caso, de novo...
- Olha... Na minha lógica, mamíferos tomam leite enquanto estão na fase lactente. Depois disso, todos param. Exceto os humanos??? Eu ainda prolonguei beeeem esta fase, fui até os 21 anos, por achar que talvez precisasse de cálcio na minha formação óssea. Cresci o que tinha que crescer, e parei. Não faz sentido ficar tomando leite. Já passei da idade. Ainda mais leite de vaca, de uma mãe que nem é minha... É hormônio da vaca, para alimentar o bezerrinho. Não é isso? Só me rendo aos queijos mesmo, por pura tentação... Mas é tão esporádico... Não é “elemento nutriente” da dieta do dia a dia, entendeu? É puro prazer, não é necessidade. Sei que nabo é rico em cálcio, mas não conheço muito mais outras coisas para compensar. Por isso vim aqui...
- Se você não tomar leite vai ter fraqueza óssea. Pode ter até uma osteoporose precoce logo, logo.
- Tem alternativa?
- Soja, você come soja?
- Sim. Muito. (Por isso talvez eu seja tão calma... Ó, ó... nem explodi com a sra. ainda... Como muito, dizem que é bom para TPM. As japonesas comem muita soja. Já viu japonesa de TPM? Como muita soja, sim. Mas é difícil achar as de origem não transgênica... tem que ser cauteloso com as sojas que há por aí... Mas, sim. Acho que como muita soja). E então continuei:
- Só isso? Nenhum legume, nenhuma verdura a mais? Ó... Como muito as coisas verdes, alface, agrião, couve. Isso é bom para quê? Preciso aumentar a dose? Equilibrar com o quê?
- Precisa comer de tudo um pouco. Não pode comer só isso.
- Eu não disse que como só isso. Eu disse “como muito”... Nem sei se é muito... Como umas 2 vezes por dia. E também que não sei para que é bom. Olha, podemos fazer um apanhado geral atualizado. Eu te conto o que normalmente como, é isso? Hummm, vamos ver... De manhã eu faço uns 2 sucos ou vitaminas diferentes, um mais “fresco” e um mais “doce”. O fresco eu bato verduras... agrião, couve, alface, com alguma coisa, tipo laranja, mexerica, limão. O outro é basicamente de frutas: banana, maçã, manga, morango, mamão, menos cara de suco, mais cara de vitamina mesmo. E boto levedo de cerveja sempre.
- Não pode comer só isso. De manhã tem que comer pão, manteiga, você come essas coisas? Levedo de cerveja para quê?
- Complemento vitamínico, não é bom? Só não sei se a dose é boa... Mas sempre como, se eu não bater no suco, boto na comida, na sopa, sacou? (olha, fofa... meu prezado ex marido, que era sábio, na primeira vez que me viu fazendo isso perguntou “que raio de pozinho de pirlimpimpim é esse que você bota em tudo quanto é lugar?”. – “levedo de cerveja”. – “ah tá, não sei o que é, não... mas se é de cerveja, deve ser coisa boa”). Levedo de cerveja é bom para quê? Qual a dose diária? É com isso mesmo que eu posso complementar em vitaminas? E não como pão com manteiga de manhã, não...
- Tudo errado. Tem que comer pão com manteiga. Queijo...
- Para quê? Carboidrato e proteína? Energéticos? Ó... Como “comida de esquilo”, umas nozes, castanhas... Quase sempre como bolo, bolinho integral, sabe? Sem leite, sem ovos, sem açúcar. Mas boto mel por cima, que nem calda. E muitas frutas, né? Frutas têm sacarose. Fonte de açúcar, não é?
- Mel? Mel, não...
- Não? Não é bom? Como eu não como açúcar, compenso com outras coisas. Não está certo?
- É que eu não gosto de mel.
(Aaaahhhh... então a sra. indica o que gosta e o que não gosta? Em função de escolhas pessoais, e não em função do perfil e necessidades do seu paciente, sua churrasqueira fdp? Faz diferença eu lhe contar sobre meus hábitos, minhas escolhas, minhas opções pessoais, ideológicas, filosóficas, religiosas? Faz diferença eu tentar dizer de novo que não sei se estou fazendo a coisa certa da melhor forma possível, por isso vim atrás de orientação. A sra. vai me orientar a comer o que você gosta???)

Bom... A consulta ainda levou um tempo... Até falei um pouquinho mais sobre minhas coisinhas, né... Mas acho que em vão. A dra. seguiu uma tabela de peso x altura x idade e disse que estou magra para o contexto. Ok, acho que já sabia... sou magra, mas sou gostosa!
Disse que é para eu comer carne e voltar em 1 mês.

Está na cara que eu não pretendo fazer nenhum dos dois...

Trouxe para casa um papel com “a dieta”, que nada mais me diz além de que 2 + 2 = 4. Algo do tipo, “legumes = batata, cenoura, abobrinha”, “grãos = arroz, lentilha, feijão”.
Putz... Ninguém merece.

Eu que queria saber coisas que não aprendi na escola, nem na faculdade, nem na vida... Como se meus suquinhos de alface com morango, de agrião com pêra, e tudo mais que meu super-mixer me proporciona, são mesmo bons ou se uma coisa anula as propriedades da outra...
Putz... Ninguém merece de novo.

Alguém me indica uma nutricionista!!!

Mas dessas que sabem o que estão fazendo, que têm argumentos para suas crenças ou posturas, que têm a mente e o coração abertos para ir além de uma tabela, e que sabem fazer uma tabela própria e por conta própria. Das que ouvem e assimilam o que seu paciente está dizendo. Das criativas, que vão fazer a alegria da cozinheira.


No aguardo. Atenciosamente, DR


... nessa casa se ouve Radiohead

Um comentário:

Marconi C. Brasil disse...

Sugiro uma NUTRÓLOGA, Dani. É parecido com Nutricionista, só que o cara teve que fazer medicina antes. Te pede exames e, só aí, decide o que você precisa.

Estou sempre aqui, minha querida. Adoro "ler" você. Poderia dizer que você "me inspira", mas não seria de todo honesto. Tenho tido prazer em sonhar, apenas, como Pier Paolo Pasolini, no final dos "Contos de Canterbury".

A Família Brasil (que terá mais um componente em dezembro) te ama a sente saudades.