domingo, 29 de maio de 2011

Parece que é domingo

Então sento para escrever.

Refúgio de uma alma de domingo.

Gosto de estar sozinha. Quer dizer, na verdade, sinto que não estou. Também estou (ainda) à doce companhia de Jonh Coltrane. Admiro-o cada vez mais... E mais ainda ao pensar que o máximo que eu consigo tocar ‘de sopro’ é um apito... Fumo um charuto em minha doce “casa na árvore”. Tenho vergonha de fumar em público. Gosto de ficar sozinha. Gosto de ficar comigo mesma. Também aproveito a também doce companhia de minha super cachaça. Também aproveito a doce companhia de mim mesma.

E escrevo. E danço. E canto. E me deleito comigo mesma.

Às vezes algumas dessas companhias também “assopram” em meus ouvidinhos. Sussurram coisas que parece que só eu entendo. Ouço por dentro. Olho para dentro. Falo para dentro. Mas, às vezes, também tento por para fora.

Escrever é mesmo uma das ‘válvulas de escape’.

Ontem desenhei. Rabisquei. Soltei. Depois esquematizei.

Desenhei 2 tatuagens.

Sei que vou fazê-las. Não sei quando.

Sei que vou morrer. Não sei o dia.

Sei que nada sei. E que vim para aprender. Mas ainda não sei bem o quê...

Ás vezes sinto-me como uma adolescente perdida, assistindo uma aula sem saber do que é. Perguntando para o colega ao lado quem é o professor.

Sinto que todos o são. Mestres de coisas que nem sempre eu sou capaz de perceber.

Tento pensar em todas as coisas que eu (acho que) aprendi. Tento lembrar coisas que eu (acho que) esqueci, tento esvaziar a cabeça e o coração de coisas que eu “acho que sei”, e deixar sobrar espaço para caber “as coisas que eu devo aprender”.

E então sussurro junto, grave e marcadamente, como o baixo que nos acompanha e que eu não faço a menor idéia de quem seja... Garret, Gary, Gilmore... Vocês me confundem! Procuro um encarte que eu não acho. Procuro uma palavra que não chega.

Ando aflita. Ontem fiquei muito nervosa. Passei a tarde chuvosa na Delegacia. Sinto que estou abalada até agora. Sinto dúvidas se a polícia é quem deve, ou consegue, nos ajudar “com as lições que a vida traz”. Sinto dúvidas em relação aos rumos e caminhos da humanidade...

Por vezes sinto descrença... Por vezes sinto compaixão, no real sentido de “me colocar no lugar do outro”. Parece pior... Tenho a sensação de que eu jamais agiria como o outro o fez, de que eu jamais faria isso com outro ser humano. Sinto pena. Sinto dó. Mas também sinto uma raiva que eu não deveria sentir... Tento me aprimorar. Tento me acalmar. Tento sublimar os sentimentos do “lado negro da força” em coisas e de formas que eu não sei quais são... Sigo tentando, pequena padawan... Como a adolescente-fora-de-época que não sabe o nome dos professores, que mal consegue controlar seus ímpetos e impulsos, que luta consigo mesma tentando domar as rédeas dos sentimentos.

Então acho que devo meditar mais. Que devo estudar mais. Que devo amar mais.

E então vejo que medito demais, que estudo demais, que amo demais. Deveria é beber menos, fumar menos, falar menos com discos na vitrola, com personagens de livros, com diretores de filmes que assisto... Deveria é sair mais, me divertir mais, compartilhar e socializar mais, sua Jedi-bicho-do-mato!

Aahhhh... A vida! Esse complexo paradoxo. Esse período de tempo tão arbitrário quanto desconexo. Esse turbilhão de relações humanas tão descabidas quanto incompreensíveis.

Quanto mais eu vejo motivos para comemorar, mais eu sou tomada por outros para lamentar...

Quando chega uma alegria de uma ordem, vem outra de outra me dilacerar e mostrar que a vida nem sempre é bela, que o mundo não é só flores e amores (e uma boa música e uma boa cachaça).

Fator “pé no chão”? Fator “realidade”?

Como seu uma voz irrompesse por cima do trompete e berrasse agudamente: “Estava aí achando a vida linda, o mundo belo, feliz da vida, apaixonada por tudo e por todos, resolvida, realizada, centrada, equilibrada, feliz e contente levando sua vidinha? Olha a merda bem á porta ao lado! Está vendo que todo o mal da humanidade também lhe diz respeito? Está vendo que os seres humanos podem ser maus e que sim, fazem coisas absurdas passando por cima até de sua vidinha lindinha, honesta e feliz? Está achando que a moléstia da humanidade também não é sua? Que as atitudes dos outros um dia não vão em choque às suas? Se fudeu! Agora senta, se aquieta, tira seu sorriso do caminho e engole o choro”.

Difícil não parar para pensar. Difícil esquecer e aquietar. Difícil não filosofar muuuuuuuito em cima disso tudo.

Tento trocar tanta indignação pelos meus sentimentos de leveza, amor, plenitude e alegria.

Difícil também... Parece um exercício constante, me puxando e me controlando. Tenho que estar alerta, procurando a minha verdade íntima, sem me deixar abalar nem temer.

Não sei se certa ou errada... Mas sincera, como sempre.
Não sei se ingênua ou otimista ao extremo... Mas honrada, pelo menos comigo mesma

- Prefiro acreditar que se eu fizer a minha parte, já colaboro para o bem maior da humanidade.

- Prefiro achar que se preenchermos o mundo com coisas boas e novas lições para nosso aperfeiçoamento, não vai haver espaço para tanta miséria e mesquinharia, no real sentido da palavra.

- Prefiro seguir feliz, iluminada e cheia de amor, a me deixar levar pelos problemas mundanos e cotidianos, criados por pessoas de má índole, má fé, mau caráter e total falta de amor a si mesmos e todos seus irmãos.

- Prefiro achar que áquele que ontem me roubou há de haver um mestre para lhe ensinar algo nessa vida também. E que a ele possa também ser proporcionado um momento de encontro consigo mesmo, de reflexão e de trabalho interno que lhe ajude a se tornar um ser humano melhor, e em melhores formas de convívio com seus semelhantes.




... nessa casa (ainda) se ouve John Coltrane

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