terça-feira, 8 de março de 2011

Carnaval parte II * o desfile

Cumprindo a meta de, toda semana, “fazer algo que eu nunca tenha feito”, desta vez eu me superei!!! Bati recordes, extrapolei a cota. Missão cumprida ao extremo... Essa vale por 1 mês:

- Desfilei numa escola de samba!!!!
Sim, é isso mesmo que você ouviu.

- Desfilei numa escola de samba.
Convite meio de última hora, turma animada, experiência ainda inédita, resolvi ir...
Na verdade eu já havia dado o ar da minha graça pela passarela do samba. Mas a serviço, né. Então não vale.
Dessa vez fui à paisana. Fui de foliona.

Aquele esquema tipo “ala para gringo”, roupas de penas e penas e mais penas, vaccum forming na cabeça, sapatos ridículos, ombreiras de arame (com penas e penas e mais penas) daquelas que não deixam os braços levantarem e vão esbarrando e atropelando em tudo que há pelo caminho, cerveja escondidinha na concentração, enredo e nome de fantasia que deixaria qualquer roteirista de Lost boquiaberto de inveja com tanta criatividade e poder de abstração, essas coisas...
- Nossa, devia estar linda!
- É... Pode-se dizer que sim. Lindeza é algo tão relativo, né...
- Penas, plumas, vaccum forming na cabeça, sapatos ridículos, puro glamour embaixo de chuva á meia noite na Central do Brasil. Não estava linda, não, musa do verão?
- Pra maritaca eu estava linda, sim. Algo entre pavão-misterioso e arranjo-de-mesa-da-festa-anual-do-clube-dos-servidores-gays-de-qualquer-lugar. E agasalhada, porém molhada, muito molhada... E isso não é lá muito glamouroso, não... Mas como resolvi ser foliona uma vez na vida, vá lá... Lá fui eu. Meia noite na Central do Brasil, toda a chuva do mundo por duas horas ininterruptamente sobre minha cabecinha empenada, fantasia que parecia um pijaminha, com mil penas em cima, todo o suingue e a ginga da mulher brasileira, e “então tá então”.
Saí cedo de casa.

E como sou prevenida, gata escaldada, diria (e também não agüento mais não ter o que comer por aí, ou melhor, ter que contentar em comer amendoim por total falta de opção), levei um lanchinho vegano mínimo, numa sacolinha emergencial, para não passar perrengue...
Aquela voz-da-vó que assopra dentro da orelhinha, sabe como é?

– Leva um casaquinho.
- Guarda-chuva?
Pois bem, dessa vez ela falou algo assim:

- Em algum momento você vai ter fome. Vai ter que ficar horas no curralzinho na concentração. Aposto que só vai ter churrasquinho, calabresa na chapa, na melhor das hipóteses, em alguma barraquinha com melhor infra, só vai encontrar cachorro quente ou “caldinho de feijão com muito bacon”. Você não é boba, leva seu lanchinho!
Foi o que eu fiz.
Ok... Mas admito... Na minha fértil cabecinha, eu ainda tinha esperanças de um dia encontrar uma barraquinha no pé do balança-mas-não-cai, daquelas cobertas com lona azul, mas com uma confortável poltrona com banquinho para os pés e vista panorâmica para o terreirão do samba (???).

Neste pedaço do shangrilá da praça XI, haveria um risoto vegetariano, integral e quentinho, temperadinho com hortelã e um farto fio de bom azeite português, uma tortinha de palmito, saladinha bem lavada, cerveja guinness geladíssima...

Tudo tão simples, tão facinho de produzir, por que raios ficam lá fritando lingüiça e servindo itaipava quente?

Ai, ai... Melhor levar de casa mesmo.
Então lá fui eu, quatro sanduichinhos, umas azeitonas para “levantar a pressão” e acompanhar a cervejinha, 3 barras de granola, água pode deixar para comprar na hora que vem em embalagem lacrada com CNPJ do responsável.
Mas foi chuva na cabeça por duas horas de curralzinho de concentração e não consegui nem abrir a sacolinha. E não é que chegou a hora do desfile e lá estou eu com o maior contrabando de pãezinhos e azeitonas na mão! Ai, voz da vó...
Nessa hora a foliona faz o quê?
Faz igual à morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela.
Escondi tudo direitinho por dentro da calça, amarradinho na perna, e lá fui eu passarela do samba adentro... Cheia de glamour, de “catigoria”, jogando os cabelos ensopados para trás e os peitos encharcados para cima, com um farnelzinho cheio de azeitonas dentro da calça sambando por 1 hora!
- Nossa! Que discrição. Que elegância. Sagaz e perspicaz, hein.... A Harmonia nem percebeu?
- Querido-ô! A Harmonia nem percebeu que eu cantaria euforicamente qualquer samba que eu lembrasse na hora.
- Ué... Você não sabia o samba da escola?
- Veja bem... Eu já sabia o nome da escola e também sabia o nome da minha fantasia. Eu sabia o nome de quase todos dos amigos que estavam junto, e eu sabia até o meu nome! Ainda ia ter que saber cantar o samba???
- Lógico! É a evolução. É o tempero e a animação da Ala. É a obra prima dos compositores, o cerne do enredo.
- Samba enredo não tem disso, não, fofo! Em cinco minutos de concentração e você já consegue decorar o refrão. O resto da música aposto, mas aposto meeeeesmo, que é só conseguir ritmar “babaô, babaô, amooor, sou alegria e fantasia” e qualquer outra palavra que rime com estas, que você canta o samba da escola. De qualquer escola. De todas as escolas. Fechou?
- Fechou.
Fechadíssimo.

Foi exatamente isso!

E eu ainda cantei, cantei, e canteeeeei. Bati no peito na hora de cantar “amoooor”. Bracinhos para cima (ou quase... ou como deu... dentro da armadura de penas...) na hora do “é fantasia, é alegria”. Sambinha no pé na hora do “alô, calo-ôr, babaô, eu vô, eu tô, eu sô, animô, suingô, suingô”.
Impecável!
Simples assim. E fica a dica: “alô, calo-ôr, babaô, eu vô, eu tô, eu sô, animô, suingô, o ovo do vovô”  funciona para samba enredo, carnaval do Rio de Janeiro. Se for em Salvador é para rimar com “ê”, entendeu? Tipo... “badauê, lerê-lerê, olhaê, xerê, ximbalaê, quê o quê”
Não existem mais aquelas rimas consistentes e equilibradas de antigamente.... “pega ela aí pra passar batom cor de violeta na boca e na porta do céu” ou “tá ficando apertadinho, por favor, abre a rodinha, por favor”. Não existe.... É “alô, amoô-or, calo-ôr, babaô” e “badauê, auê, ximbalaê”. Sacou?

Enfim... Desfilei. Sobrevivi. Passo bem.
Cheguei bem em casa.
Bem molhada, bem despedaçada, mas bem.
A fantasia ficou pelo corredor do prédio... Já entrei em casa só vestindo um saquinho de pão com azeitonas... Banho quentinho, meinha de lã, chazinho de camomila.
Ufa!
Não acredita?
Olha aí, ó...

E para esclarecer desde já. Sim, sou eu mesma (pensou que fosse Angelina Jolie disfarçada, né...). Sim, eu me comportei direitinho. Repare... não estou com fones de ouvido, não levei um sonzinho escondidinho, não era rock. Era o tal do “babaô, babaô, amooor, sou alegria e fantasia” “babaô, babaô, amooor, sou alegria e fantasia”.
E sim, eu sobrevivi. Continuo rabugenta mas feliz e sorrindo.


... nessa casa se ouve REM

Um comentário:

Bel disse...

Sensacional a sua viagem ao mundo do samba...hahaha.E o melhor: vc sobreviveu!!!!rsrsrsrs