terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tenho um coração mais perdido que a Vanusa cantando o hino nacional...

(capítulo 2, talvez...)

 
A casa era um tanto bagunçada, ainda assim parecia vazia. Esparramavam-se alguns amontoados de certa desordem irreconhecível, mas o que se via naquela hora inebriante era apenas uma pequena linha amarelada entrando pela janela, desenhando um traço suave sobre o chão de azulejos mal pintados de branco. O rasgo de sol tímido beirava a grelha enferrujada do ralo. A solidão do lugar parecia fazer barulho... um gemido frio e intimidante.

Não era sala, não era corredor. O lugar inóspito mal tinha paredes, ainda assim parecia um labirinto. Portas e portas enfileiradas, portas que revelavam outras portas, portas emoldurando portas. Portas encostadas lado a lado; difícil imaginar que não fossem de um mesmo lugar...

Monocromático sujo. Sentimento marujo.
O coração respira fundo e começa...
- Tenho medo do que sinto.

- Sei, sei...

- Por isso mesmo desta vez resolvi investigar... Tenho medo desse caminho... desconhecido, sombrio, assustador. Por isso sempre evito adentrar em suas profundezas.

Mas não gosto disso. Parece que estou fugindo, parece que estou acuado. Não quero viver com medo, evitando-o e fingindo que não o vejo. Não dá mais para ir vivendo e simplesmente passar por 1 porta sem saber o que tem lá dentro, só porque ela me assusta.

Como ir vivendo e fugindo? E me escondendo? Como passar em frente à porta sempre bem quietinha, realmente apavorada, sem saber o que ali se guarda?

Acho sempre que algo pode sair abruptamente e me puxar de 1 vez para lá...

Ou então que se, despercebidamente, uma vez eu entrar, a porta irá bater e não consiga mais sair. Passo na ponta dos pés. Cubro o olho mágico para ninguém ver que estou ali. Fico muda, em um silêncio que cerca a alma, até chegar às portas e caminhos que eu conheço.

- Fingindo que a tal porta do desconhecido não existe?

- Exatamente. Só pelo medo do desconhecido. Mas não agüento... Não estou mais agüentando. Não dá mais para viver assim... Acuada. Assustada. Uma hora eu teria que abri-la, certo?

- Portas existem para serem abertas. Nada pode viver trancado para sempre. Você sabe o que tem dentro? Sabe quem o trancou ali?

- Não sei bem, não. Quando eu percebi que a porta existia, ela já estava ali fechada. E me assustando. Quando passo por ela sinto um bafo frio me assoprando, barulhos esquisitos e atemorizantes, arrepio-me até os pentelhos. Ouço gritos, socos nas mesas e paredes, discussões alteradas, mulheres em crise, homens frustrados, crianças indesejadas... Sinto uma nuvem de hipocrisia abafando o lugar, sinto sentimentos e desejos acorrentados. Parece que o lugar está lotado. Ao mesmo tempo parece que está em total solidão.

- Medo de entrar?

- Parece que é um lugar que se conhece, parece ser tão vivido que, de alguma forma, se torna familiar. Ainda assim é desconhecido, é traiçoeiro. Tem cheiro de armadilha, é forca disfarçada de gargantilha.

- Abriste a porta? Espiastes o que tem dentro?

- Abri, entrei, estou passeando aqui dentro. Sentindo cada pedacinho do que existe, experimentando cada sabor desconhecido, sentindo todos os cheiros, vendo e vivendo tudo o que eu posso e consigo.

- Sei, sei... Perdeu o medo então?

- Tento não parar para pensar no que me assusta. Quero apenas experimentar e vivenciar, saber do que se trata para poder viver e conviver com isso. Superar o medo, talvez...

- Que tanto medo, medo, medo... Mal te reconheço! Sempre tão corajoso, ousado, intrépido. Agora só fala de medo, medo, medo...

- Gato escaldaaaado...

- Mas e aí? Como se sente aí dentro?

- Perdendo os medos, desvendando segredos, inventando enredos... Sinto que não posso mais fugir, e também sinto que posso fazer algo diferente, pode ter leveza. Mas ainda não sei como.... Ainda assim acho que já é um passo dado. Estou tranqüila aqui dentro. Não há que se repetir os mesmos erros, meus ou dos outros. Há que se conhecer, atrás da porta e a si mesma.

- Hunnnn.... apaixonada?

- Da resposta ainda fujo...


(pausa)


(o coração continua...)





... nessa casa se ouve Nina Simone



Estava escrito aqui já faz algum tempo... data de 09 de 09.
O Capítulo 3 também já andou se apontando por aí...

E tinha uma obs. acompanhando... não vou nem reler nem censurar.
Verdade nua e crua...em determinado momento, sob determinado contexto.
Afinal... “penso, logo, mudo de idéia”


 
Ai, ai.... Por que será que isso tanto me incomoda? Por que será que me sinto tão aflita, tão angustiada? Às vezes parece que eu nunca mais vou conseguir me relacionar com alguém novamente. Ás vezes parece que sempre há algo errado a acontecer... Mas o que será que é errado? O que é certo e o que é errado nessas horas? Existe mesmo?

Sei que me sinto bem comigo mesma. Mas é uma relação esquisita... às vezes parece que estando bem comigo mesma não é possível estar bem com mais ninguém...

Às vezes parece que não há de existir alguém que queira estar comigo. Nem bem, nem mal, nem de jeito nenhum.... às vezes lamento, às vezes tormento, às vezes invento...

Mas sigo assim. Sigo em frente. Sinto-me tranqüila.

Também sei o que quero e o que não quero. Sei dos riscos que corremos, sei dos medos que tenho, mas sei também que sou corajosa! E sou verdadeira!

E tem 1 milhão de outras coisas que eu não sei...

Queria alguém que também fosse assim... Que chegasse e falasse “ó... não sei onde isso vai levar, não... não sei nem se leva a algum lugar. Mas topo correr esse risco com você”. Pronto.
Simples assim? Ou complexo assim?

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