sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

solidão x individualidade

Mamãe esteve aqui há pouco tempo... madrugada adentro bebendo vinho e falando da vida...
Ela (talvez como toda mãe...) meio inquieta, talvez até aflita, se diz preocupada comigo.

Ok.
Processo normal, atitude natural, preocupação de mãe é uma das constantes invariáveis do mundo.

Mas... então ela diz estar preocupada “com minha solidão” (?).

Fez-se o silêncio por alguns instantes...

Ora, mãe!!!
Pense comigo... Vejo que há um limite delicado, até meio frágil, um limite mesmo tênue, por vezes difícil de identificar, mas que define o que é solidão e o que é individualidade.

Esse limitezinho diz o que é um e o que é outro! Às vezes estes podem mesmo se confundir, se atrapalharem no meio dos processos da vida... mas creio que há sim uma linha que os diferencia, e que nós muitas vezes não os reconhecemos, não os identificamos, não sabemos separar, distinguir ou dissociar as coisas...

E eu continuo...

Mamãe... você tem muito mais estrada de vida do que eu. Já conviveu com família, com pessoas próximas. Casada há mais de meio século, penca de filhos, penca de netos, casa cheia e movimentada...
Em algum momento você já se ouviu e em algum momento pensou “ai... como eu preferia estar sozinha agora” (...)

Fez se novamente o silêncio...

O silêncio que tanto fala. Mamãe suspira e se cala...

E me responde com seus profundos sentimentos... (papo esse que vou preservar e parar por aqui, mas a conversa se estende até 4 e picas da manhã...).

Conto apenas algumas coisas que são minhas...

Não me sinto sozinha.
Sinto-me em companhia de mim mesma.
Prefiro assim. Estou assim porque quero, porque gosto.
Talvez nesse momento, nessa fase, não sei bem... não sei sobre “comos” e “quandos”... sei de meus porquês.

Algumas vezes sim, sinto falta de uma companhia.
Mas muitas vezes também, sinto vontade ou prefiro “estar só”.

Gosto disso. Gosto do meu cantinho, gosto do meu jeitinho, sou feliz comigo mesma.

Por que tantos estranham?

Mãe... a vida já é tanto burburinho que quando estou sozinha na minha casinha é tudo tão bom...

Sim, faltam-me algumas coisas na vida... mas não sei se são pessoas...
Tenho amigos, tenho família, tenho pessoas queridas por perto. Tenho pessoas que amo e estimo, perto ou longe, mas me que fazem “me sentir pertencente a este mundo”.
Tenho saúde, paz de espírito, prazer pela vida. Por que não posso querer estar sozinha?

Acho que estou sozinha por opção. Não por falta de opção...

Não estou sozinha.
Estou separada, descasada ou solteira, como queira definir ou interpretar.
Moro sozinha.
Tão esquisito assim?

Tem gente que “casa e constitui família”... mas se pudessem matariam uns aos outros. Outros o fazem realmente, de alguma forma...
Tem gente que vive cercado de gente, mas se sente sozinho.
Tem gente que se isola. Vive sozinho sem contato com o mundo lá de fora, e tem gente que vive sozinho sem ser por sua escolha ou decisão.
Por que lhe parece tão estranho eu querer viver comigo mesma?

Ai... meus filhos todos separados...

Pô, mãe!!! Não está bom assim?
Seus filhos todos separados mas com bons sentimentos e relações com aqueles com quem dividiram a vida em algum momento.
Seus filhos todos separados porque assim optaram, porque assim decidiram suas vidas.

Estou tão mal assim?
Tão mal assim ser “separada”? Ainda existe “mal” nisso aos olhos de alguém? É por isso? Diferenças culturais ou de geração? Ou aos seus olhos ainda possa lhe parecer ruim “estar sozinho”?

Seus filhos são todos meio esquisitos mesmo... Mas são felizes, cada qual do seu modo, com suas esquisitices. Uns bichinhos do mato... que ficam felizes quando estão ou podem estar sós.

Esquisitices ou particularidades à parte, estou comigo mesma.

E o limitezinho... que diferencia sim solidão e individualidade, acho que nasce aí.
E quando estas “se confundem”, é muita coisa que se perde e se confunde também...


Algum tempo depois voltei (sozinha...) a pensar e refletir sobre o assunto e os papos...
Cheguei a duas conclusões iniciais.

A primeira é uma loooonga história, papo para longas e outras horas e páginas...

A segunda é que “Sim, mãe. Talvez um dia eu até case de novo, mas vou preferir e continuar morando sozinha”.



... nessa casa se ouve Miles Davis

Um comentário:

Marconi C. Brasil disse...

Dani, acho que você acabou inaugurando um "to be continued" em tua página.

Estarei esperando a "looooonga" conclusão!

Beijos e abraços muito apertados da Família Brasil.