quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pequenos papos, grandes histórias


ou papéis soltos pela bolsa...


Eu tenho um canal de comunicação direto com as crianças, né? Tipo “uma freqüência que é só nossa no rádio da produção”.
A gente se fala sem ter que falar nada.
A gente conversa, se alcança de alguma forma, e bate altos papos, muitas vezes só com um olhar, um gesto.
Não sei bem como é, mas a gente se entende e se diverte assim.

Outro dia estava eu no metrô, batendo um “papo telepático” com uma guriazinha assim... Ela devia ter uns 5 aninhos, e nós ali conversando e rindo sem emitir nenhuma palavra.
De repente, ela fala (!)... Vira para mim e fala (!) assim:
- Esse aí é que é o seu marido? – apontando com a cabeça para o rapaz ao meu lado. Eu olho para o lado, espantada com o comentário dela, respondo na bucha:
- Não, não é não.
Ela segue:
- E quem é ele?
- É um “moço no metrô” – eu, já cada vez mais inconformada...
- E quem é o seu marido? – olhando à volta.
- Não tenho marido, querida. – ficando apreensiva com um questionamento tão descabido quanto inóspito da bichinha...
- Por que não? – ela, mais na bucha ainda, vai falando rapidamente...

O que dizer para a criatura numa hora dessas?
E o que dizer rapidamente?
(...)
E de forma sucinta porém elucidativa, contextualizando a vida e o mundo, sendo didática e explicativa mas bem rápido, antes do “next stop, Cinelândia Station”. (???)
Como explicar tantas histórias, tantos anos de vida, tantas situações e condições, como responder ‘uma pergunta de criança’ dessas, de forma coerente, abrangente e consistente???

Acho que consegui pensar rápido:

- Porque nós gatas já nascemos pobres, porém já nascemos liiiivres!

Ela me olhou meio de sorrisinho de lado, com uma carinha inquieta, como se nunca tivesse ouvido isso na vida (e provavelmente nunca ouviu...).
Eu olhei para a mãe dela (que tinha uma cara de quem bota Zé Menotti e Luciano e funk-pancadão no churrasco em casa aos domigos... E também cara de quem “só tem um marido” porque engravidou sem nem bem saber como e porquê, e nem em que isso implica, meio por aí... no meio dos caminhos da vida...).
Respirei fundo e pensei assim: Que ela cresça linda e lúcida, que ela saiba passar pela experiência de vida de forma nobre consigo mesma, com juízo crítico apurado, com discernimento bem equilibrado, sob bons valores de vida.
Dei uma piscadinha e desci...
E a carinha da criaturinha pensativa ainda ficou ecoando um tempo por aqui...




... nessa casa se ouve Cream

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