Não sei se é medo da
mesmice, medo da rotina, se é pura inquietude nata e vontade de transformação, ou
se é o tal do bicho carpinteiro.... Mas acho que vivo e convivo com a
extrema necessidade da capacidade de (se) reinventar...
Extrema mesmo!
Dava um programa do Discovery:
“vontades de mudanças extremas”, apresentado por Danizinha e suas formigas
no rabo e sua vontade de transformação constante.
Ficou bonito, né? Sonoro...
É que não consigo
simplesmente “me acostumar” com o mundo e as coisas como são... Precisa mudar! Precisa
ser diferente! Precisa ter uma novidade, sabe?
Mudo as coisas de lugar,
mudo os móveis, mudo as cores, mudo o que faço, como faço, mudo tudo. Não consigo
ter nada, mesmo “recém adquirido” que não sofra transformações (e mudanças...)
nas minhas mãos... Mudo até a mim mesma o tempo todo.
Não, não é TPM...
Não, não é patológico.
Veja bem... a figura já mora
no mesmo lugar. Acorda de manhã e a
cafeteira está na mesma pia. A geladeira
está no mesmo canto. A própria
cozinha está no mesmo lugar! Vai ao
banheiro, e a pia, a privada e o chuveiro estão aonde? No mesmo lugar (e olha que eu aqui, mesmo na casa pequenina, tenho
2 chuveiros! Só para poder variar...) Seguindo... Sai para trabalhar no mesmo lugar (e olha de novo, que eu trabalho
com coisa pouco convencionais e sob rápidas mudanças, cada semana um projeto
diferente graçadeus). Mas me arrepio
só de imaginar que tem gente que trabalha no
mesmo lugar fazendo a mesma coisa
todo dia! Isso deve ser enlouquecedor.... Pega a mesma condução, faz o
mesmo trajeto, vê as mesmas caras, conversa sobre os mesmos assuntos, e por aí vai...
Jesus!!!! E quando volta
para a casa, volta para onde?
Para a mesma casa!!!
Ainda bem que sou solteira,
porque se não ainda seria todo dia chegar em casa e encontrar o mesmo marido!!!
Imagina... eu mesma já me
olho no espelho e é todo dia a mesma cara! Ninguém agüenta...
Na verdade, quando eu estava
casada, acho que ele entendeu o espírito da coisa rapidinho... E aprendeu “a se
mudar” - uma vez com barba, uma vez sem barba, de vez em quando careca, de vez
em quando black power, com bigode, sem bigode, costeletas, sem costeletas, e
fazia combinações todas entre estas variações. Pronto. Superávamos este
problema e era tudo bem. Ele só se queixava quando chegava em casa e eu
tinha mudado tudo de lugar.... Tipo o que era do quarto estava na sala, o que
era da sala agora estava pendurado pelas paredes, a sala passou a ser na
cozinha, essas coisas.... Ele estranhava um tanto, ás vezes tentava argumentar
alguma coisa assim “mas eu estou acostumado a todo dia chegar e largar as
chaves na mesinha que tinha do lado da porta... e agora a mesinha nem existe
mais!”
Pois bem... a tal vontade viva
e constante de que tudo esteja sempre em processo, em transformação, de que
tudo mude sempre parece ser a única coisa que não muda por aqui...
Todo dia acordo (na mesma
cama!!!) e vou à varanda ver a vista do mundo lá fora. E o que vejo? A mesma
praça!!! Afff....
Confesso que, com frequência,
imagino simplesmente “dar um giro” nas coisas. Dar uma viradinha no prédio e
então mudar a paisagem da janela... Pois estou esperando as árvores
crescerem e tem demorado um pouco...
Juro que eu queria um dia
acordar e abrir a varanda e estar de frente para a Place de La Concorde, ou
para a Parade Square da Varsóvia, para a Praça Venceslau de Praga ou para a
Plaza Mayor de Madrid.. Alexanderplatz de Berlim, ou a Praça de São Marcos de
Veneza, até para a Piazza Del Popolo!
Mas outra.
Só para variar...
Aqui a casa é pequenininha
como um trailer. E isso é um complicador... pois as coisas são “encaixadinhas”,
têm lugares predeterminados, senão não cabem!!! Ui... Tenho que mudar nos ‘acabamentos’
o tempo todo....
É pequenininha como um
trailer, mas eu digo que é o “trailer mais burro do mundo” porque não sai do
lugar!
Abro a janela e...
Pois é, vida é dura.
E olha que a praça aqui é
novidade pura!
Não tem um dia igual ao
outro...
Mas é a mesma praça.
Certa vez me apaixonei por
uma figura. Uma das coisas que mais me encantara no rapaz fora a sua (aparente)
capacidade de gerir mudanças. Ele falava em mudar de trabalho, mas não só de
mudar de local de trabalho simplesmente. Falava em mudar de área, mudar de
profissão, sabe? E já tinha feito isso uma vez. Encantador... (o processo de
vida, tá. O rapaz deixou de ser... Por outros motivos, mas deixou. Não é mais
tão encantador assim, fez merda e nela se estagnou... não mudou...)
Consigo me imaginar assim...
Mudando o tempo todo. Fazendo
coisas diferentes o tempo todo.
E tem coisas até bem
prováveis, possíveis mesmo em um futuro não muito distante.
Penso em montar uma grife.
Sei que seria feliz com isso. Faltam-me ainda planejamento e investimento
pessoais, uma dedicação mais focada ao projeto. Mas consigo me imaginar tocando
esse negócio.
E fazendo outras coisas ao
mesmo tempo.
Como também consigo me
imaginar trabalhando em casa, coisa que eu adoooro!
E fazendo outras coisas ao
mesmo tempo.
Também adoraria ter um restaurante
“quintal de casa”. Íntimo e intimista, caprichadinho e bem cuidado. Ambiente
informal, mas elegante, com as minhas loucinhas todas diferentes misturadas,
slow food feita com amor, pratos criativos feitos conforme a oferta de
ingredientes disponíveis na geladeira e não conforme a demanda. Bebidas da
minha adega.
Algo do tipo “já que vou
fazer a comida para mim, faço para o serviço também”.
Juro que eu consigo imaginar...
E fazendo outras coisas ao
mesmo tempo.
Por hora, vou mudar só o que
estou fazendo exatamente agora!
Mas volto.
... nessa casa se ouve Pearl Jam
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