Então fui ao show do Morrissey. Por tempos
achei que esse fosse um dos “shows da minha vida”. Por tempos achei que ele
fosse uma das partes de mim perdidas por aí.
E são.
E lá mesmo, no meio da muvuca, entremeada no meio
da galera, meio apertadinho, meio longinho, peguei-me chorando. Peguei-me
chorando do início ao fim.
Acho que chorei e ri durante o show inteiro...
Custei um tanto a perceber e entender por
que...
O som estava ruim. Eu via o palco de
diagonal. O bar estava longe. A cerveja estava quente. O banheiro? Nem
comento... (até porque qualquer lugar que tenha fila para entrar, seja cheio
de mulheres, abafado e sujo, é garantia obvia e natural de que eu vá me irritar).
Johnny Marr não
estaria lá.... (mas eu ia superar isso!)
O lugar (uma das grandes incógnitas da
humanidade... Tem tudo para ser o lugar mais legal do Rio! Mas é deprê... Mal
tratado, né?) estava cheio. Lotado! E isso não é garantia de que seja
legal. Aliás, muito pelo contrário...
As pessoas estão muito mal educadas. Têm
perdido a noção dos relacionamentos humanos, da educação, civilidade... Tomei 2
empurrões completamente descabidos. Quase apanhei porque, educadamente (!!!),
pedi licença para passar (?).
Muita gente besta por aí...
Dentre tantos desconfortos e “aspectos a
melhorar”, consegui manter o bom humor!
Aliás, eu estava tão feliz, mas tão feliz de
estar ali, que nada tiraria meu bom humor.
Pois então... Peguei-me chorando! De alegria
e emoção...
E ali mesmo percebi por que... Ali mesmo, em
cinco minutos ou menos, parece que fui abduzida, transposta a outra dimensão, parece
que fiz uma viagem no tempo... Ao mesmo tempo sentia-me tão “presente”.
Lembrei de muitas vezes que ele mesmo (Mr.
Morrissey, o próprio) esteve presente e me fez companhia nesta vidinha. E eu
mesma ainda não tinha noção disso.
Lembrei da minha infância, e todas as vezes
que eu balancei os bracinhos cantando Girl Afraid ou engrossei a voz
cantarolando junto com o rapaz “rush and
a push and the land that we stand on is ours; It has been before, so why can't
it be now? And people who are weaker than you and I; they take what they want from
life; but don't mention love. No - just don't mention love!”
Lembrei das festinhas pré adolescentes, nas
garagens fechadas de véspera com lona preta, e a vitrola encostada nos cantos
do quintal, onde a moçada botava discos de vinil “das novidades” – e todos
dançavam naquela vaga de carro vazia: Titãs, Legião Urbana, dávamos “xutos e
pontapés” com The Clash, e por aí vai...... Até que alguma mãe saísse da sala
com uma bandeja de pão com carne assada na mão. Até que alguma mãe aparecesse e
dissesse: - Vamos parar com isso, entrar, cortar o bolo que o tio Fulano está
querendo ir embora.
Lá também esteve Mr. Morrissey, por vezes talvez
até na hora do parabéns.
Lembrei de vários momentos de angústia
adolescente, e todas as vezes que ele estava lá comigo... Eu fui crescendo, e
ele (ele mesmo, Mr. Morrissey) ia comigo.
E quantas vezes eu berrei: “I wonder to myself, could
life ever be sane again? (…) Burn down the disco, hang the blessed DJ because
the music that they constantly play says nothing to me, about my life”
Lembrei de festinhas, rodinhas, turminhas.
Lembrei da vida chegando cada vez mais e,
junto com ela, todos seus grandes desafios.
Lembrei de momentos de dor e decepções.
Lembrei de momentos de força e superação.
Lembrei de “fases”... amigos, turmas, faculdade,
empregos, viagens. Lembrei de todas (!!!), ou quase todas, ou boa parte pelo
menos, as idas à Ubatuba. Lembrei de momentos que ri e de momentos que
chorei. Lembrei taaaanto....
Ele sempre esteve lá.
Lembrei das casas em que eu morei. Lembrei de
coisas que eu fiz. Lembrei de pessoas que eu conheci. Lembrei de amigos que
fiz, e de outros que perdi.
Lembrei de quando eu casei. Lembrei de quando
eu me separei. Lembrei de pessoas com quem eu fiquei. Lembrei de pessoas com
quem eu deixei de ficar.
Ele sempre estava lá. (ele mesmo...)
Lembrei de todos os “loneliness”, e todos os
“sorries”, e todos os “caaaaares” que eu já cantei e berrei e extravasei junto
com ele (ele mesmo... Mr. Morrissey).
Lembrei de perguntas que fiz, e as que não
fiz. Respostas que dei, as que ouvi e as que eu nunca soube.
Lembrei que a vida é breve... Lembrei que
estou aqui só de passagem. Lembrei desta passagem até o presente (tão presente)
momento.
Lembrei onde eu estava, como, quando e
porquê. Lembrei quem eu era, quem eu sou e o que tenho feito.
Tudo isso por causa de um show?!?
Tudo isso por causa deste amigo e companheiro
- Mr. Morrissey - que ali falava DA MINHA “shyness that is criminally vulgar” e cantava
comigo “how can
you say I go about things the wrong way? I am human and I need to be loved just like
everybody else does (…) You could meet somebody who really loves you, so you
go, and you stand on your own, and you leave on your own. And you go home, and
you cry and you want to die”
Lembrei que eu talvez devesse ter tomado um
lexotan (?). Lembrei de coisas que acho que eu deva esquecer.
E ali falamos
junto que “everyday is silent and grey”
e que “there is no point saying this again but I
forgive you, I forgive you, always I do forgive you” e também lembramos juntos sobre (todas) “the choice I have made may seem strange to you, but who asked you,
anyway? It's my life to wreck, my own way”
E por aí foi…
Né, não, Mr. Morrissey?
Lembrou de tudo que já fizemos juntos por aí?
E então também lembrei de onde “pode ser que
tenha vindo” tamanha sintonia e identificação... Pois, convenhamos... não faz
muito sentido!
Não sei bem quais são as afinidades… Talvez nas
promessas a si mesmo, os sentimentos de rejeição e de não-pertencimento, as
ofertas de si para os outros (e o outro que nunca sabe ou percebe), algumas
crises e angústias... Nem sei.
Nessas, também lembrei que acredito no
celibato. E que também acredito e confio mais nos animais do que nos seres
humanos.
Sei que gosto do cara! A gente deve ter vindo
do mesmo planeta...
E então também me lembrei do planeta em que
estava... (e outros pontos que acho que sintonizamos na mesma freqüência) – o
real incômodo com pessoas (?) que estavam ali na grosseria e no desrespeito ao
ser humano. Para que mesmo?
Na boa... para ir a um show destes e fazer
grosseria a troco de nada com a mocinha educada gentilmente lhe pedindo
passagem, ficasse em casa, em toda sua insignificância. Se Mr. Morrissey
soubesse dessa falta de amor à humanidade, não iria gostar que você estivesse
aqui, ô playboy babaca!
Então saio do show e a primeira coisa que
vejo é um carrinho do churrasquinho, daqueles de me enjoar antes mesmo de
passar perto. Na boa parte II... a volta à realidade é dolorida!
Aaaah, e na boa parte III.... senti falta de termos cantado e berrado rouca e
loucamente (e chorado?) juntos “end of the pier, end of the bay, you tug my arm, and say: give in to
lust, give up to lust, heaven knows we'll soon be dust... But I'm not the man
you think I am, I'm not the man you think I am, and sorrow's native son, he
will not rise for anyone” ou então “why
do you come here? And why do you hang around? (…) when you know it makes things
hard for me?”
Entre outras…
Love you. Mr. Morrissey!
Ainda que o meu senso de realidade tenha ficado
completamente distorcido.
Ainda que meus sentimentos sejam um vulcão em
erupção (!!!), mas no meio do deserto...
Ainda que eu nem saiba bem porquê.
Imagino que o sr, esteja bem feliz de ter estado
aqui comigo novamente (!), desta vez ao vivo, “missa de corpo presente”. ;)
E é... é verdade: “no, it's not like any other love. This one is different - because it's
us. We can go wherever we please and everything depends upon how near you stand
to me” ;)
E a melhor parte?!?! A de berrar por dentro,
de cantar com a alma “I really don't know
and I really don't caaaaaaare (…) yes, we may be hidden by rags, but we've
something they'll never have”.
Pena não
termos feito isto ontem (mas o sr. sobrevive, fique tranqüilo!)
... nessa
casa se ouve Foo Fighters
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