Ontem fui a um show, e chorei-rindo por quase
2 horas, acho...
Dormi feliz.
Cansada, mas feliz.
Pouco, mas feliz.
Sonhei com um vestido que se desmanchava
sozinho... Como um tricô sem o último ponto. Eram dois vestidos. Lindos, mas
lindos de doer. Eu apenas pensei, mas era como se eu perguntasse para alguém: -
posso vestir?
A resposta, que não era falada, era uma
aceitação, uma concordância, uma anuência, veio por todos os poros. Peguei um
dos vestidos. Liiiindo! Ele estava inteiro, mas quando eu o vesti a trama
começou a se soltar, e aquele fio grosso escorrendo pelas minhas pernas virava
um emaranhado sobre o chão, resumidamente... Emocionante!
Poucas vezes lembro o que sonhei tendo
dormido pouco...
Acordei achando que ainda era sonho... Meio
que acordei, meio que queria continuar dormindo. Parecia continuar sonhando,
mas o sonho era outro, e me agarrei!!! Mal sabendo em que.
Acordei com uma sensação de ressaca
estranha...
Não era uma ressaca de bebida, não era uma
ressaca familiar ou conhecida. Não era uma ressaca como se espera que ela seja.
Senti-me esquisita. Senti-me errada e
errônea. Senti-me como há tempos não me sentia, e isso não estava de todo
confortável....
Incomodou. Senti-me como se incomodasse os
outros. Senti-me esquisita sim e, ao mesmo tempo, pela metade. Não me entreguei
(de novo!) como o faço... Não me entreguei como gostaria de fazê-lo (mas não
vou admitir nunca...), não me entreguei com tudo que tenho e posso e faço (e
quero... mas isso também não vou admitir nuuuunca...) ...
Ao mesmo tempo, também me senti feliz.
Um misto de estranhamento com satisfação. Uma
ressaca de um choro, talvez. Uma ressaca de uma realização e satisfação, talvez.
Um susto e uma sensação de ser pega de surpresa que só confundem mais as
coisas....
Acordei de um choro.
Acordei de um sonho.
Acordei em um susto.
Andei. Zanzei. Andei para lá e para cá...
Enfiei a cara na água, como se fosse uma pequena bica em algum riacho no meio
do mato.
Já estava clareando e a lua continuava enooorme,
brilhando como um holofote. Iluminava a casa como se fosse o sol a raiar. E eu
ainda tentando entender tanta coisa...
Busquei trazer um pingo de razão e coerência.
Busquei entender o que estava acontecendo.
Zonza, desnorteada, confusa...
O show, que tanto me fez chorar, também fez
mexer em arquivos de backup de todos os arquivos passados, de tantos fatos, de
tantas emoções, de tantas histórias.
O sonho, que eu ainda me esforçava em
lembrar, parecia tão real, e tão revelador e, ao mesmo tempo, tão confuso.
O susto... Aaaah, o susto! Apesar de eu
adorar surpresas, e adorar ser pega de surpresa, e adorar a imprevisibilidade
das coisas, assustou mais do que deveria. Um momento que eu chamo aqui de “surra
em cachorro morto”... Quando você não consegue nem ter reação, não consegue nem
entender bem o que está acontecendo e nem ter nenhum tipo de atitude consciente,
sabe? Assustou e chocou. Assustou e (me) travou.... um bloqueio incômodo, um
embaraço. Um peso que eu não queria carregar.
Acendi a luz. Acendi um cigarro. Liguei o
rádio.
E quando eu falo que “o cosmos se comunica e
se manifesta na ordem randômica das músicas” parece uma piada... (uma piada de
gosto duvidoso e de uma ironia divina tão sagaz quanto safada). Parece uma
mentira esdrúxula com cheiro de laquê, uma trilha demodê de novela dos anos
80...
Por lá estava ele, Rod Stewart e “Da Ya Think I'm Sexy”...
Fazer o quê?
Continuar com um gosto
seco na alma e um peito apertado no meio desta e da vida em si no dia que
começava? E a mente inquieta tentando acondicionar idéias coerentemente?
Continuar “tentando entender”, “tentando entender” e “tentando entender” tantas
coisas que não fazem o menor sentido?
Eu estava brava (muito
brava) comigo mesma.
Ao mesmo eu também queria
me abraçar.
Eu estava na ressaca com
gosto de lágrimas e risos.
E também estava feliz, e
eu também estava adversa...
Eu queria estar ali e ao
mesmo eu queria evitar que o estivesse.
Eu, que nem de relance,
sentia-me sexy, ia fazer o quê?
Fazer o que mesmo?
Fiz diferente, sem nem
perceber ou atinar no momento. E de repente me vi no meio da casa, com os
bracinhos para cima e os quadris de um lado para o outro, e dançava e dançava e
dançava com aquele “tarãrã-rãrã, tarãrã-rãrã” de tecladinho-disco-da-calça
pantalona...
E tanta alegria desse
momento-desapego se confundia mais e mais com tanta aflição e agonia
concentradas.
E assim começou o sábado
por aqui.
... nessa casa se ouve John
Dee Holeman
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