sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Falando e andando

Seguia pela rua, meu caminho habitual, aquele “olhar estrangeiro” que por vezes acompanha a cidadã aqui...

É... Porque normalmente são só 2 posturas e atitudes... Ou estou super concentrada em tudo que vejo e sinto, por tudo e todos por onde passo, num mapa urbano que rastreia, identifica e reconhece tudo que há. Do tipo... em questão de segundos estou sabendo quantas pessoas estão vestidas de vermelho na praça, quantas câmeras existem presas aos postes e o que elas estão vendo, quantas pipocas há em cada carrinho, há quanto tempo provavelmente foram feitas, porque tem latas pelo chão, quem está de passagem e quem está esperando alguém, quem é esse alguém que está chegando, quantas lâmpadas queimadas há no letreiro e porquê, quem e como pintou aquele letreiro, o que ele tentou dizer com isso e o que provavelmente ele consegue, porque há tantas tampinhas de caneta pelo chão, mais uma carta de baralho perdida pela cidade, para quem devem ser as flores na mão do menino, de onde vieram essas flores, se o ônibus passou faz tempo ou se acabou de sair, o que fez aquela senhora não combinar aquela calça enfiada no rabo com aquela blusinha horrorosa, e por aí vai...

Ou estou completamente obsedada, em outro estado de espírito mesmo, alheia ao mundo lá de fora total... Mal sabendo onde estou e para onde mesmo eu estava indo, olhando o mundo lá fora com meus “olhos de estrangeiro”, como se visse o mundo pela primeira vez, como se eu tivesse acabado de chegar de outro planeta, num reconhecimento de território nunca antes visto...

Eu estava neste estado.

Então, como acontece algumas vezes, alguém encosta na minha orelha, e cochicha de um jeito literalmente invasivo: “gostoooosa”.

Carái.... Eu mal vejo o que aconteceu. Só sinto o vulto se afastando e indo embora. Nem olho para trás para não correr o risco de parecer que eu estou dando corda para a figura. Aliás, nem olho para a figura. Podia ser o Johnny Depp pelado e dançando rumba que eu não estava nem vendo, ali no meu estágio abstração-total-de-ET-recém-chegado-nesse-mundo. Aperto o passo e saio logo dali. Um chacoalhão me trás de volta ao mundo e levo um tempo até entender “que pása, chico”...

Sim, por mais bizarro que isso possa parecer, acontece algumas vezes...

E eu juro que não entendo...

Minha primeira reação é pensar “como é que ele sabe?”. Há, há, há...

Sim de novo. Pois, 'por mais bizarro de novo' que isso possa parecer, eu realmente penso isso, e começo a rir sozinha... Uma risadinha sacana que acho que só eu conheço.

Depois entra um pingo de racional para pesar na balança... Eu estou bem vestida. Bem vestida não só no sentido elegante da palavra, mas eu estou “quantificadamente” vestida. Não estou ‘exposta’, estou cobertinha, elegante na minha simplicidade.

Não sou o tipo “gostoooosa”, de chamar atenção na rua, de bundão socado na calça da gang, um cafona sapato plataforma branco e megahair loiro e liso para fazer volume e ocupar espaço com meus piolhos de plástico. Sou discretinha... Do tipo que passa despercebida. Meio perua-light-com-layout-exclusivo, estilo “rock ´n roll meio nonsense”.

Mas chamei...

Vai entender...

Aí cai o pingo de racionalidade número 2...

O que passa na cabeça do cidadão para sair por aí cochichando no ouvido de alguém que ele nunca viu na viu na vida, para se dirigir a um desconhecido na rua para sussurrar “gostooosa” no ouvido dessa pessoa?

Faz algum sentido?

Isso acontece com você também?

Ou é só comigo mesmo? Sina de “pára-raio de maluco”?

- Aahh.... – então alguém levanta a mão ali no fundo, e balbucia buscando coerência – Vai ver se trata de uma pessoa expressiva, comunicativa, que quer falar o que pensa e sente, e o faz.

- Opa... Muitas vezes eu sou assim também. Nem por isso vou andando na rua, chegando no cangote das pessoas e falando: Gostoooso! Cafona! Desordenado! Burro! Lindooooo! Lerda!
Não faz sentido... É muita ‘expressividade’ para uma pessoa só.

- Aaahh... Vai ver ele não faz isso sempre ou em todas as circunstâncias, mas quis falar isso para você, para não perder esta oportunidade única.

- Mas ele nem sabe quem eu sou... Nem sabe que eu sou mesmo gostosa. Nem vai saber....

- E?

- E aí que ele podia se meter em encrenca com tanta “expressividade”... E se eu fosse mulher do delegado marrento, atacado e ciumento?

- Não, acho que não... Decididamente, você não tem cara de mulher-do-delegado-marrento-atacado-e-ciumento...

- E se eu fosse um travesti extremamente bem caracterizado, e o pegasse de surpresa... Na hora em que ele quisesse ver a pombinha encontraria o gavião?

- Hummm... Também não cola.

- E se eu estivesse de TPM e virasse com 3 palavrões e 2 tabefes atrás da orelha, rapá...

- Aaahh.... Agora você falou uma verdade, dona senhora complicada e perfeitinha. Mais provável, mais provável... Mas se vê que o cara é ousado, se dispôs a correr altos riscos só para ter ver com alguma cara desconcertada...

- Não é muito esquisito? Não é mesmo de se estranhar?

- Quer saber? Devia ser algum amigo seu tirando onda com a sua cara... E você nem olhou para trás para falar com ele. Antipática...

- É capaz... Ontem mesmo, na plataforma do metrô, passei por uma figura queridíssima. E se ela não tivesse me segurado pelo braço acho que eu nem a teria visto.... Putz, é por essas aí que eu vou ficando com fama de antipática... E na real é que sou meio de outro planeta mesmo...

- Então se liga, fofa! A hora que um bonitão pelado dançando rumba passar do seu lado você não vai nem ver...


... nessa casa se ouve King Crimson

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A primeira vez a gente nunca esquece

Fui à Nutricionista pela primeira vez na vida!!!!
Estava contando os dias para a consulta, estava numa alegria só, na maior excitação, feliz da vida mesmo por ir então a uma nutricionista. Acho que um tanto pela sensação de “estar cuidando de mim” de alguma forma, de fazer algo para meu bem, sabe? E mais um tanto pelo prazer da descoberta, pela oportunidade de esclarecer coisas, tirar dúvidas e ter respostas para algumas coisas que eu não tivesse descoberto sozinha. Pois bem, eu estava toda eufórica por ir à nutricionista...
O tamanho da minha decepção foi proporcional ao de tanta excitação...
Ai, ai...
Tá... Não serei indelicada nem malcriada, não vou dar nomes aos bois, e também vou tentar não julgar demais as pessoas... Mas que fiquei decepcionada fiquei, mas que saí de lá com cara de cu, descrente, descreeeente da potencialidade dos profissionais brasileiros, da humanidade e de tantas outras coisas, saí...
Alguém já foi ao nutricionista?
Encontrou respostas para algumas coisas que procurava?
Teve orientação direcionada e específica sobre coisas a fazer?
Sentiu-se seguro, confiante e acreditando que aquilo pudesse ser o melhor a ser feito?
Pois bem, cheguei logo me apresentando, das formas que pude e achei conveniente.

Levei minha batelada de exames recentes, sangue, glicose, uréia, creatinina, lipidograma, hormônios e mais uns 15 outros com nomes em siglas de sei-lá-mais-o-que-são... Dá para me conhecer por dentro, de uma forma química ou física, penso eu... Para me conhecer por dentro de outras formas, comecei a falar... A anamnese mesmo, né. E tentei fazer um rápido apanhado de informações relacionadas direta ou indiretamente à minha alimentação, e outros hábitos que fazem a diferença no meu corpicho, por dentro ou por fora.
O ‘x’ da questão é que tenho uma forma muito peculiar de lidar com tudo... isso. Digo que me “automedico”, mas como não é medicação, é alimentação, pode se dizer que institui formas próprias de direcionar ou guiar minha dieta... Mas também não acho de todo distante de ‘medicação’... O histórico familiar é de uma turma de malucos especial, que inventa ou cria formas próprias de ser, viver e estar neste mundo... Lembro de papai, por exemplo, que toda vida disse que “não precisávamos de remédios, precisávamos nos alimentar corretamente” e que, quando não nos alimentássemos direito... em caso de doença, “para tudo há um chá certo que resolva”. E assim vamos... eu cá, e ele lá já com seus 83 aninhos, firme e forte como um tourinho!

Contei que não como carne, mas gostaria de saber mais e melhor sobre outras fontes e compensações de proteínas. Contei que parei de tomar leite aos 21 anos (já faz tempo.... mas abafa o caso) porque achei que já havia atingido o auge da minha formação cálcia, mas que como queijo vez ou outra. Contei que como como uma draga, em grandes quantidades mesmo, e que acho que sou magrelinha porque “a forma do bolo era essa mesma, e saíram todos magrelinhos”. E também que, se fico muito tempo sem comer, emagreço... Os anéis caem dos dedos, a calça cai da cintura, metabolismo de criança.

Fui respondendo algumas perguntas...
- Menstruação?
- Normalíssima. Dia e hora para chegar, do mesmo jeito há mais de 20 anos.
- Evacuação?
- Normalíssima. Todo dia, do mesmo jeito, na mesma hora. E de preferência no mesmo lugar...
Ela começa a “querer achar doenças”...
- Olha, se você não come carne, deve ser anêmica...
- Trouxe meus exames, vamos conferir.
- É, tudo certo... Humm, então se você não come açúcar, certamente é hipoglicêmica. Por isso então deve ter tanta fome e fraqueza. – Fraqueza? Sim, ela disse isso.... Certamente? Sim, ela disse isso....
- Trouxe meus exames, vamos conferir.
- É, tudo certo também.
- Olha... Não vim aqui porque estou doente, nem sinto que tenho nenhum distúrbio. Queria mesmo é uma orientação profissional, quero saber se estou fazendo a coisa certa, se preciso de algum nutriente diferente em meus cardápios, essas coisas.
Bom... Já sou meio linguaruda por natureza... Eita, bigmouth strikes again...O que às vezes me deixa em algumas saias justas por aí. Quer dizer, deixo os outros em saias justas também... Também falo meio sem medir palavras, com freqüência, quase sempre,  muitas vezes dou umas patadas, e nem percebo que o fiz. Falo a verdade ou não falo nada. Meeeesmo. Aí fico quieta como um monge (monge mudo, eu digo), acho que chego até a cerrar os lábios e fico quietinha, mudinha-da-silva...

Percebo também que desde que comecei a meditar regularmente, passei a falar mais sobre meus sentimentos, impressões e opiniões. De forma honesta, sincera. Não quero perder a oportunidade de me expressar. Mas com isso, passei também a tentar me policiar muito mais... “É a melhor forma de eu dizer isso?”,Eu dizer agora o que eu acho ou penso a respeito, vai melhorar a situação?”, “Vai fazer diferença na vida dessa pessoa eu falar o que estou sentindo?”.

Então, com a licença no jogo de palavras, podo a mudinha aqui...

A nutricionista começou a prescrever a dieta recomendada...
- Primeira coisa, carne. Para você não ficar fraquinha.

Sim, mantive a linha...
Sim, segurei a língua...
Não, não falei nada constrangedor para ela.
Sim, percebi que não valia à pena argumentar... E que “fraquinha” era ela. Como profissional, que não leva em conta fatores subjetivos, mas que segue, repete e reproduz ‘padrões’ (?), praxes, normas (?) e tabelinhas.

Para ficar mais fácil entender o que aconteceu por aqui, vou reproduzir mais ou menos como foi o papo, seguindo alguma ordem do diálogo, e (colocando entre parênteses o que eu deixei de falar ou simplesmente pensei na hora, ok?)

A nutricionista começou a prescrever a dieta recomendada...
- Primeira coisa, carne. Para você não ficar fraquinha.
- Eu não como carne. Não quero passar a comer. (Fraquinha? Eu? Fraquinha é a senhora, sua limitada... Eu falei que não como carne, lembra?)
- Mas precisa. Para não ficar fraquinha.
- Não, não “precisa”. Também por isso vim a uma nutricionista, para me indicar como equilibrar melhor minhas fontes de proteína. Para me recomendar fontes alternativas, para me dizer se o que estou comendo é suficiente e está de bom tamanho. (tudo isso mesmo que falei, mas seguido de um “porra!” enfático no final)
- Uma vez por mês, carne. – E ela ia falando e anotando na folhinha da minha dieta... – Você não disse que come carne uma vez por mês? Então, é assim que vai ser. Carne uma vez por mês.
- Não, não é “assim que vai ser”. E não. Eu não disse que como carne uma vez por mês. Eu disse que, quando eu comia carne era em média uma vez por mês. Muitas vezes até por falta de opção, não por vontade. E eu parei novamente, não faz mais parte da minha dieta. (Você ouvia mesmo enquanto eu falava? Eu não suporto ter que falar a mesma coisa mais de uma vez... Ai, ai... eu expliquei tudo tão explicadinho, você nem me ouviu?)
- Mas pre-ci-sa. Para não ficar fraquinha.
- Não sou fraquinha.... Tenho, inclusive, o braço igual ao da Madonna. Sou bem disposta, sou saudável, sou fortinha até em não pegar gripes à toa por aí. (E ninguém “precisa de carne”. Na verdade, o organismo humano foi feito para ser vegetariano. Sabe como funciona o nosso intestino? Sabe que tamanho ele tem e por quê? A humanidade é que se desvirtuou pelo meio do caminho, em algum momento... E instituiu hábitos alimentares e culturais com essa depravação carnívora. Sabia? Nutricionistas não aprendem estas coisas?)
- Está anotado aqui. Carne uma vez por mês.
- Hu-hum... – Pronto. Fiquei muda. E acho que fiz aquela cara de “pode anotar aí, não quer dizer que eu vá seguir”... (e foda-se você). E acho que ela percebeu.
- Olha, se você não quer comer carne todo dia, vai ter que comer 1 vez por mês (Faz algum sentido o que essa mulher está dizendo? É isso mesmo? E é assim que se fala? Parece uma mãe ignorante fazendo chantagens... Meu Deus, coitados dos filhos dela. Devem ter crescido com ela dizendo que para serem "fortinhos" tinham que comer “bifinhos”, “carninha”... Tentando botar doçura e poesia, chamando o bicho no diminutivo... Fazendo essa cara de garota propaganda de família-margarina. Socorro!!!!) E nos outros dias vai comer então frango, leite, ovos, queijo.
- Não, peraí.... Eu não como carne, incluindo frango. E não tomo leite. Ovos? Não como ovos... Talvez vez ou outra, na rua, na massa de alguma coisa... pão, quiches, bolo, em alguma sobremesa. Mas não compro ovos, não fazem parte de meus pratos. (na verdade, tenho certo nojo de ovo... mas não vou falar disso com a senhora, não... Sabe o que é um ovo?)
- Tem que ter proteínas. E o leite é pelo cálcio, não devia ter parado de tomar, não. Já está muito tempo sem leite. abafa o caso, de novo...
- Olha... Na minha lógica, mamíferos tomam leite enquanto estão na fase lactente. Depois disso, todos param. Exceto os humanos??? Eu ainda prolonguei beeeem esta fase, fui até os 21 anos, por achar que talvez precisasse de cálcio na minha formação óssea. Cresci o que tinha que crescer, e parei. Não faz sentido ficar tomando leite. Já passei da idade. Ainda mais leite de vaca, de uma mãe que nem é minha... É hormônio da vaca, para alimentar o bezerrinho. Não é isso? Só me rendo aos queijos mesmo, por pura tentação... Mas é tão esporádico... Não é “elemento nutriente” da dieta do dia a dia, entendeu? É puro prazer, não é necessidade. Sei que nabo é rico em cálcio, mas não conheço muito mais outras coisas para compensar. Por isso vim aqui...
- Se você não tomar leite vai ter fraqueza óssea. Pode ter até uma osteoporose precoce logo, logo.
- Tem alternativa?
- Soja, você come soja?
- Sim. Muito. (Por isso talvez eu seja tão calma... Ó, ó... nem explodi com a sra. ainda... Como muito, dizem que é bom para TPM. As japonesas comem muita soja. Já viu japonesa de TPM? Como muita soja, sim. Mas é difícil achar as de origem não transgênica... tem que ser cauteloso com as sojas que há por aí... Mas, sim. Acho que como muita soja). E então continuei:
- Só isso? Nenhum legume, nenhuma verdura a mais? Ó... Como muito as coisas verdes, alface, agrião, couve. Isso é bom para quê? Preciso aumentar a dose? Equilibrar com o quê?
- Precisa comer de tudo um pouco. Não pode comer só isso.
- Eu não disse que como só isso. Eu disse “como muito”... Nem sei se é muito... Como umas 2 vezes por dia. E também que não sei para que é bom. Olha, podemos fazer um apanhado geral atualizado. Eu te conto o que normalmente como, é isso? Hummm, vamos ver... De manhã eu faço uns 2 sucos ou vitaminas diferentes, um mais “fresco” e um mais “doce”. O fresco eu bato verduras... agrião, couve, alface, com alguma coisa, tipo laranja, mexerica, limão. O outro é basicamente de frutas: banana, maçã, manga, morango, mamão, menos cara de suco, mais cara de vitamina mesmo. E boto levedo de cerveja sempre.
- Não pode comer só isso. De manhã tem que comer pão, manteiga, você come essas coisas? Levedo de cerveja para quê?
- Complemento vitamínico, não é bom? Só não sei se a dose é boa... Mas sempre como, se eu não bater no suco, boto na comida, na sopa, sacou? (olha, fofa... meu prezado ex marido, que era sábio, na primeira vez que me viu fazendo isso perguntou “que raio de pozinho de pirlimpimpim é esse que você bota em tudo quanto é lugar?”. – “levedo de cerveja”. – “ah tá, não sei o que é, não... mas se é de cerveja, deve ser coisa boa”). Levedo de cerveja é bom para quê? Qual a dose diária? É com isso mesmo que eu posso complementar em vitaminas? E não como pão com manteiga de manhã, não...
- Tudo errado. Tem que comer pão com manteiga. Queijo...
- Para quê? Carboidrato e proteína? Energéticos? Ó... Como “comida de esquilo”, umas nozes, castanhas... Quase sempre como bolo, bolinho integral, sabe? Sem leite, sem ovos, sem açúcar. Mas boto mel por cima, que nem calda. E muitas frutas, né? Frutas têm sacarose. Fonte de açúcar, não é?
- Mel? Mel, não...
- Não? Não é bom? Como eu não como açúcar, compenso com outras coisas. Não está certo?
- É que eu não gosto de mel.
(Aaaahhhh... então a sra. indica o que gosta e o que não gosta? Em função de escolhas pessoais, e não em função do perfil e necessidades do seu paciente, sua churrasqueira fdp? Faz diferença eu lhe contar sobre meus hábitos, minhas escolhas, minhas opções pessoais, ideológicas, filosóficas, religiosas? Faz diferença eu tentar dizer de novo que não sei se estou fazendo a coisa certa da melhor forma possível, por isso vim atrás de orientação. A sra. vai me orientar a comer o que você gosta???)

Bom... A consulta ainda levou um tempo... Até falei um pouquinho mais sobre minhas coisinhas, né... Mas acho que em vão. A dra. seguiu uma tabela de peso x altura x idade e disse que estou magra para o contexto. Ok, acho que já sabia... sou magra, mas sou gostosa!
Disse que é para eu comer carne e voltar em 1 mês.

Está na cara que eu não pretendo fazer nenhum dos dois...

Trouxe para casa um papel com “a dieta”, que nada mais me diz além de que 2 + 2 = 4. Algo do tipo, “legumes = batata, cenoura, abobrinha”, “grãos = arroz, lentilha, feijão”.
Putz... Ninguém merece.

Eu que queria saber coisas que não aprendi na escola, nem na faculdade, nem na vida... Como se meus suquinhos de alface com morango, de agrião com pêra, e tudo mais que meu super-mixer me proporciona, são mesmo bons ou se uma coisa anula as propriedades da outra...
Putz... Ninguém merece de novo.

Alguém me indica uma nutricionista!!!

Mas dessas que sabem o que estão fazendo, que têm argumentos para suas crenças ou posturas, que têm a mente e o coração abertos para ir além de uma tabela, e que sabem fazer uma tabela própria e por conta própria. Das que ouvem e assimilam o que seu paciente está dizendo. Das criativas, que vão fazer a alegria da cozinheira.


No aguardo. Atenciosamente, DR


... nessa casa se ouve Radiohead

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

plantão de notícias

Ninguém pediu minha opinião, estou sabendo... Mas vou dar mesmo assim.

Para não ouvir de novo que meu blog é “muito umbigo”, para não parecer que sou de todo alheia ao que acontece no mundo lá fora, para trazer à tona assuntos modernos, atuais e contemporâneos (assim como eu) sob uma única e exclusiva forma de vê-los, (a minha).

Jogo rápido... poucas palavras, opinião imediata.


Sobre a greve na França

Estou achando o bicho!!!! Estou passando até a acreditar na humanidade novamente. É isso mesmo, queridos! Estou com vocês, têm meu apoio!!!

Tomara mesmo que dê frutos, tomara mesmo que haja coerência e respeito por parte dos governantes ao ouvir a população. Tomara que todo cidadão seja consciente de suas opiniões a respeito de algo, e que saiba reivindicar por elas. Tomara que toda sociedade, todo povo, e que todo ser humano, saiba de sua capacidade transformadora em agir em conjunto para suas pleitear seus interesses.

Tomara que a população brasileira, quando se sentir preterida nos encaminhamentos dados pelos nossos governantes, saiba protestar, agir e pressionar!

Coisas que eu ainda não entendi: Por que a mídia dá tanta ênfase às “manifestações violentas” e “atos de vandalismo” em detrimento à impecável demonstração democrática de uma voz? Por que será que tantos jovens, que provavelmente nem ‘começaram a trabalhar’ na vida, defendem os interesses populares da aposentadoria desde já?

Se liga, Sarkozy!!!! O “arruaceiro” aqui é o senhor...




Sobre os mineiros do Chile

Primeiro, eu acho que eles não tinham n-a-d-a o que fazer lá embaixo da terra, 700 metros enfiados buraco adentro... Não sei do que era a mina, não... Cobre, talvez? Mas, independente do que seja, acho mesmo que não há mais recurso natural não renovável que precise ser explorado dessa forma neste planeta! Que não há mesmo a menor necessidade de ainda existirem jazidas, minas e outras fontes de exploração desordenadas e desumanas atuando sobre o planeta!

Não tinham nada que estar lá embaixo... E ponto!

Bom... Mas, uma vez lá embaixo... Que o processo de ‘soterramento’ parece-me ter sido caótico e equivocado, parece... Que os responsáveis pela mineradora parecem-me terem sido omissos, parece.... Que o Sr. Piñera parece-me ter sido um grande oportunista com o “big brother dos mineiros”, parece... Que os rapazes foram mesmo guerreiros, verdadeiros heróis da sobrevivência, isso são.

Coisas que eu ainda não entendi: Por que, depois de quase 70 dias enfiados toca abaixo, sem infra, numa vida paralela quase inimaginável, todos os mineiros vão saindo com uma bandeira do Chile e uma camiseta de time de futebol???

- Ora, Dani... Os familiares enviaram coisas lá para baixo.
- Aaaahhhh..... Algo do tipo: Minhanossa! Meu marido está enfiado num buraco que chega quase na China. Não sei se ele vai sair de lá, se vou vê-lo novamente, se ele está bem, se ele está precisando de alguma coisa.... Mas puxa! Que bom! Tenho a oportunidade de lhe enviar algo.... Já sei! Vou mandar uma bandeira do Brasil para ele!

Juro que não entendo...

Conversei com uma amiga outro dia sobre isso... E ela comentou também que ficou surpresa em ver como eles “sairam bem”, com caras boas, saudáveis. Ela achou que eles fossem parecer fracos, debilitados, combalidos....

E de repente começam a pescar mineiros e eles vão aparecendo... Cheios de graça, cheios de onda, bem nutridos, corados (?), sorridentes, fizeram a barba, passaram água velva, camisa do “framengo”, aquela cara de calçadão de copacabana, óculos new age, com pinta de “vou pegar minha mulher pela cintura, entrar no Escort XR3 conversível e vamos a la playa,oh, oh, oh, oh, oh

Fantástico!


Sobre as eleições

Putz... Acho que tenho coisa pacas a falar. Mas ficou tardão, vou deixar para outra hora....


Sobre o clima

E aí, friozinho, né?





... nessa casa se ouve a trilha do Kill Bill

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Óculos? Eu?

A garrafa da cachaça é igual à de azeite...
Já ameacei botar cachaça na sopa, já botei azeite no copo...
Ai, ai... Então descobri que, por serem tão parecidas, não podem ficar uma perto da outra... Curioso, isso...
Será o design de embalagens que continua me instigando, ou sinais divinos que eu preciso de uma companhia calma, paciente, centrada e zen?


Então me lembrei de um papo com uma amiga outro dia...

- Pois é... Acho sim que tenho visto discos voadores. Mas é direto, constante mesmo. Quase todo dia vejo uma luz deles por aí.
- Nooooossa Dani.
- É... É que tenho parado pouco para olhar para o céu. Mas quando olho, sempre vejo.
E então paramos um tanto a caminhada. Atravessávamos a Marina da Glória a pé, à noite, numa calmaria que só... Olhamos juntas para o céu, e... Eu logo comecei a gritar:

- Olha lá. Olha lá!!! Não falei? Está vendo? Está vendo? Você está vendo também?
- Porra, Dani!!!!! Aquilo é um avião!!!!! Você está precisando meeeeeesmo usar óculos.


... nessa casa se ouve Mano Negra

domingo, 17 de outubro de 2010

Departamento de Gestão de Expectativas e Conferindo Contrapartida

Outro dia saí com uma amiga.

Ela iria "conferir contrapartida"... E eu fui junto. Pela companhia e pelo prazer do passeio.

Mas era um programa com algo a mais.... "Conferir contrapartida”... Eu achei esse nome ótimo!!!

Muito interessante... é o outro lado da moeda do que faço muitas vezes.

Mas o mais curioso era mesmo esse nome... É excelente, fantástico! Já ampliei a área de atuação e abrangência e acho que vai entrar em meu vocabulário...

Depois que institui por aqui o "Departamento de Gestão de Expectativas" minha vida mudou... Este entrou para o (rico e farto) glossário-de-danizinha, e pimba! Satisfação garantia ou seu dinheiro de volta!

- Ah sim, claro! Só um momento, "estou encaminhando" (porque as atendentes, mesmo sendo de um departamento tão rico culturalmente e deveras interessante, "continuam insistindo" em falar no gerúndio) - estou encaminhando este caso para o Departamento de Gestão de Expectativas e lhe dou retorno em breve com o melhor encaminhamento para o mesmo, ok?
Ou então...

- Olá! Não desligue! Sua ligação é muito importante para nós. Estamos encaminhando (olha ele aí de novo...) sua solicitação para o Departamento de Gestão de Expectativas, e tomaremos as medidas cabíveis para a solução deste caso.

Incrível, não?

E a equipe do Departamento de Gestão de Expectativas é das que mais rala por aqui... Além de ser uma equipe altamente qualificada, experiente, atenta e sagaz, é das que mais rala, sem sombra de dúvida!

Agora... As coisas não são assim tão fáceis, nem tão simples como parecem...

Na maioria das vezes vêm acompanhadas de contextos que não são dos mais confortáveis nem agradáveis...

- Ah sim, claro! Só um momento... Corri pacas o dia inteiro para conseguir uma brechinha para jantar com você. Estou prontíssima, de batonzinho e depilada, inclusive. Morreeeeendo de fome, te esperando há mais de 3 horas e agora você liga para dizer que não vem??????
"Estou encaminhando" este caso para o Departamento de Gestão de Expectativas, e sua renomada equipe “vai estar cuidando” dos melhores procedimentos para a resolução do ocorrido. Entraremos em contato em breve, dando retorno sobre o melhor encaminhamento para o mesmo, ok?

Pronto... Não desceu do salto nem borrou o batonzinho, não soltou nenhum palavrão, não ofendeu ninguém.

Quer ver outra?

- Olá! Não desligue! Sua ligação é muito importante para nós.
Casar? Casar de casamento? Ahhh, com a outra... Ah sim, claro! O senhor pode "estar ficando tranqüilo", a equipe do Departamento de Gestão de Expectativas é altamente qualificada, trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana, e tem todo o gabarito para solucionar com tranqüilidade e sabedoria este caso.

Simples, não?

Fica mais leve... Fico mais leve.

DGE, já carinhosamente apelidado, é alívio garantido!

Sim, a gente sobrevive, a gente sobrevive...
Manda despachar no Departamento de Gestão de Expectativas, relaxa e não goza, ok?
Depois que percebi que não sou avulsa, nem disponível, muito menos encalhada, ando tão feliz.... Sou criteriosa, sim, é verdade. Sou gata e escaldada, sim, também é verdade. E então, talvez até por isso, não quero mais qualquer porcaria, não.
Tão bem resolvida e vai continuar insistindo em sair com outro zé-arruela?
Tão bem resolvida que tem até um próprio Departamento de Gestão de Expectativas!

Melhor que isso só se “conferir contrapartida”...

Uau... “conferir contrapartida” era mesmo o que faltava!!!

Como não pensei nisso antes?

É nóis... As diretorias mais eficazes desta que vos fala: “Departamento de Gestão de Expectativas” e a determinada e apurada “Equipe de Conferir Contrapartida”.
- Mão na parede, mão-na-pa-re-de! Encosta aí!!!! Cruza a mão atrás da nuca, encosta aí, encoooosta aí! Já viu tudo e todas que lhe dei? Já viu tanta areia, andou? Já olhou que está chovendo na roseira, que só dá rosa mas não cheira? Já olhou que chuva boa prazenteira? Que o amor que tu me tinhas que era pouco e se acabou? Mão na parede, porra! Encosta aí, já falei! Não acabei de falar. E não é “sim”, é “sim, senhora”. E Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno! Fica quieto aí que o negócio agora é “conferir contrapartida”. Mão na parede!
Conferir contrapartida! Adoreeei!
- Ó... prestenção! Negócio é o seguinte, dou casa, comida e roupa lavada. Mas... Em contrapartida... Preciso aferir se você pode me levar para passear pelo menos 1 vez na vida! Uma, ao menos uma, pode ser ou ta difícil?
- Ó... prestenção! Negócio é o seguinte, fui bem tratada uma vez na vida. Não quero menos do que isso. Ganhei carinho, atenção, banhinho de banheira e um sorriso vibrante, pleno e sincero, cheio de alegria ao me ver. Não quero menos do que isso. Estou aqui só para conferir contrapartida, veja meu crachá de fiscal da SUNAB, sou atenta aos direitos da consumidora. Vim conferir contrapartida e saber se você realmente está feliz em me ver.
Noooosa! Nova mulher!

E olha que eu sou toda sentimento, hein...
Passional ao extremo, até mesmo quando não se deve...
Amo por amar. Tudo e todos. E é incondicional mesmo. Nunca pedi nem esperei nada em troca. Nem de sentimento, nem de nada. Mas acho que um belo dia resolvi mudar... Pelo menos, por hora. Pelo menos, por enquanto.



... nessa casa se ouve Charlie Parker & Chet Baker

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

no banco

200 coisas para fazer no banco... Contas para pagar, ver se tinha dinheiro, quanto, como e onde, pagar o que desse, sacar um tanto para o bolso, essas coisas.

Bancos em greve. Melhor fazer tudo num pacote só. Pegar superfila uma vez só, não deixar vencer nada que ficasse para depois.

Então a porcaria da maquininha encrenca comigo e fica me pedindo uns tais números do cartão-chave (???). Cartão-chave? Para que isso agora? Não funciona tudo certo com a minha senha? Para que mudar de idéia no meio do caminho? Para que me pedir esses tais números que eu nem sei do que se trata?

Chuto a primeira vez. Chuto a segunda. Então lembrei...

- Aaahhhh... Cartão-chave, podes crer! Aquele cartãozinho porqueira, cheio de números, parece um calendariozinho de brinde da papelaria, e que eu nunca soube para que servia... Putz! Será que ele ainda existe? Por onde será que ele anda?
A máquina trava. Não aceita mais meus palpites... Aliás, nem me deixou tentar!!! Porque uma combinação de 2 números é finita... Chata, mas finita! Irritante, mas finita! E é relativamente simples de fazer... Um simples aplicar de alguns princípios da contagem, fatorial e arranjos simples. Tudo é uma questão de análise combinatória, de possibilidades. Algo besta, chato e irritante, mas possível. Se eu levar 2 segundos a cada tentativa – piiiii, piiiii – somados ao tempo de retorno da máquina a cada vez, quanto tempo será que eu preciso ficar aqui tentando? O que eu tenho para fazer depois? Será que dá para eu ficar aqui mais um pouquinho? Sou pé quente pacas, acho que acerto nas primeiras essa porcaria-de-senha-do-cartão-chave.

Não tive essa chance...

O muuundo foi bloqueado por normas de segurança antes que eu pudesse tentar. E saí do banco com cara de tacho... Um monte de contas sem pagar, nenhum puto no bolso, sem saber se eu tinha algum no banco... Aahhh, e aflita em imaginar se o tal do cartão cheio de numerozinhos ainda existia e, caso contrário, a quem reclamar estando todo mundo em greve...

Um pingo de calma e bom senso escorre gélida e suavemente por minha testa...

- Bom, se eu não conseguir pagar minhas contas antes que vençam, pago tudo em juízo, depois da greve vou cobrar a diferença do banco.

- Bom, se meu cartãozinho não funcionar mais sem a porcaria do outro cartãozinho dos numerozinhos e eu ficar sem um puto no bolso ou tiver que lavar pratos no restaurante, pego emprestado, depois da greve vou cobrar os prejuízos do banco.
O grilo falante começa a apitar...

- Dani, querida. Veja bem... Também é uma questão de probabilidade a complexa questão da fraude em bancos. Estratégias cada vez mais bem elaboradas, pessoas envolvidas cada vez com menos escrúpulos. Quando não é o banqueiro te roubando, é o seu cartão que é clonado. Isso é para te proteger, aumenta suas chances de segurança naquilo que deveria ser teu por direito.

- É, é... Eu sei. Mas já não basta eu ter que saber de cor a senha, eu ainda vou ter que carregar mais um cartão comigo? Porque decorar aquele monte de numerozinhos combinados e arranjados que nem um calendário de brinde da papelaria eu não decoro meeeesmo!

- É uma forma de evitar a fraude... De garantir que só você terá acesso a sua conta via caixa eletrônico.

- Não podia ser leitura de digitais?

- E se um ladrão corta e rouba seu dedo e acessa o caixa com seu cartão e seu dedo pendurado que nem um chaveiro?

- Ah é... Hummmm. Identificação da íris?

- Pior ainda! Dedo pelo menos você tem vinte... Já pensou um ladrão que rouba seu cartão e seu globo ocular, e vai ao caixa eletrônico carregando aquela bolinha aninhada entre as mãos?

- Leitura de voz! Leitura de voz! Leitura de voz! E sem direito a playback, sem direito à gravação! Só vale voz ao vivo! A-hammm..... Matei a pau agora! Nooosa, eu sou uma boa especialista em segurança de acesso ao caixa eletrônico de bancos em greve, hein! Falar ao vivo: “Sou eu aqui, porra! Eu sou eu, só eu posso usar meu cartão! Eu sou eu, pagar essa conta já. Super gêmeos, ativar”.
De repente, o grilo falante ficou mudo.
 
De repente, e eu já tinha chegado ao escritório.

De repente... E então eu percebi que ia ter que revirar a casa atrás do calendariozinho...




... nessa casa se ouve Programa Biotônico